quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

As moedas entaladas

         
        Dois malandros, com vistas de conhecer o consciente coletivo, resolveram inovar com algum estratagema. Eles, escondidos num prédio, afixaram valores numa rua. Os pedestres iam e vinham em meio a tentação de ganhar algum valor fácil. As atitudes e comportamentos, os mais diversos e esdrúxulos, tomaram forma.
O beltrano e fulano, diante duma empresa de fachada frontal envidraçada, resolveram colar três moedas. Elas, de um real cada, viram-se adicionados ao asfalto mole (recém colocado). Estas, afundadas no interior da camada, davam os ares da sua visualização. Elas viam-se incrustadas no pinche e a extração ostentava-se difícil. A possibilidade de coleta não passava duma brincadeira de mau gosto (com os ingênuos e gananciosos).
Os pedestres percorriam o espaço. Uns, em meio a admiração e espanto, viam aquelas moedas, porém faziam-se indiferentes. Outros, de imediato, queriam apanhá-los e nada de conseguir extraí-los. Eles, diante da observação alheia, insistiam porém caiam no ridículo. Alguns mais, em meio a desconfiança, paravam e depois seguiam adiante.
Um bom número de curiosos, de forma discreta e meio distante, já reparava o desfecho da situação. Observação atenta, das atitudes e posturas alheias, dava ares da graça. Uma turma, de uma dezena de escamoteados  caia nas gargalhada e risadas. A atitude esdrúxula de uns dava motivo de comentários e conversas. O fato desenrolou-se por uns bons momentos.
Um certo casal de idosos acorreu numa certa altura ao lugar. Estes, homem e mulher, carregavam sacolas e pareciam bastante humildes. Eles, deparando-se com o dinheiro, vislumbraram duas vezes as moedas. Queriam ter certeza de tratar-se de valores correntes. O senhor, com algum chute (com o pé direito), tentou extrair e nada de soltar. As vários unidades de sacolas abaixou e procurou pegar com a mão as ditas cujas. Nada! Mantinham-se firmes e semi-enterradas!
Ele, com sua idade avançada (estimado em perto dos oitenta), pensou um pouco. Pegou, no fundo do bolso (da calça), algum canivete. Abriu-o e, com a ponta, enfiou-o fio debaixo dos três metais. Ele, um atrás do outro em segundos, extraiu-os com a maior facilidade e rapidez. As partes limpados, puderam logo voltar ao comércio. Os expectadores perderam seu passatempo e os anciões retomaram o caminho. O casal ignorou o fato de terem sido observados como chacota e cobaias. A idade com a suas sabedorias!
O hábito de divertir-se com a burrice e curiosidade alheia mantém-se uma sina humana. Quaisquer artefatos, nos momentos oportunos, fazem uma extrema diferença. O indivíduo pode ser humilde e pobre porém jamais ingênuo e trouxa.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Urbano”

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Um modesto dom



Uma certa menina, criada nas colônias e em meio a um punhado de irmãos, precisou tomar o destino das cidades. Empregou-se, como doméstica, numa casa de conhecidos. O objetivo consistia em conciliar estudo e trabalho. O ganho básico consistia basicamente na subsistência. O dinheiro, como ganho, não passava de uns trocados de bolso.
Uns poucos anos transcorreram e conheceu um moço. O namoro tomou sentido. O trabalho, no ínterim, continuava na proporção de constituir família. Pode, junto aos estranhos, assimilar uma série de tarefas. O valor do trabalho aprendera como legado familiar. A principal consistia na arte de cozinhar. Conheceu, como excepcional cozinheira, o principal segredo da cozinha:  a qualidade dos alimentos consistia em boa dose nos temperos.
A formação de família levou a necessidade de constituir algum negócio. Fazer o que com a profissão de doméstica? Pensou e repensou a nobre função. O casal, como solução numa esquina da cidade, improvisou uma modesta lancheria. Esta, em função da qualidade da alimentação ofertada, cedo tomou a dimensão de restaurante.
A outrora doméstica, agora patroa,  vivia a aprimorar os dotes da cozinha. Ela, através da contínua prática, descobrira seu divino dom. Deus, como a cada qual, dá uma vocação. Esta tinha-a no poder dos apetitivos e maravilhosos pratos. Os fregueses ávidos, com os variados cardápios, cedo lotaram o ambiente. O ponto tornou-se referência da comida colonial. Os anos, de persistente dedicação e trabalho, trouxeram o enriquecimento e a qualidade de vida.
A fulana, diante do volume das comidas à grande clientela, cedo coordenava uma equipe de cozinheiras. Estas faziam os pratos, porém ela dava as ideias e sugestões. O dom não mais existia no trabalho prático em si e sim no controle da qualidade. A esperteza vivencial consistia: tornar uma modesta vocação num empreendimento comercial e meio de sobrevivência.
Fica a lição da escola de vida: cada qual precisa descobrir seu dom e com ele ganhar a subsistência. Os aparentes encargos cedo assumiram ares de brincadeira e diversão. O indivíduo não pode ser bom em tudo, porém numa coisa salienta-se nos conhecimentos e habilidades (junto aos demais). Precisa ganhar o seu “ganha pão” com a especialidade. Descubra a sua vocação e ganhe com ela a vida. O encargo cedo torna-se uma alegria e satisfação.
Deus escreve certo em linhas tortas”. Procure especializar-se naquilo que lhe interessa e dá prazer. O gosto e a paixão levarão a constituir algum empreendimento. A riqueza humana encontra-se na diversidade.
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem:http://www.gemacarioca.net/faenza-em-copacabana/ 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A bondade alheia



Um certo senhor, no interior das lavouras, foi ver o desenvolvimento das plantações. Estas, como eucaliptos, mandiocas e milhos, cresciam deveras. Uns poucos dias, no contexto das chuvas e insolações de verão, fizeram o desenvolvimento (em meio ao mormaço). O produtor, na prática, queria averiguar as necessidades de alguns reparos/suplementos. Alguma adubação ou herbicida para reforçar o crescimento e vigor das culturas.
As plantas estabeleceram sua lógica existencial. Elas, apreciando a alegria e esperança estampado no rosto do proprietário, admiraram-se da postura (de consideração e satisfação). O plantador, aos quatro ventos, parecia agradecer e sorrir. Os milhos, cedo conversaram entre si, sobre a tamanha felicidade. Os eucaliptos e as mandiocas, nas fábulas das plantas, explanaram sua concordância. A opinião, praticamente unânime, dizia: “ – Que homem bom aquele fulano! Faz o possível e o impossível ao nosso bem estar! Outras muitas pessoas, com o idêntico espírito desse cara, deixariam/fariam o mundo bem melhor. A desgraça e miséria certamente não seriam tamanha!”
Os animais, das suas diversificadas criações, somaram-se aos comentários e opiniões. “Que homem caprichoso e dedicado a profissão! Um legítimo empreendedor e inovador nas atividades primárias! A sua propriedade assemelha-se alguma horta/jardim! Faz tamanho bem a tantos! Apostamos que não haja contras!” As vacas, de maior longevidade, pareciam os mais contentes e realizadas. Estas, em função do leite, recebiam os melhores pastos e rações. Elas pareciam endeusar a bondade do criador e plantador. A desconfiança única residia no sumiço misterioso, da noite para o dia, de algumas parcerias.
As ervas daninhas, eliminados e sufocados como espécies, alimentavam no entanto um ódio mortal. O cidadão, sem dó e piedade, aplicava herbicidas. As capinas mecânicas eram uma constante. As sementes nem tinham nascido e já recebiam venenos. As opiniões, dos muitos adversários, versaram:“- O fulano, antes de morrer, precisaria conhecer o idêntico remédio! A esperança das vítimas era de ‘Deus escrever certo em linhas tortas’. Tudo que plantamos, colhemos lá adiante na vida”. A estada deste, no entender das daninhas, parecia um diabo personalizado e a sua propriedade um inferno em chamas.
O dono, bom para tantos ruim para muitos, pensava somente no exclusivo e único objetivo: lucro. A extrema caridade e dedicação, nas aparências, nada tinha haver com bondade e generosidade (“de bom cristão”). Este, como quaisquer outros humanos, pensava somente no dinheiro. A necessidade/obsessão era angariar/ganhar para cumprir os seus muitos débitos e encargos. O aparente bem alheio, na prática, não passava de preocupação com a fartura do bolso/da carteira. Os equívocos, da interpretação dos acontecimentos e fatos, encontravam-se na cabeça dos próximos e não na mente do dono.
A bondade ou maldade encontra-se na cabeça de quem interpreta. O indivíduo somente vê o semblante dos próximos, porém o coração ostenta-se uma tremenda incógnita. Cuidado! Certas bondades e favores escondem segundas intensões. O dinheiro, como sangue do sistema econômico, move os comportamentos e propósitos humanos.
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias"

Crédito da imagem:
https://www.google.com.br/searchq=milhos&hl=ptBR&tbo=u&tbm=isch&source=univ&sa=X&ei=xBoHUe3sEoe68wTatYDwDg&ved=0CC4QsAQ&biw=1360&bih=659#imgrc=_

sábado, 26 de janeiro de 2013

As pedras impróprias


Um certo chacareiro, numa encosta de morro, mantinha algum potreiro. O local via-se cortado por um valo. O escoadouro de águas, por décadas e gerações, mantinha-se tomado por centenas de pedras. Estas, durante centenas de anos, foram avolumadas pela ação humana e as intempéries do tempo. Elas, de várias direções, advieram roladas morro abaixo.
O dono, apreciando o pastoreio do gado, vislumbrou um empecilho naquelas peças. Estas, na prática, ostentavam um desperdício de espaço. Um local próprio ao esconderijo de todo tipo de bicho peçonhento. Um conjunto de plantas espinhentas, volta e meia, aranhavam e espetavam os animais e obrigavam seu consequente corte. O gado, numa eventualidade imprópria, poderia machucar-se ou ser picado por alguma inconveniência.
O cidadão, diante do dilema, precisava encontrar um paliativo aos impróprios. Este, antes de qualquer iniciativa, precisou fazer uma boa auto-reflexão. Ele, como as gerações passadas (quatro), ficaria na indiferença ou colocaria mãos a obra? Os empecilhos, com seu subconsciente de empreendedor, sinalizavam alguma construção. Queria dar uma destinação agradável aos empecilhos.
A solução foi de paulatinamente colocar as mãos a tarefa. Este, a cada final de semana, procurou tirar duas a três horas, para amontoar e reassentar pedras. Uma forma de suar e tirar impurezas do corpo assim como sair da rotina do maçante trabalho urbano. O cidadão, depois de iniciado os trabalhos, parecia ter uma obsessão em empilhar pedras. Elas, esparramadas pelo lugar, levaram-no a imaginar alguma utilidade ímpar.
O camarada, agora improvisado construtor, começou em puxar um cercado sobre o valo. Uma cerca reforçada para garantir a eficiência. Procurou assentar bem as peças maiores e as menores preenchiam estas. O segundo passo, no interior do avolumado, foi complementar as pedras maiores com as singelas pedrinhas. Elas davam a real fixação do cercado. Uma tarefa maçante e pacienciosa. Curiosos e familiares, de imediato, viram nisso um desperdício de esforço e tempo. Uma judiaria em vão! Alguém logo disse: Por que perder tempo nisso e esgotar-se em vão? Possui dinheiro e tempo para jogar fora? Não tem mais o que fazer?
A persistência e teimosia continuaram umas boas semanas. O trabalho, aos poucos, foi revelando a dura realidade: falta de material. O punhado de pedras, outrora um excepcional estorvo centenário, agora mantinha uma sublime função. Constituir uma queda d’água para embelezar e enobrecer o cenário colonial e familiar. A chácara cedo reforçou seu conceito de espaço de lazer e recreação. O lugar, daquela ocasião em diante, tornou-se referência nos períodos chuvosos e vazante maior dos córregos. A maravilha das águas, com seu barulho ininterrupto, originava uma melodia aos ouvidos e reforçava a tranquilidade do sono dos moradores próximos.
Quaisquer empecilhos, na proporção da dedicação e trabalho, encontra uma nobre e sublime função social. O indivíduo precisa orientar-se por suas próprias concepções e princípios e nada de maiores ouvidos ao “norte alheio”. Algum trabalho impróprio, realizado com disposição e empenho, cedo transforma-se numa satisfação e realização. Primeiro: muito bem pensar; decidido: colocar mãos a obra.
                                                                                                 
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Colonial”

Crédito da imagem:http://www.downloadswallpapers.com/papel-de-parede/cachoeira-e-pedras-14152.htm 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A poupança verde


As pessoas, num domingo ensolarado, gritam e torcem no estádio. Uma excepcional partida, pelo campeonato amador, sucede-se na localidade. Imprensa, escrita e falada, encontra-se a registrar e transmitir o jogo. Os torcedores, de inúmeras localidades, afluem ao evento. O estacionamento encontra-se tomado de veículos. As cercanias do campo tomadas pelos apaixonados torcedores. Outro acontecimento esportivo ímpar na história do clube e da pacata localidade.
Um pai e filho, neste ínterim, não puderam desgrudar-se dum objetivo maior. Eles, com a umidade dos desfechos do inverno e lunação própria, fixaram algum propósito maior. Este objetivo tinha cotas. Precisariam, como trabalhadores urbanos (improvisados de colonos nos finais de semana), transplantar mudas. O tempo, naquele final de semana, favorecia a atividade agrícola. A dupla, numa determinação ímpar e teimosia própria, colocou mãos a obra. Eles inspiravam-se na fartura econômica futura.
Alguns espaços íngremes de morro foram enchidos com o eucalipto. Uma antiga lavoura, com a migração massiva campo-cidade, fora relegada das culturas anuais e reavaliada na sua função social. O mato, dessa vez reflorestamento, retoma o seu lugar tradicional. O dono, com o auxílio do filho, obriga-se a tarefa de cultivar. O genitor abre os buracos e o rebento coloca/fecha as mudas.
O sonho, daqui a décadas, consiste em produzir toras e ostentar florestas. Uma poupança familiar alheia “as manipulações bancárias e maquiagens dos índices econômicos/estatísticos dos governos”.  A família, com os dividendos almejados, espera nalgum dia “sentar na sombra na proporção de outros trabalharem”. Os propósitos, determinados e obcecados, impulsionaram a tomar o final de semana como dia qualquer. As mil mudas, da cota da safra, precisava conhecer a destinação própria. As desculpas, em meio às necessidades, não funcionaram de outros compromissos e ocupações. A ideia encontrava-se direcionada a poupança do futuro.
Idênticas realidades, em todos os finais de semana, ocorrem no meio colonial. Os donos de máquinas ocupam-se na confecção de silagens. Proprietários trabalham na semeadura de lavouras (recém colhidas). Carvoeiros cortam matos para abastecer fornos. Os leiteiros recolhem a produção colonial. Colonos reparam as criações (aves, porcos e vacas). Os fornos ganham a contínua vigília dos queimadores de lenha...
Trabalhadores anônimos, alheios aos benefícios trabalhistas (adicionais, horas extras e férias), labutam de forma contínua e persistente nos seus empreendimentos. O sistema não pode parar e alguém precisa cuidar da sua manutenção. Alguns, em meio aos maiores eventos ou velórios, encontram-se a labutar. O meio rural assemelha-se a ares de empresas familiares. Os colonos ganham na proporção de seus investimentos e trabalhos.
Os propósitos determinam as atividades e comportamentos. O pensamento, direcionado ao futuro, ostenta-se característica marcante do homem rural. O dono, como sendo seu próprio empregado/funcionário, ostenta-se dedicado e eficiente no trabalho da empresa. Os encargos trabalhistas vêem-se renegados como proprietário.
                                                                     
Guido Lang
                                                 “Singelas Histórias do Cotidiano Colonial”

Crédito da imagem:http://aguasamericanas.com/ecom.aspx/Produto/eucalipto-toras--citrodora-arapongaspr 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Profetas do tempo


Os colonos, em função das chuvas, dependem do sucesso das suas colheitas e criações. A irrigação, na maior parte das culturas de grande porte, mostra-se incipiente. A solução consiste em aguardar e interpretar “as boas graças de São Pedro”. Este, na crendice popular do santo das chuvas, dá as rédeas das frequências e volumes das precipitações.
Os produtores, ao longo do processo de colonização, desenvolveram um vasto conhecimento (empírico) sobre o comportamento das condições meteorológicas. Os produtores, de maneira geral, são “profetas do tempo”. As suas observações, em inúmeras oportunidades, ganham dos modernos meios de previsão. A aparelhagem aponta o âmbito geral (nos macroclimas dos Estados e país). Os coloniais, a partir da atenta observação das alterações da atmosfera (estado chuvoso, nublado ou ensolarado), ligam-se nos microclimas. Aquela sucessão do tempo do seu lugarejo (inserido no âmbito geral). Os milímetros de chuva, na sua propriedade, são do maior interesse privado.
Cada morador, com suas particularidades de observação, ostenta-se um modesto meteorologista/singelo “profeta do tempo”. Possui suas constatações, pela longa convivência no espaço local, ditam as condições. A convivência contínua no ambiente criou um acentuado conhecimento empírico. Alguns itens, através da tradição oral, repassados de pais para filhos (através das gerações). Os equívocos, de maneira geral, ocorrem unicamente no contexto das extremas estiagens. Os sinais das chuvas, no verão, podem estar presentes, porém faltam nuvens (cúmulos e nimbus) para aliviar os rigores do calor.
Algumas normas gerais, dessas práticas empíricas, relaciona-se: 01) O Sol nascer ou pôr-se duma coloração alaranjada. 02) As mangueiras das canalizações aparecerem suadas (em meio ao sabor do calor dos ambientes). 03) Aves com asas estendidas ao sol de rachar com razão de secar partes íntimas do corpo e interior das asas.  04) Alaridos, fora do horário normal das cantorias, de araquãs, bugios e saracuras; 05) As criações, de maneira geral, mostra-se muito agitado e irrequieto; 06) Mudanças de Lua, de Cheia para Nova, favorece o quadro instável. 07) Floridos ocasionais de algumas espécies vegetais. 08) Diminuição da vazão de água das nascentes... Os sinais prenunciam as mudanças da atmosfera e daí inserem os desígnios.
O quadro, de abates, castrações, colheitas, plantios, mostra-se observado nas atividades coloniais. A germinação de sementes, qualidade das colheitas, entrada de máquinas (no interior das lavouras), qualidade de forragens/pastagens... dependem do volume e tempo próprio das precipitações. Singelos detalhes, com excepcionais diferenças, ligam-se aos sucessos ou insucessos nas atividades primárias.
A idade, com os anos de observações e reparações, ensinam certos conhecimentos e realidades. O sucesso, de quaisquer empreendimentos, depende da esperteza assimilada no cotidiano das vivências. O presente depende muito das previsões ocorridas no passado. Os sortudos não apostam unicamente na mera casualidade, porém tem seus segredos para angariar a sorte.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://guiadevoo.com/page.aspx?Pgid=cumulus_nimbus

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A renovação


Um eleitor, num determinado município, queria ver a renovação do quadro funcional. Queria “ver fora aquela corja partidária”. Esta, a algumas boas administrações/gestões, mantinha-se “no cocho”. “Aves indigestas, como chupins”, no interior do serviço público. Bons salários para pouco trabalho; muita conversa para pouca ação; encargos de primeira e serviço de terceira qualidade... O contribuinte, no seu entender, paga muito imposto para péssima aplicação dos recursos.
O camarada, com a eleição, arregimentou amigos, familiares e parentes. “Vamos votar maciçamente na oposição. A necessidade de renovar dessa vez não podemos perder. Imagina mais quatro anos com aquela gente no governo e nos sugando” foi seu discurso. Participou, no embalo da campanha, de vários comícios e reuniões políticas. Inúmeras promessas, de melhorias, foram esplanadas nos encontros.
Conversas acaloradas e debates acirrados, entre oposição e situação, transcorriam nos cantos e recantos do município. Os temas comunitários ganharam a primazia das conversas informais. A empolgação e torcida, em boa dose, cedo constituiu-se em fanatismo. A eleição ocorreu no clima esquentado e vigilância acirrada nas urnas.
O dia adveio e eleições realizadas. Acusações e histórias mútuas, na surdina, sobre a compra de votos (com favores e mimos). A oposição finalmente venceu e a situação precisou “prepara-se para arrumar as malas”. As esperanças renovadas são de novas caras na gestão pública, enxugamento da máquina administrativa, projetos inovadores com melhorias, necessidades básicas como prioritárias... Governo novo, ânimo redobrado, sangue renovado... Uns três meses, após a posse, “alguma trégua com razão de engrenar a máquina”. O tempo transcorre e dura realidade dos fatos transparece.
O eleitor, muito das antigas caras, cedo enxerga no quadro do serviço público. Os quadros de carreira do funcionalismo mantêm-se na ativa. Inúmeros partidários da coligação, fanáticos eleitores e parceiros dos comícios, ganharam cargos de confiança. Vários conhecidos e parceiros “arrumaram algum graúdo osso”. A empolgação revelou sua explicação. Outros antigos adversários, ferrenhos adeptos da situação e inimigos declarados da oposição, viraram partidários do novo governo (“uns belos vira casacas”).
Uns, com ousadia, colaram adesivos, de última hora, nos seus veículos (como tivessem sido da oposição). Velhos partidários, da campanha da vitória, começaram desavenças homéricas e bandearam-se à oposição. Facções derrotadas aproximaram-se do governo e ganharam alguma secretaria... A dinâmica política desconheceu lógica e norteia-se pelos propósitos do erário.
O cidadão conheceu facetas da realidade política. Um campo minado às pessoas de boa formação e índole. Um mimetismo corrente para os aproveitadores e oportunistas! Estes, de quatro em quatro anos, adaptam-se e readaptam-se as gestões (com razão de levar alguma grana dos volumosos dividendos públicos).  A ideologia ostenta-se um belo discurso de campanha, porém cedo cai por terra (em função das necessidades do cotidiano). Entra e sai governo, com algumas poucas exceções, continua a lambança. A preocupação escassa de racionalizar a máquina e oferecer o maior volume de bons serviços aos contribuintes.
O servidor, no cotidiano, agrada uns e desagrada outros. Os contribuintes, no entra e sai dos governos, paga os ônus das festanças e gastanças. Um bom ou ruim governo desagrada uns e contenta outros. A oposição cria brigas e intrigas e a situação canta conquistas e vitórias, porém no fundo “é farinha do mesmo saco”.  A política, a todo momento, surpreende com escusas histórias e desperdício de recursos.
                                                                                       
Guido Lang
                                                        “Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Impressões do Paraguai


Tivemos, nos dias 02 a 04 de fevereiro de 1997, a oportunidade de conhecer aspectos do Paraguai. Viajamos pela região leste do país. Um espaço agrícola desenvolvido com predomínio da soja. Esta área, na prática, é uma continuação da porção sudoeste do Planalto Meridional Brasileiro. O cenário de terrenos ondulados e terra roxa assemelha-se muitíssimo a realidade paranaense. A soja, nesta época do ano, forma um cenário de tapete verde e ocupa dimensões vastas (a visão do viajante rodoviário).
A cobertura verde cobre os baixos planaltos. Estes, nalgumas décadas, eram tomadas pela selva ou esporádicos cultivos de erva-mate e óleos vegetais. Estas culturas, em função do baixo preço e dificuldades de colheita (mecânica), foram praticamente suprimidas. As poucas lavouras, numa questão de anos, parecem também ceder espaço a planta oleaginosa. Os resquícios da Floresta Pluvial Subtropical subsistem unicamente nas áreas úmidas. Os locais, numa espécie de banhados, onde a mecanização agrícola depara-se com dificuldades. Os baixos planaltos, na sua confluência, unicamente mantém restos de floresta (como reservas dos biomas).
A visita concentrou-se na parte sul do Paraguai. O território da junção do Rio Paraná com o Paraguai. Esta área é ocupada por comunidades nipo-paraguaias, teuto-paraguaias, teuto-brasileiras e naturais (mescla de índios com espanhóis). Os japoneses, num empreendimento do governo nipônico, ocupam os melhores solos. Estes localizam-se nos espaços mais elevados dos terrenos. As famílias residem nos seus lotes de terras. Cultivam, paralelo a soja, alguma erva-mate e “tum” (planta propícia para extração de óleo vegetal).
A criação de gado encontra alguma expressão. Esta destina-se ao abate e produção de leite. Efetua-se nos solos mais úmidos, no qual cultivou-se pastagens (permanentes). As culturas de subsistências, como cana, cítricos, mandioca, milho, tabaco, ganham maior importância nas terras dos “paraguaios” (nativos). As plantações, de subsistência, localizam-se ao longo das estradas e terrenos interiores (menos propícios a mecanização). Estas propriedades possuem dimensões diminutas (de meio a dois hectares), que, na medida do interesse dos “forasteiros de descendência asiática e europeia”, acabam comercializadas aos intrusos. Estes, de preferência, desejam lotes uniformizados, que carecem de maiores empecilhos às máquinas agrícolas.
A sociedade paraguaia apresenta acentuados contrastes. Esta condição é comum nos países terceiro mundistas. Os descendentes de asiáticos e europeus assumiram o poder econômico. Estes concentram o maquinário e as terras. Estes compreendem-se “os grandes  invasores do Paraguai”,  pois introduziram a agricultura de exportação e modelo capitalista de exploração. Os plantadores dizem-se os principais contribuintes e empreendedores do Estado Nacional.  Este, na proporção da modernidade e problemas nacionais, começa a elevar encargos e taxas.
Os guaranis, principal nação nativa, viveriam nas reservas (próximas ao Rio Paraguai). Estes, nos hábitos próprios, encontrar-se-iam em vias de extinguir-se (em função da miscigenação). A sobrevivência adviria da prática de alguma agricultura de subsistência. A comercialização da madeira-de-lei, das reservas, seria a principal fonte de renda. Estes, conforme a versão corrente, seriam vistos unicamente nas vésperas dos dias chuvosos. O período em que “colocariam os pés nas estradas”.
Os paraguaios, mestiços e naturais formam a esmagadora maioria da população. Esta sobrevive de pequenos cultivos e empregam-se esporadicamente como assalariados/diaristas rurais. Eles vivem espalhados ao longo das estradas e interiores (beira de estradas de chão batido e lavouras). Habitam humildes residências (de chão batido e de madeira). O conforto maior da inovação mostra-se a energia elétrica. Diversos moradores possuem a rede próxima à moradia, porém carecem das instalações. Os ganhos instáveis impossibilitaria custear a baixa taxa mensal.
Chama atenção que coabitam certas desconfianças entre as diversas comunidades/etnias. Elas mantém relações econômicas, no entanto, cada qual ostenta suas entidades recreativas e sociais. Cada descendência é muitíssimo consciente dos seus costumes e tradições. Os hábitos e a língua, dos seus ancestrais, mantêm-se ativa e preservada.
O Paraguai é um mercado livre às importações. O consumidor pode comprar objetos das mais diversas procedências. Os mercados, espalhados ao longo dos escassos centros urbanos, oferecem uma gama de artigos. O fato explica-se em função da escassa industrialização. Esta restringe-se praticamente ao fabrico de produtos alimentares. Os artigos brasileiros ganham muitíssima aceitação assim como os do sudeste asiático. Os programas televisivos assistidos são os brasileiros. A telefonia rural ou celular carece de uma maior difusão assim como as estradas pavimentadas. Poucas estradas nacionais são asfaltadas. As secundárias são exclusivamente de chão batido. Este fato obriga a importação dos potentes veículos japoneses. Estes, em função da tração nas quatro rodas, andam em “quaisquer caminhos esburacados e de roça”.
As fontes naturais e poços artesianos predominam nas residências. O encanamento comunitário ou rede pública encontra-se carente. As queixas, no momento, são muitas com o neoliberalismo e o Mercosul, quando os preços da produção primária encontram-se em franca derrocada. A população convive com uma superprodução de artigos, mas depara-se com a ausência de recursos financeiros (ao consumo). As margens de lucro tornam-se continuamente estreita, quando exige inovação dos produtores (com vistas de diminuir custos).
Conhecer a nação platina é uma opção interessante. Informa-nos da intensa agricultura comercial da soja. Retrata facetas da internacionalização comercial. Ostenta acentuadas diferenças culturais entre as comunidades... O camarada, na proporção de viajar, valoriza mais o torrão brasileiro. Convive-se com maior conforto, depara-se com possibilidades de emprego, obtém a harmonia étnica... A visita, portanto, possibilitou conhecer outra realidade econômica-social. Abriu novos horizontes de conhecimentos e experiências.

Fonte: Guido Lang. Jornal O Fato, n°1115, dia 25.02.1997, pág. 02 (texto reescrito).

Crédito da imagem: http://www.agrocim.com.br/noticia/Soja-Paraguai-registra-nova-expansao-da-safra-por-conta-do-clima-favoravel.html

Valor dum galo


Um certo produtor, morador do interior, criou uma dupla de terneiros. Estes, por serem esbeltos e de tamanho assemelhado, ganharam a chance de serem criados em parceria. O objetivo consistia em formar uma junta de bois. Qualquer colono, na época da tração animal, mantinha-os em alta consideração, por serem “o pão da mesa do colono”.
O colonial, durante uns meses, cuidou da amamentação e trato dos bichinhos. Estes, de forma paulatina, foram amansados. Estes, desde tenra idade, ganharam canga. Precisaram acostumar-se a domesticação. Outros momentos arrastavam/puxavam algum arado, carreta/carroça ou tronco. O trabalho tornava-se uma necessidade e obrigação. O manejo precoce tornou-os animais calmos e pacíficos. Algum mimo, na hora de cangar, permitia apanhá-los no estábulo ou potreiro. A junta, pelo treino, encaminhara-se ao local próprio do cangar.
O proprietário, tendo outra junta, pensou num escambo/venda. Os propósitos foram externados nas conversas informais. A casa comercial, tradicional ponto de encontro e reencontro dos moradores da comuna, foi o local mais propício. A notícia, da venda duma junta de bois, tornou-se comunitária. Os curiosos logo pediram por valor. Alguém, como atravessador, até pensou em ganhar alguma margem. O preço estabelecido acompanha os valores do mercado. Algum referencial, no meio comunitário, existe como padrão. A procura maior, no período primavera/verão – época das plantações, eleva a cotação e, nas entressafras, abaixa.
Um certo camarada, doutra localidade e aparentado distante, interessou-se pelos animais. Afluiu a moradia para apreciar o produto da compra assim como tratar do preço. Os dois, comprador e vendedor, acertaram um certo valor (a crédito). O vendedor, por preço tal e até aquela data, pagaria o numerário pré-combinado (pela junta). O dono, indo pela credibilidade colonial, aceitou a bom termo o negócio (com alguma singela entrada).
O tempo transcorreu e o comprador/pagador nada da promessa. O vendedor precisou correr atrás do devedor. Idas e vindas ocorreram até a sua casa. Novas promessas sucediam–se e nada de dinheiro. Os bois, a essa altura do campeonato, já tinham mudado de dono e nada de reavê-los. O caloteiro, por semanas e meses, “matou o cobrador no cansaço”. Ficou aquela incômoda situação. O comprador, improvisando dificuldades de subsistência e tendo filhos pequenos, disse uma pérola: “- Eu não nego o devido! Pago como posso! Aconchega-te na proporção da junta valer o preço dum galo!”
Os anos, em meio à corrida inflacionário (nos anos do Governo de José Sarney), transcorreram e o poder aquisitivo viu-se corroído. O vendedor, pela esdrúxula situação, deixou o débito nisso. O galo, valor insignificante, jamais foi cobrado. O caloteiro pode levar o devido à sepultura. O meio comunitário relembra a chacota “pelo valor dum galo”.
Vendas a crédito representam sinônimo de calote e desconfiança. O exato e modesto “não” é a melhor forma de evitar aborrecimentos e transtornos. Certos elementos, embora muito pacatos, eternizam-se pelo “legado das pérolas”. Os caloteiros subsistem em todos os meios econômico-sociais.
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:http://pastorelireis.blogspot.com.br/2012/09/aprendendo-com-o-galo.html

A sacanagem


Um certo cidadão, criado nas colônias, da herança familiar, em terras, fez sua chácara. Um punhado, de poucos hectares, edificou um espaço de lazer e labuta ocasional. “O pão de cada dia”, como funcionário duma empresa, ganhava no trabalho urbano. Os familiares, educados na cidade, pouco interesse demonstravam pelo legado.
O proprietário, filho de colonos e criado nas colônias, mantinha algumas criações e plantações. Incluía-se, entre as diversidades, animais de montaria, excepcionais árvores de ornamentação, moradia confortável, raivosas colmeias de africanas, formidável pomar, magníficas trilhas...
Uma consideração especial ligava-se ao açude. Este embelezava o cenário dos fundos das edificações. O chimarrão, em meio a uma aconchegante sombra, via-se degustado. Os olhos, no ínterim, viam-se deslumbrados com a agitação dos cardumes. Outros bichos silvestres, como maçaricos e patos, complementava o espetáculo da natureza. A água, como reservatório natural, deixava o ambiente refrescado e úmido. O líquido, no subsolo, mantinha o nível do lençol freático elevado. As plantas, em função da umidade, mantinham-se esbeltas e exuberantes.
Os peixes, como carpa capins, jundiás, prateadas e traíras, cresciam deveras. Uns, com o trato diário de ração, passavam dos bons quilos. Os menores, em semanas, prometiam crescer mais umas boas gramas. O almejado esvaziamento do açude, à família, era anunciada aos dias próximos a Páscoa. Poderia-se degustar o sabor da autoprodução da carne da Semana Santa. Esta certamente parecia ter um “gosto ou sabor aprimorado/melhorado”.
A surpresa maior, anterior ao esvaziamento, adveio numa certa ocasião. Alguns malandros, na surdina da calada da noite, anteciparam-se na colheita/festa. Estes, num roubo escamoteado de malandragem, fizeram algum arrastão. As águas conheceram a limpeza da presença de peixes. Alguma rede, certamente com malha fina, limpou o criatório. Quê raiva!
O dono, muito decepcionado e irritado, fazia ideia dos autores, porém não podia acusar/provar. Aquela frustração e perda de investimento e tempo. Os espertos, em meio às ceias, certamente ainda lembraram-se e riram-se da dedicação e trabalho alheio. A história da criação familiar de peixes precisou ser reavaliada e repensada. Repetiu-se a triste sina com a história de criatórios de peixes em propriedades minifundiárias de subsistência familiar.
Os investimentos em criatórios de açudes, nas chácaras e propriedades coloniais, tornaram-se motivos de aborrecimentos e perdas monetárias. A pilhagem e safadeza, de maneira geral, encontra-se impregnada no gênero humano. Certas brincadeiras e malandragens não passam de pretexto para excepcionais pilhagens e roubos. A impunidade, nos atos ilícitos, desestimula investimentos e melhorias assim como atiça a ousadia e petulância alheia.

                                                                                                  Guido Lang
                                          “Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”
  
Crédito da imagem:http://caminhadasecologicasrj.wordpress.com/2012/01/16/sobre-a-trilha-do-acude-do-camorim/

Uma velada crendice


Quem já não saiu com o guarda-chuva em punho? Este esperava aquela chuva e “a maior indiferença por parte de São Pedro”. Uma realidade comum nos prolongados dias de verão! “A parafernália meteorológica”, anunciada na mídia, prenuncia uma situação e ocorre bem outra (nos inúmeros climas e microclimas). O cidadão antecipa-se aos fatos e previne-se com artefatos. Outras vezes exclui-os e “leva aquela água no lombo”. Fica, entre as idas e vindas, aquela dúvida: “leva ou não a peça”.
Os dias quentes, com insolação intensa e prolongada, evaporam quantidades incríveis de água. Os ambientes secos, com a baixa umidade relativa do ar, castigam os cenários. Os seres vivos clamam pelo abençoado líquido. Produtores, aos céus e terra, pedem e rezam pela divina benção. Cidades, dominadas pelos asfaltos e pedras, precisam dum alento e lavagem.
O calor vê-se impregnados nos espaços (materiais e imateriais). Animais e pessoas, na ausência de maiores ambientes frescos e úmidos, parecem sufocar e torrar. Queixas e reclamações sobram nas conversas e falas. Chuvas tornam-se “uma preciosidade como ouro e valem fortunas”.
Algumas nuvens, “em meio ao artificial e a fornalha”, avolumam-se e encobrem o horizonte. Esperanças e olhares aos céus não faltam para aliviar as agruras e sufoco. Lavar e refrescar os cenários empoleirados e poluídos. Alguns poucos, nestas suas idas, previnem-se com o guarda-chuva. Saem pelas estradas e ruas com os artefatos. Transcorre cedo uma velada crendice: “- Espantar a chuva com o guarda-chuva em punho!” Um mau presságio querer precaver-se nestes instantes mágicos.
As pessoas aspiram e torcem pelas precipitações. Outros poucos, no entanto, pensam em safar-se (daquilo que parece ser tão custoso e gostoso). Um aconchegante e bom banho, nestes momentos, aceita-se e compreende-se como graça. Guarda-chuvas, portanto, assemelham-se ao desconvite às águas (em meio aos dissabores do verão).
Mudanças de tempo, nos momentos anteriores as precipitações, acirram e alteram os ânimos e humores. Os indivíduos, depois duma boa e refrescante chuva, desarmam e serenam o espírito. Comentários e opiniões, sobre o comportamento das condições meteorológicas, são os mais esdrúxulos e variados. “Algum gato pingado”, em meio a maior estiagem, ainda combate por alguma razão as benéficas chuvas. A uniformidade humana, na questão dos interesses e opiniões, ostenta-se uma impossibilidade e inviabilidade.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Urbano”

Crédito da imagem:http://solonaescola.blogspot.com.br/2012/08/o-que-causa-o-cheiro-apos-chuva.html

A valorização do alheio

Moedas de Ouro Wallpaper

Uma dupla, a uns bons anos, trabalham como colegas. Estes, dentro das possibilidades, prestam favores mútuos.  “Ninguém pode ser uma ilha neste mundo”. O trabalhador, para o parceiro, pediu a consideração de fazer a gentilezas duma compra. O pedinte, no momento, não poderia ir ao comércio e, portanto, solicitou o favor da aquisição dum artigo.
O cidadão, com dinheiro antecipado, aceitou o desafio.  Nada de primeiro pagar do seu bolso e depois esperar o ressarcimento alheio. Sem dinheiro não haveria gentileza! O dinheiro dá as coordenadas dos comportamentos e relações. Sem grana nada de maiores conversas. Uma sociedade dominada entre o ter ou não ter. As diferenças sociais residem neste princípio.
O camarada chamou atenção como consumidor. Este, apesar da singela encomenda, deu-se o trabalho de pesquisar preço. Pediu valores em bazares e farmácias. Uns modestos chás como mercadorias. Uma acentuada diferença de preço verificou. O valor de dois, nas farmácias, dava para comprar três nos bazares. Acabou, sem maior dúvida, comprando nalgum último. O interessante relacionou-se ao procedimento. O cidadão deve a maior consideração pelo dinheiro: “valorizou o alheio como fosse o seu”. Poucas pessoas, nestes dias agitados e de ganância, ainda procedem dessa maneira (gentil e sábia). Encontram-se, apesar dos muitos relatos de histórias e tragédias, “gente boa neste mundo”.
Outro item chamativo relacionou-se aos custos de produção. Os encargos e lucros, de qualquer maneira, precisam sair do bolso dos consumidores. Eles são usuários dos serviços, portanto, precisam custeá-los nas compras. Chama atenção uma realidade: uns conseguem oferecer/produzir bem mais barato os serviços que outros. Quem mantém encargos sob controle, oferece preços mais em conta. Outras lojas, com estruturas amplas e localização central, obrigam-se a repassar os custos maiores. Consumidores, em outras realidades, pouco caso fazem da pesquisa. Compram na primeira oportunidade e carecem de desperdiçar tempo. O luxo e ostentação oneram a produção. Cada qual precisa saber das suas necessidades e “até onde a coberta alcança”.
O indivíduo, no cotidiano da vida, obriga-se a entender de economia e a ser economista. Conhecer as estratégias dos negócios é sinônimo de conhecimento e sabedoria. O “pão duro/mão de vaca” faz render e valer o seu suado dinheiro. Quem valoriza o pouco, o muito costuma acumular. A economia, num artigo, permite comprar algo mais (como gratificação).

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano da Economia”

Crédito da imagem:http://www.downloadswallpapers.com/papel-de-parede/moedas-de-ouro-18768.htm

O milho


A primavera achegou-se! As sementes precisam conhecer o solo. Produtores tem pressa de cultivar. Quem quer colher, precisa plantar. Deus abençoa quem trabalha.
O produtor, na sua tradicional lavoura, tratou de contratar os serviços das máquinas. O tratorista adveio para enterrar sementes. A sementeira, acoplada ao veículo, fez-o fácil e rápido. A segunda necessidade foi aplicar o herbicida. O cereal cresceu em meio ao brejo: o milho crescia e o mato retrocedia. Coisas da revolução agrícola. O colono, nos ventos da inovação, deu-se o trabalho de pagar. O sacrifício, com a outrora lavração da terra a boi e plantio manual, ficaram nas reminiscências impróprias da agricultura familiar de subsistência.
Ao rural, diante do investimento, coube esperar os desígnios do tempo. Algum reparo, eventual aqui ou acolá, fazia-se no ínterim. A maior consistiu “na torcida pelas dádivas e favores de chuva por parte de São Pedro”. Ele manda as graças d’água (segundo o provérbio popular). O plantador, em função do atraso das precipitações, colheu mero pasto. O cereal, não tendo chuva no momento próprio, “esqueceu-se de criar maiores espigas”. A solução foi cortar a cultura como forragem às vacas. Elas, tendo bom pasto, produzem leite e diluíram custos.
O corte revelou-se apressado. A área necessitou ganhar uma segunda plantação. O colonial arriscou de novo a sorte e torce pelas dádivas. Repete-se o processo do plantio (com vistas de colher a silagem de inverno). O tempo ostenta-se “de ouro” (com razão das plantas de verão não apanhar das geadas).  A estação fria, numa terceira cultura anual, ganha sua planta de inverno.  As adubações sucessivas, no ínterim das plantações massivas, garantem a fertilidade.
Quem cultiva aposta numa loteria: cinquenta por cento de chances no sucesso e outros cinquenta no insucesso. Os solos, com as plantações massivas, aguentam de forma indefinida? O capitalismo tomou conta do cenário colonial. Quem atua nos negócios agrícolas obriga-se a acompanhar o ritmo do sistema caso contrário quebra literalmente nos empreendimentos.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=73833