A verdade anda a passos
lentos e sua reputação nem sempre é das melhores. Uns falam dela “andar a
pé na proporção da mentira andar a cavalo”. Poucos alimentam-a em
estima e consideração como princípio e valor. Muitos valem-se dela na proporção
da vantagem e descartam-na na dimensão da desvantagem. Ela, aos desonestos e
corruptos, aterroriza e contrasta com a mentira. Poucos, ao ouvi-la,
agradecem pela sinceridade (apesar da mágoa momentânea).
A tradição oral, em forma
de singela história, conta um segredo da existência. A verdade, numa imensa
estrumeira, via-se desperdiçada e perdida como ímpar pérola. Esta, com discreto
tamanho e volume, mantinha-se enterrada em meio ao material. Os
cheiros, da merda e urina da injustiça e imprudência, mantinham-a bem escondida
e guardada. As quantidades de material, dum acumulado de décadas, pareciam
jamais revelá-la. As pessoas, com raras exceções, imaginavam-a definitivamente
morta e sepultada. Alguma tremenda casualidade, com excepcional
sorte, seria unicamente capaz de localizá-la e utilizá-la.
As ingênuas galinhas, com
sua ânsia e fome por vermes, ciscavam continuamente nas imundícies.
Elas, dia após dia, mexiam e remexiam nas outroras fezes. Uma
aparente paixão e vocação inabalável de revolver. Elas, neste cisca aqui e
acolá, acabaram revirando uma montanha de material. No joga prá cá e prá lá a
terra sucedia-se durante semanas e meses. A surpresa, num momento inédito,
adveio em forma dum achado. A pérola surgiu a luz do dia. A verdade, por um e
outro momento totalmente esquecida e perdida, ressurgiu das cinzas e
do pó para vida.
Alguém, aqui e acolá,
lembra e relembra acontecimentos e histórias. Os equívocos e falcatruas, no
sonho dos autores, pensam estar bem esquecidos e enterrados. Estes, nalgum
momento menos esperado, surgem a luz dos comentários e falas. Alguém, há
semelhança da pérola da verdade, guardou o enterrado e impróprio. Estes,
podendo ter ocorrido a sete gerações, acabam desvendados e recordados. A
verdade, mesmo escamoteada e frágil, nalgum momento dá a sua graça. O
melhor, para evitar aborrecimentos e transtornos, consiste em andar no caminho
da correção e retidão.
A memória comunitária,
através da tradição oral, guarda e recorda as experiência e vivências. Certos
equívocos dá para perdoar, porém não tem como esquecer e ignorar. O conselho
consiste em fazer o bem sem jamais olhar a quem. O indivíduo não precisa muito
para viver, portanto, nada de matar e roubar para sustentar-se. O dito popular
afirma: “a verdade perpassa o mundo”.
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem: http://blog.groupon.com.br
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