Uns funcionários,
achando-se muito espertos e metidos na função do cumprimento das leis de trânsito,
admiraram-se da bondade e cortesia de determinado cidadão. Este, instalado numa
modesta localidade, tornou-se produtor de víveres. A família, por gerações,
mantinha um excepcional conhecimento e tradição no cultivo de frutas e verduras
(sobretudo uvas próprias de mesa). A atividade econômica não proporcionava
fortunas, porém permitia a dignidade e qualidade de vida.
O proprietário, conhecido
pelo sorriso frouxo e extrema simpatia, deslocava-se semanalmente na direção do
centro urbano (regional). Este, numa rede de supermercado, comercializava e
entregava sua produção. O segredo, para manter a lucratividade do negócio,
consistia em eliminar a intermediação dos atravessadores. Uma Kombi velha, como
veículo, levava a produção e trazia as necessidades familiares. Este, nas
muitas idas e vindas, tornou-se conhecido e faz uma enormidade de amigos e
conhecidos. A pontualidade e trabalho eram marcas da sua conduta.
O cidadão, num
determinado posto de controle rodoviário policial, fazia uma gentileza ímpar. O
ato, para alegria e satisfação geral da
turma, consistia em descarregar alguns bons quilos de fruta. O pessoal, nas
caladas da tarde e ínterim dos afazeres, apreciava uma saborosa uva. A fama, da
bondade do doador, cedo avolumou amistosos comentários e revelou-se uma espécie
de obrigação. Beltrano, fulano e sicrano, na hora do lanche, agradeciam pela dádiva
e ficavam intrincados pelo interesse da caridosa alma. A pergunta frequente
consistia: “ - O cidadão deixou fruta?”
A verdade, numa certa
ocasião, adveio a tona (como surpresa). O camarada, de forma indiferente, passou
pelo posto de controle. Aquela história, de parar para deixar frutas, absteve-se
de acontecer. Ele, apressado e preocupado, dirigia-se na direção da cidade
próxima. Um conhecido policial, numa oportunidade, interrogou-o sobre o sumiço
e descaso com a outrora tradicional doação. O colonial, sem floreios e rodeios
na língua, completou: “- O colono agora tem carteira de motorista! Este antes dirigia
frio e temia ser parado numa blitz!” Os antigos beneficiados, cabisbaixos e sem
palavras, deixaram cair o queixo (com a astúcia e malícia alheia).
As práticas revelam a real esperteza e inteligência. As
doações e mimos, como dádivas, escondem segundas intenções. As cortesias
costumam ser um comércio indireto de favores. Quem, de forma direta ou
indireta, já não foi comprado ou deixou-se vender? Uma situação corriqueira,
nas democracias, dos ditos países pobres e populistas!
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano Colonial”
Crédito da imagem:http://blogdoefacil.com.br
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