domingo, 31 de março de 2013

A brincadeira do rabo




Um camarada, boa vida e folgado, adorava as festanças e passeios. A família, com suas saídas e vindas, sofria as consequências das afrontas e dispêndios. O dinheiro, tão poupado e suado, “via-se canalizado para o ralo”.
Os amigos, parceiros das barulheiras e bebedeiras, perguntaram sobre as desfeitas. Estas de deixar a jovem mãe e filhos em casa (na proporção deste encontrar-se na folia). O parceiro, no entender dos companheiros, “deveria ter dó e peso na consciência”. Os familiares padeciam nas dificuldades e preocupações. O marido, numa imprudência,  gastava o suado dinheirinho (“nos bailes e bebedeiras de beira de estrada”).
O cidadão, como resposta, externou a pérola: “- O homem, tendo uma exclusiva mulher nas intimidades, assemelha-se aos cachorrinhos. Estes, na ingenuidade e tenra idade, adoram brincar com o próprio rabo”. Quê dizer diante da concepção e filosofia dessas? A espécie contém membros de todos os gostos e paladares! Algumas ideias assemelham-se a duas! Cada qual tem o que merece!
Algumas companhias e parcerias mostram-se sinônimos de aborrecimentos e problemas. Certas realidades descobre-se unicamente na proporção da convivência. O indivíduo pensa conhecer com quem dorme!

Guido Lang
“Singelos Sucedidos do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://www.thompsonhotels.com

sábado, 30 de março de 2013

A diferença dum detalhe


Uma senhora, para fazer companhia ao finado, estampou sua foto na lápide (do jazigo familiar). Esta, fotografada nos tempos do casamento, encontrava-se a relembrar a agradável parceria e o feliz matrimônio.
Um conhecido, de terras distantes, foi visitar os antepassados (no cemitério comunitário). Ele, como filho da terra (porém migrante desde tenra idade), procurou dar uma olhada nos recentes falecimentos. O visitante, deparando-se com a série de lápides, achou aquela do casal. O cidadão ficou muitíssimo assombrado: “ – Beltrana de tal! Esta também faleceu! Como não se ouviu falar disso?”
O fulano, na saída da necrópole, deparou-se com uma inacreditável presença. A finada, como aparente assombração, deu as caras em carne e osso! O fulano, num instante, acreditou tratar-se dum fantasma. Este, de imediato, amarelou e gelou!
O camarada relembrou-se do modesto detalhe. Este havia cochilado em verificar a data do falecimento. A fulana encontravam-se estampada de foto, porém ainda encontrava-se viva. Ela unicamente tinha antecipado sua imagem (junto ao finado marido). A desconfiança de pais, em carecer de ganhar uma lápide dos filhos, faz antecipar uma situação.
A precaução é uma forma de evitar aborrecimentos e atropelos. Um singelo detalhe  faz diferença. A tradição, como crença de má sorte, inibe estampar fotos em lápides (na proporção de estar vivo). Quem de nós não convive com equívocos?

Guido Lang
“Singelos Sucedidos do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://poesiaretro.blogspot.com.br



sexta-feira, 29 de março de 2013

Os contínuos cuidados


Um produtor, pouco aficionado a pecuária, mantinha um potreiro. Este, tomado pelo brejo e mato, ganhou a companhia duma vaca.
O animal, semi-abandonado ao Deus dará, conseguia produzir uns míseros litros de leite. A produção diária mal atendia as necessidades do consumo familiar. O proprietário, diante do escasso retorno e temer perder o capital, resolveu passar no troco o infeliz ser.
O comprador, como conhecedor e dedicado criador, tomou as necessárias medidas (para reverter o quadro adverso). Ele, conforme os conhecimentos do bom criador, administrou os rotineiros sais minerais, combateu as tradicionais verminoses, cuidou do cio com a inseminação, melhorou o trato com silagens...
O bicho, em poucos dias, começou a ostentar outro visual. A produção começou a multiplicar-se nos litros. A vaca, em semanas e meses, tornou-se uma campeã no plantel. O investimento e trabalho, com o domínio dos conhecimentos e habilidades da profissão, deu os almejados dividendos e retornos financeiros.
O idêntico aplica-se a quaisquer negócios. A domesticação, seja de aves, bovinos, caprinos, insetos (abelhas) ou suínos, exige contínuas atenções e reparos. A mão do produtor, com a bênção divina, mostra-se a razão da sorte. A casualidade, como mero extrativismo, ostenta-se difícil em angariar ganhos. O tempo dispendido, nas correrias, absorve eventuais lucros. A sorte tem nome: conhecimento, dedicação, trabalho...
As famílias, com os seus filhos, seguem o receituário. Estes, através dos muitos diálogos e explicações, exigem os devidos cuidados e ensinamentos. A convivência, como companhia, transcreve os exemplos das práticas familiares. O olhar revela-se a melhor escola da vida. A experiência, com uma supervisão superior, supera milhares de palavras.
A história, de deixar livre e solto (em nome da autonomia e liberdade), leva a enveredar em caminhos escusos. O olho dos pais evitam aborrecimentos e atropelos futuros. A sabedoria popular versa: “diga com quem andas e tirei quem és”.
Quaisquer patrimônios exigem muitos cuidados e reparos. Certas cobranças precisam de coragem e persistência, porém os frutos mostram-se muito benéficos e doces. Os investimentos precisam gerar os merecidos proventos. Os resultados norteiam os passos das ações humanas. O óbvio também precisa ser dito e explicado!

Guido Lang
”Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:http://www.waltercaldeira.com.br 

quinta-feira, 28 de março de 2013

A obesidade como afronta


A fulana, no setor de trabalho, quis “jogar alguma conversa fora”. O tempo, do horário de expediente, parecia-lhe transcorrer moroso e prolongado.
A cidadã, sem maior análise das palavras, externou: “- Sicrana! Como ficastes gorda?” Esta, a umas boas semanas e meses, encontrava-se em regime alimentar. Uma tamanha briga com a balança e boca para não ser tachada de obesa. Uma preocupação diária com adequadas e esbeltas roupas. Aborrecimentos e preocupações diante das visões no espelho... O baque, da imprópria conversa, foi grande e infeliz. Esta, noutro dia, sentiu-se adoentada (em função da baixa autoestima e dores na coluna).
Um colega, a título de implicância, precisou dar seu comentário. Este complementou a fala: “- O equívoco encontrava-se nos teus olhos! Com certeza esqueceu de usar as tuas lentes?” Alguém, nesta altura do campeonato faz referência aos sobrepesos, ofende deveras aos fofinhos.
A briga, com a vida sedentária, mostra-se grande com o controle de peso. O sabor dos artigos parece aumentar na proporção do não poder degustar. Quem de nós consegue manter o peso adequado com a idade? Poucos, com essas possibilidades amplas de consumo, conseguem manter o peso próprio.
A comida assemelha-se a poupança: tira muito da conta - ela diminui; coloca bastante valor, os números multiplicam. Nem tudo que se pensa convém externar aos ouvidos alheios. A reeducação alimentar tornou-se um imperativo social.

Guido Lang
“Singelos Sucedidos do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://pedevela.blogspot.com.br 

quarta-feira, 27 de março de 2013

A exclusiva dedicação




Um modesto colono, a cada safra, cultivou suas tradicionais sementes de melancia. Este possuía uma paixão excepcional pela cultura. Ela, no sabor do calor de verão, dava um cardápio especial. Algumas frutas, bem geladas e graúdas, reuniam a família ao redor da comilança. O pessoal degustava-a na proporção de fazer alguma pausa nas obrigações.
A dificuldade e o problema relacionou-se ao frequente roubo das colheitas. Alguns malandros, alheios aos esforços do trabalho (com o plantio e seus cuidados), surrupiavam sacos e mais sacos do produto. Algumas peças nem fariam a menor diferença, porém os exageros importunavam-no deveras. Este, diante da astúcia e ousadia, resolveu improvisar e inovar.
O produtor, nas beiradas da lavoura, encheu o espaço com abelhas. Elas, em inúmeras comunidades, faziam a segurança. O patrimônio viu-se cedo resguardado pelas africanas. O respeito, desconhecido pelos larápios, impôs-se rápido no ambiente.
A fama, da escamoteada surpresa, correu nos falatórios da comunidade. Uns, das abelhas, tiveram mais medo “do que o diabo da cruz”. Os ladrões certamente temiam chocar-se com alguma caixa! As necessidades criam as invenções! Conciliar adversidades é obra de espertos!
Singelos atos, no âmbito geral, fazem muita diferença. Conciliar interesses é uma maneira de avolumar patrimônio. O temor de uns mostra-se a alegria/felicidade de outros. Cada qual luta pela sobrevivência com as armas ao seu alcance. As coisas ruins até o vento encarrega-se de espalhar (na proporção das boas custarem a avolumar-se).

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://ahortadocouto.blogspot.com.br

terça-feira, 26 de março de 2013

O velado espetáculo




Os jantares bailes, junto aos encontros esportivos (do campeonato amador), são os grandes eventos coloniais.
Estes, nos centros comunitários e campos varzeanos, reúnem o público das colônias.  Os momentos, de convivência e lazer, são ímpares (para “renovar as baterias das preocupações e do trabalho semanal”). As entidades comunitárias visam o lucro e os moradores, na proporção do lazer, almejam o reconhecimento social. A necessidade humana é grande de mostrar-se aos semelhantes.
Os bailes, às diversas idades, promovem as danças de salão. Inúmeros casais, nos diversos ritmos, tem sua principal diversão. O pessoal adora bailar para despreocupar-se e praticar exercícios. Uns, em tardes e noites inteiras, divertem-se ao som das músicas (dos conjuntos ou eletrônica). A comilança, como distração, ocorre tradicionalmente nos bailes dos sábados.
Uma classe de indivíduos excepcional relaciona-se aos habilidosos casais dançarinos. Uns, para mostrar o dom, aproveitam a oportunidade para dar shows nas pistas. Eles querem externar suas habilidades e ganhar admiração. Os enamorados, nas inúmeras comunidades, vêem-se conhecidos pelos particulares espetáculos. O curioso: uns pensam estar dançando no ritmo próprio da música e a realidade nem sempre corresponde aos fatos.
Alguém, a título de brincadeira e gozação, instituiu o título de casal “Melhor Dançarino”.  Júris anônimos, com pessoas escolhidas a dedo, indicariam este casal. Os conceituados, em tais bailes, poderiam externar a magnificência. Uns pares esmeram-se deveras na habilidade corporal (para ganhar porventura algumas cervejas como prêmio).
A conversa, na prática, não passou de mera lorota/trote! Os músicos, no contexto do início dos bailes, nem bem iniciaram a animação e os interessados já encontraram-se marcando ponto nas pistas. A honra e a satisfação consistia em dançar a primeira peça!
A música de bandinha, como estilo preferencial, encheu em segundos a quadra com dezenas de pares! Versa a sabedoria comunitária: “Um casal dançarino mostra-se sempre bem vindo a quaisquer eventos para dar o seu parcial espetáculo!”
As pessoas costumam salientar-se naquilo que gostam. O ser humano, junto aos seus, precisa da admiração e reconhecimento para sentir-se feliz e realizado. Pé de valsa ostenta-se uma aptidão estimada e valorizada na convivência comunitária.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:http://www.groupon.com.br 

segunda-feira, 25 de março de 2013

A antecipada morte




Uma senhora, com o marido muito adoentado, labutou anos nos cuidados deste. Ele, nos anos da convivência familiar, tinha sido uma boa companhia e parceria. A diabete, conforme a constatação médica, dar-lhe-ia pouco tempo de vida.
A mulher, para evitar atropelos e preocupações de última hora, antecipou-se aos eventuais problemas. A funerária deixou pré-combinada. O religioso, da confessionalidade familiar, deixou de sobreaviso. A roupa social, como calça, camisa, casaco e gravata, providenciado...
O marido, numa ímpar casualidade, viu a vestimenta pendurada no armário/estendida no cabide. Ele ficou adoidado com as encomendações e prenúncios. A solução, para não dar o gostinho (de verem-se livre dele), consistiu em melhorar de estima e saúde. Este, num assombroso sobro de sobrevida, tratou de revigorar-se (“diante da aparente afronta e torcida”).
A surpresa adveio no decorrer do tempo. Ele procurou viver ainda alguns bons e majestosos anos (“até bater na porta dos céus”). Este, à mulher, não queria dar o gosto de enterrá-lo com a vestimenta. O indivíduo, com sua aposentadoria/pensão, certamente pensou “em algum Ricardão fazer festa” (como companhia/parceria da esposa/viúva).
Os equívocos igualmente servem como belos exemplos de vida. A morte, em quaisquer contextos, assusta os viventes e os faz refletir sobre os desígnios. Viúva(o) é aquela pessoa que vai e não o ser que fica.

Guido Lang
“Singelos Sucedidos do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem:http://www.lojasdeternos.com 

domingo, 24 de março de 2013

A escamoteada vingança


Um produtor rural, com o avanço da urbanização, cedo viu sua propriedade agrícola próxima à cidade. A instalação duma vila cedo causou-lhe aborrecimentos com o lixo. Este, a todo instante, via-se desovado no interior das plantações.
Um empecilho, aqueles muitos e variados plásticos, no contexto do manejo das máquinas. Ele, durante um bom tempo, procurou conviver e suportar a lixeira. O constante e progressivo acúmulo de materiais levou a pedir providência dos responsáveis do meio ambiente.
O agricultor, num belo dia, pegou os responsáveis municipais para mostrar a indecência. “Corpo mole aqui e acolá e nada de tomar providências e resolver problemas”. O cidadão, numa ousadia ímpar, achegou-se ao momento de pedir a colaboração dos moradores próximos.
Este, diante dos muitos forasteiros, cedo arrumou uma aparente desconfiança e inimizade. Alguém viu-se deveras ofendido diante dos pedidos e reclamos. Uns incompreendiam o fato da lavoura não servir de depósito clandestino de lixo. Os dejetos, diante do recolhimento dos lixos, era só colocar nas lixeiras próximas.
O plantador continuou com sua tradicional lavoura de milho. Ele precisava produzir o cereal para silagem das vacas. Uma forma de armazenar e suavizar as dificuldades de trato no inverno. A plantação, uma vez com espigas constituídas, conheceu o trabalho da máquina de silagem.
Esta, como de costume, rodeou a lavoura, porém lá adiante conheceu um estranho barulho. Algum ferro, em forma de espeto de churrasco, encontrava-se escamoteado em meio às plantas. O despercebido artefato cedo deu os estralos no interior do maquinário. Os prejuízos fizeram-se sentir no bolso e no tempo. A necessidade de redobrar as atenções, nas vindouras colheitas, fizeram-se imprescindíveis.
O indivíduo desconhece as reais intensões e interesses de muitos. Algumas pessoas, nalguma afronta, parecem ter prazer em colocar empecilhos e criar problemas. O lixo, em quaisquer realidades, consiste num grave problema social. Uns poucos malandros, num conjunto de gente boa, servem de péssima referência dum lugar.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Colonial”

Crédito da imagem:http://www.fazendaadriana.com.br

sábado, 23 de março de 2013

A exclusiva dedicação


As pessoas, numa comunidade urbana, admiravam-se de determinado cidadão. Este começou do nada e cedo avolumou tesouros. A família, através deste, tornou-se proprietária de prédios e terrenos.
A riqueza, de forma contínua, somava-se ao conjunto dos seus bens. Alguma quadra, pelas conversas, lhe pertenciam (em localização privilegiada). Uma construção excepcional, como edifício, era outra rendosa propriedade. Muitos o invejavam, outros o admiram pelo amplo patrimônio e mente milionária.  Alguma loja frontal, como fonte de divisa, era o local de escritório e trabalho.
Um conhecido, num certo sábado de manhã, achegou-se ao espaço. Ele queria uma atenção de minutos para uma conversa informal. O cidadão, de imediato, elogiou-o pelo apego e disciplina ao trabalho. As pessoas, nas calçadas e ruas em geral, andavam para atender seus compromissos de compra e folga como final de semana.
O fulano encontrava-se atendendo e labutando (junto ao escasso número de funcionários). Outros, na calada da manhã, precisaram acertar umas contas e verem perspectivas de negócios. Ele, como empresário, marcou as seis da manhã. O conhecido, junto com o filho, achegou-se e encontrou-o tomando chimarrão e repassando as primeiras notícias.
Um pai, diante do filho (como acompanhante), explicou: “- Entendes o fato do sicrano ser dono de tamanho patrimônio? Ele concentra-se e esmera-se na sua ocupação profissional. Este não fica até as dez horas da manhã na cama e daí pensa em iniciar as tarefas. A manhã daí transcorreu e nada de maior produção econômica! As posses tem alguma razão de serem merecidas e não surgem pela mera casualidade!”  Uma referência ao descompromissado filho e adepto de algum soninho (a mais na aurora do dia).
As pessoas ambicionam os bens alheios, porém querem distância dos encargos. Poucos ainda dão a vida pelo trabalho ou a labuta constitui-se na sua filosofia. As mãos milagrosas tem sua explicação de ser e não tem o poder por mera casualidade.  Quem, a cada dia carrega um punhadinho de terra, avolumou uma montanha até o final da existência. “Deus ajuda a quem se ajuda” ou “Deus ajuda a quem cedo madruga”.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Econômico”

Crédito da imagem: http://www.guiadasdicas.com

sexta-feira, 22 de março de 2013

O mimo escolar



Um professor, durante décadas, atuou nas escolas das periferias urbanas. Este, como filho das colônias, adorava trabalhar com o pessoal carente e modesto. Ele, com os milhares de alunos passados em suas mãos, pode aprender muito da experiência e vivência. Os alunos, do cotidiano dos lares e ruas, traziam os acontecimentos, informações e malandragens.
O profissional, em termos gerais, descobriu a desmotivação de inúmeras crianças (em precisar ocupar-se com os conteúdos teóricos). Os estudantes, com raras exceções, careciam de atrativos com a arte de calcular, escrever, ler, interpretar, refletir, transcrever...  A esperteza como paliativo de solução foi dar-lhes algum mimo.
Aqueles ágeis e interessados, na proporção de concretizar as tarefas propostas (de cada dupla de períodos), ganhavam um tempo (de cinco a dez minutos) à de prática de esportes. Uma forma de exercitar os músculos (do muito sentar).  Os concluintes, depois de acompanhados e avaliado na qualidade das tarefas, podiam ocupar-se dum esporte (futebol ou vôlei).
Os resultados, em dias e semanas, viram-se magníficos. As choradeiras e lamúrias, do “de novo professor”, foram suprimidas. O alunado vira-se atento e predisposto a iniciar os estudos da disciplina. Os tradicionais desinteressados e morosos obrigaram-se a estudar e trabalhar nos conteúdos. Eles ambicionavam os idênticos benefícios e vantagens dos colegas (dedicados e esforçados).
O rendimento, em função duma modesta estratégia, mudou toda uma metodologia e rotina. O ensino, do valor do estudo como trabalho, foi primordial assim como “primeiros os encargos e depois os prazeres”. A prática foi possível unicamente com o aval da coordenação e direção escolar. O profissional, em momentos, obriga-se a fazer aquilo que nem sempre bem concorda.
Singelos mimos fazem muita diferença no geral e produzem magníficos frutos. Os resultados medíocres exigem mudanças de enfoque e prática. Os paliativos nem sempre são adequada solução, porém são caminhos para suavizar ônus. Sábio é aquele que consegue extrair água de pedra! Cavoucar ouro em meio à terra seca!

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Urbano”

Crédito da imagem: http://www.educacaoassis.com.br

quinta-feira, 21 de março de 2013

A deficiência


Um senhor, com deficiência física (paralítico), tornou-se importante referência comunitária. Este, na proporção dos ditos normais passearem nos finais de semana, ocupava-se em criar ideias e instruir-se nas leituras. Ele, em décadas, tornou-se excepcional liderança regional. As dificuldades foram canalizadas na direção do aprimorar e inovar o espírito.
O cidadão, em poucos anos, tomou o caminho da política. A preocupação restringia-se as querelas municipais (nada de maior ascensão nas esferas do Estado e União). Ele, nestas décadas de atuação, conseguiu os cargos de vereador e prefeito. Este, nas derrotas e vitórias, pode conquistar muitos adversários e partidários. O sabor, da empolgação e rejeição, fazia parte das querelas partidárias.
Um determinado morador, numa “dessas espécies raras da inadequada formação cultural”, externou sua pérola. O indivíduo, nas conversas informais, dizia: “- Quê o fulano quer como político? Um inválido desses deveria viver no aconchego da casa! Nada de correr pelas estradas e pernoitar tarde nas noites em reuniões políticas!” Ele era um desses ferrenhos adversários e opositores. Uma referência ao nome do fulano, na sua presença, era uma espécie de implicância e ofensa pessoal.
O político, no calor duma campanha, ouviu falar dos comentários impróprios do sicrano. Ele, num encontro ocasional das partes adversas, ouviu da própria boca do morador a indigesta alusão. O senhor, de forma educada, escutou a conversa. Este, na sua esperteza e malícia, rebateu: “- O cidadão encontra-se mais abençoado com uma deficiência física do que ser um dito normal tendo uma mente do tamanho dum grão de milho”. O ouvinte caiu na real da sua burrice e o “chapéu bem lhe serviu”. Adeus alusão posterior à deficiência alheia!
Alguns empecilhos servem como trampolim as realizações maiores. A força de vontade de uns é digna das maiores conquistas e realizações. “Certos momentos é bem mais sábio silenciar do que falar”. “Quem fala o que quer, ouve o que não quer”.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem:http://produto.mercadolivre.com.br 

quarta-feira, 20 de março de 2013

As histórias familiares


Um senhor, pelos anos de experiência e vivência, tinha adquirido e ouvido muitas histórias e relatos. Elas, na sua compreensão particular, constituem-se numa pérola familiar (desperdiçada diante do desinteresse alheio).
A descendência, como filhos e netos, faziam descaso e indiferença. A imaturidade e preocupações variadas permitiam escasso tempo para narrações e relatos. Estas, em menos ou mais anos, acabariam carregadas para sepultura. Algum descendente, lá na idade madura, acabaria lamentando o fato do desleixo e perda desse patrimônio oral.
O cidadão, diante da apatia das atuais gerações, procurou um paliativo. Este, dentro das reminiscências, dava-se a nobre tarefa e tempo de redigi-las. Ele, a cada dia, apontava algumas histórias (com o objetivo de manter viva as memórias). Os rebentos, na sua ausência física, poderiam lê-las e relê-las (como uma espécie de curiosidade e diálogo). A redação permitiria a constituição de livros.
O interessante, com relação aos estudiosos das ciências sociais, relaciona-se aos estranhos. Estes, a título de estudos de épocas e temas, poderiam valer-se desse conhecimento e registros às pesquisas. A história comunitária e familiar via-se postergada no espaço e tempo.  A singela preocupação, como legado da cultura imaterial, levou a produção duma valiosa contribuição literária. O material, depois de escrito e impresso, sempre encontraria eventuais interessados numa variada leitura.
As pessoas, de alguma forma duradoura e esperta, precisam encontrar uma maneira de deixar seu legado. O inverno da vida aconchega-se antes do imaginado, portanto nunca é demais alguns registros. Astutos aqueles que chegam à velhice na proporção de tantos abandonarem a vida na juventude. Aqueles que encontram soluções simples para problemas sérios ostentam-se indivíduos inteligentes e sábios. Quem de nós não gosta de ouvir uma interessante e pitoresca história?

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano da Existência”

Crédito da imagem: http://poetaeliasakhenaton.blogspot.com.br

terça-feira, 19 de março de 2013

A esperteza do filho



Um certo advogado, por anos, deixou o filho estudar advocacia. Este, como tradição familiar, abraçaria uma sina profissional. Três gerações seguiram-se na atuação das leis. O sobrenome fazia história com a eficiência no serviço.
Os moradores, do pacato lugarejo, sabiam procurar os familiares (na proporção de “envolverem-se nalguma fria ou querela legal”). O genitor, como homem com trato com a lei, sabia fazer respeitar os direitos civis (diante dos argumentos e poder das autoridades). O advogado, em várias oportunidades, tinha concorrido a cargos públicos, exercido mandatos, viajado muito (neste mundo afora)... Ele, portanto, conhecia as artimanhas, gentes e lugares (“cidadão curtido nesse velho mundo”).
O filho, estudante conceituado numa universidade pública federal, queria somar-se a fama. O sonho e a realização, com a aposentadoria do ancião, consistia em assumir o escritório de advocacia. Os ganhos do serviço dariam para manter a dignidade e qualidade de vida. Este, em meio a sua ingenuidade e imaturidade, achava-se deveras astuto e esperto. Ele fazia questão de revelar esta habilidade e vocação.  Afinal, passar anos nos bancos escolares não é privilégio e “prato de quaisquer um”.
Os eventuais concursos públicos, no ramo do Direito, viam-se também acompanhados e efetuados (com razão de aprovar e assumir algum posto mais elevado nas instâncias da República). Este, como desejo geral, queria ganhar o dinheiro fácil e graúdo (sem maiores aborrecimentos e atropelos). A solução, na proporção de não haver concursos e aprovações, consistia em exercer a profissão no seio do escritório.
O cidadão, formado nos estudos, assumiu processos do genitor. Havia algum especial, relacionado à disputa de terras, de duração interminável. As partes envolvidas, de maneira nenhuma, chegavam a um denominador comum. O processo mantinha-se conhecido nas instâncias do Judiciário. Os moradores, nas conversas informais, falavam da infindável querela. Esta, nos anos de disputa e intriga, tinham consumido somas expressivas de honorários das partes.
O advogado jovem, com os últimos e vastos conhecimentos (assimilados em termos de legislação com os doutores), queria mostrar eficiência e serviço. Queria, em síntese, demonstrar a profissionalização e fazer o nome na praça!
O genitor, com a aposentadoria, procurou tirar umas boas e prolongadas férias. Ele, com sua adorável e conceituada esposa, foi fazer aquele cruzeiro pelo Caribe. Um sonho de décadas e espécie de segundas núpcias. O casal ficou umas boas semanas fora do lugarejo (para arejar a cabeça e conhecer nova gente). O filho, no retorno, tratou de falar logo com o pai (advogado aposentado).
Este, na sua sabedoria magistral, estufou o peito para dizer: “– Pai! Lembras daquele processo de terras? Aquela disputas de décadas? Querela infindável entre as famílias das colônias! Pude, em poucos dias, dar um desfecho nesta disputa. Quis demonstrar-lhe o conhecimento e eficiência! Fiz em poucos dias aquilo que não conseguistes dar termo em anos!”
O pai, assombrado e surpreso, arregalou os olhos. Este, para o imaturo filho, disse: “- Confirmou-se a minha suposição de seres ingênuo e inconsequente. Achei-lhe bem mais astuto e esperto! Terminastes o processo? Como irás agora ‘ordenhar a vaca’? Matastes o animal ou, em outras palavras, eliminastes a galinha dos ovos de ouro? Precisas encontrar outros trouxas para ganhar o bom e suado dinheiro (com suas burrices de mostrar a força do Direito aos vizinhos)?” O rebento não soube contradizer os argumentos e “caiu-lhe o crédito do funcionamento da Justiça”.
A esperteza e inteligência mostram-se muito relativas. Uns, em certos dilemas, tem o maior interesse em prolongar e não resolver nada! Quê seria de certos profissionais caso não existisse os ingênuos (achando-se muito espertos)? Astutos e vividos são os pacatos cidadãos carentes de envolver-se em disputas e querelas. Preze teu suado dinheirinho em benesses e mimos (em vez de desperdiçá-lo em disputas vãs). Uma conversa franca e paciente, entre as partes antagônicas (de olho no olho), poupa aborrecimentos e resolve divergências.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://pisdc.com.br

segunda-feira, 18 de março de 2013

A cobrança do trato



O produtor colonial, por inúmeros citadinos, vê-se tachado como ingênuo e modesto.   Ele, de maneira geral, mantém-se alheio as malícias e maracutaias urbanas. Este procura ocupar o tempo e preocupar-se com os afazeres das criações e plantações (vivendo em contato com a natureza).
Uma entidade cooperativada, com a contínua valorização do produto leite, resolveu fazer um projeto de financiamento de vacas. O objetivo consistia em elevar o nível genético dos planteis nos tambos. Os colonos, com alguma produção leiteira, poderiam inscrever-se no programa. Os técnicos, do departamento agro-técnico, analisariam as qualidades dos animais e as condições econômicas dos interessados. As vacas viriam compradas dos melhores tambos e transferidas aos produtores inscritos.
Um humilde rural, com alguma dezena de litros, participou da inovação. Ele, através dos técnicos, ganhou o aval da entidade e as ditas vacas foram-lhe trazidas. Estas, belos exemplares da raça holandesa, vieram enobrecer o meio colonial e a propriedade particular. A produção de leite, de imediato, saltou na conta do produtor. Os terneiros, na primeira oportunidade, viram-se gerados (na proporção do cio). A finalidade consistia em criar futuras produtivas novilhas/vacas. O melhoramento genético e produtivo, em síntese, funcionou a contento.
O produtor, em função das dificuldades econômicas familiares e esperteza financeira, deixou de honrar as prestações do débito. Este extraia os dividendos das vacas e nada de pagar os encargos. A escassa produção não cobria os exorbitantes valores assumidos. A entidade, depois de vários avisos/recados trazidos pelo leiteiro, enviou um ultimato de acerto de contas caso contrário os animais seriam reaprendidos/reavidos. A alternativa, como primeira opção, consistiu “em mostrar a cara” para ter uma conversa com o presidente da entidade.
O chefão e o fulano, no gabinete da entidade cooperativada, tiveram uma conversa franca (“para colocar os devidos pingos nos is”). A cooperativa, diante da carência de quaisquer pagamentos, queria uma indenização (em função do uso prolongado dos animais). O colono, durante uns meses, havia subtraído leite e terneiros. As vacas, com vida útil limitada a poucos anos, obrigaria a entidade a cobrança de algum ressarcimento. O discurso do maioral foi nessa ênfase.
O rural, no decurso da conversação, colocou sua tônica. Este, pelo senso de justiça, concordava em pagar alguma reparação (pelo ônus de uso prolongado de uns quatro bons anos). Ele, como criador e tratador, também tinha sua necessidade de cobrança de dispêndios. A cooperativa deveria compensá-lo pelo trabalho de cuidar e o trato animal dispendido neste longo espaço de tempo. A solução, numa choradeira e lamúria mútua, ficou na típica troca/tradicional “elas por elas”.
Os amigos, conhecidos e vizinhos admiraram-se da astúcia e ousadia do produtor. Ele, um pacato morador, “conseguiu passar a perna no cara mais esperto da comuna”. Alguém finalmente conseguira encampar e ludibriar o presidente da cooperativa. A entidade mostrava-se sempre a parte mais forte e o produtor a parte mais frágil. A corda, pela experiência, arrebentava sempre na parte mais fraca e dessa vez fora uma exceção. Poucos davam-se o direito de falar de igual para igual com uma autoridade desse porte.
Bons argumentos derrubam um conjunto de explicações e palavras. Os modestos, nos confrontos teóricos, costumam advir com ideias e opiniões determinadas e meditadas. Contratos mal elaborados não passam de aborrecimentos e prejuízos monetários. Comprovantes são meros papéis e não compram as necessidades na esquina.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Colonial”

Crédito da imagem: http://www.waitaki.com.ar/

domingo, 17 de março de 2013

O cheiro


Os pastores, de determinada confessionalidade religiosa, advinham da Europa. Outros, filhos da terra, eram enviados ao Velho Continente para o estudo universitário. A colonização, com suas muitas carências de toda ordem, não tinha como estabelecer entidades de formação teológica. Esta, nas décadas sucessivas, conheceu sua fundação (como estabelecimento à formação pastoral).
A tradição oral, em mais umas das suas muitas e variadas histórias, conta o relato de determinado religioso. Este, saindo jovem das colônias e passando anos nas cidades europeias, acabou destacado à determinada comunidade do  interior. Este, num lugarejo (distante de maiores centros urbanos), tornou-se uma espécie de autoridade. Ele, na compreensão de muitos fiéis, era o elo/ente estabelecido entre o divino e o profano. Os pastores, pela consideração em relação aos moradores e pela sua especial formação, ganhavam a maior admiração, consideração e respeito. As palavras do religioso, em geral, ostentavam-se uma espécie de velada lei.
O fulano, como jovem esbelto e solteiro, foi recepcionado em determinada família. Um hóspede muito especial e ímpar. A moça do clã, sabendo das condições de desimpedido,  mantinha-o como um bom par. Os familiares, de alguma forma, facilitaram no relacionamento e eventuais intimidades. O religioso, pela formação e seriedade, não oferecia maiores perigos à jovem da família.
Ela, num domingo a tarde, foi destacada para mostrar o patrimônio familiar e uma visão panorâmica da localidade. O casal/as partes, de forma descompromissada, saíram a cavalgar pela estrada geral. Os potreiros, de modo geral, estendiam-se nas beiradas e percursos da via. Imensos gramados, com amplas criações (aves, bovinos, ovinos e suínos), reafirmaram  o progresso colonial.
Estes, num determinado ponto, depararam-se com alguma vaca em cio e o touro predisposto a fazer sua função (máscula). O jovem, como curioso nato, perguntou: “- Como o touro sabe dos desejos da vaca?”  A menina moça, criada entre criações e plantações, rebateu: “- Este sabe pelo cheiro e o líquido escorrendo na parte vaginal!”
Estes, numa certa altura, foram andando nos seus pingos. A jovem moça, num trajeto das andanças, não aguentou o descaso e indiferença da parceria. Esta, de forma curta e seca, interrogou: “- Não cheiras nada de diverso?” O religioso, na sua astúcia e temor (de comentários e comprometimentos futuros), replicou: “- Não! Quê poderia cheirar de diverso?” Aí a moça, numa explanação ímpar, externou seu espanto e desejo: “- Mostras-te mais burro e inexperiente como o touro?” 
Certas ofertas, numa determinada época e contexto social, eram compromissos e obrigações na certa. A carne dos desejos, em todas as épocas e situações, ostenta-se fraca e predisposta a tentação.
As afinidades humanas afinam-se e unem-se no contexto da convivência. O cidadão, para amar e gostar, precisa ter afinidade e desejos amorosos com o próximo (caso contrário convém abster-se de certas iniciativas e práticas). Alguém, no contexto das intimidades e relacionamentos, precisa tomar a iniciativa da ação.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://www.algarvehousing.net

sábado, 16 de março de 2013

Um singelo espaço


Uma professora, com propriedade de casa e terreno (numa cidade do interior), permutou os bens por outro imóvel numa praia. Ela era obcecada pela maresia. Aquela névoa fina, salgada e úmida faria bem a saúde assim como esquecer os dissabores dos compridos e estressantes anos letivos. Afinal! Trabalhar, como educadora (com alunos), consiste num desgaste e dilema. O indivíduo, no final das contas, merece uma distração e mimo!
A proprietária, com ampla casa e terreno na orla marítima, resolveu dar alguma destinação a superfície desnuda (área desocupada do gramado). O vasto terreno ostentava-se aconchegante e bonito, porém nada de maiores dividendos monetários. Esta pensou e repensou uma maneira de extrair ganhos da extensão mal aproveitada. Ela procurou uma forma de diluir encargos de manutenção do espaço. Impostos e reparos, no final das contas, absorviam boas somas em encargos do orçamento.
A alternativa, como forma de investimento, foi reunir as esparsas divisas. Ela, aqui e acolá, juntou economias e salários para iniciar um projeto de construção. Perguntou construtores e familiares sobre prováveis custos. Conectou com profissionais disponíveis à construção. Ideias e sugestões, como projeto, foram estudados e analisados. Decidiu-se, num determinado momento, pelo empreendimento. Mãos a obra foi o passo subsequente. Investiu antes que mudasse de opinião.
A dona, num canto do terreno (de fácil acesso), edificou mais uma singela moradia. Área,  banheiro, cozinha e quarto foram as peças. O imóvel teria a nobre função de ser alugado e trazer dividendos em formas de aluguéis. Custear, nos poucos meses de praia, os encargos de manutenção do conjunto de bens no ano. O projeto, em poucas semanas, viu-se concretizado/edificado. Os inquilinos afluíram e pagaram, de forma antecipada, o ônus de uso.
O espírito empreendedor  como exemplo digno de admiração e maiores elogios, chama atenção da história. Uns parecem ter vocação nata para arriscar e criar. As dificuldades e problemas enxergam como oportunidades. Dedicam-se a realizar projetos e sonhos. Estes, com essa excepcional postura, fazem o bem a outros, porém não deixam de ganhar um bom dinheiro. O espírito comercial e construtor encontra-se impregnado na alma. As forças, ideias e trabalhos realizam como sonhos (em forma de milagres).
Certos lugares, com as construções repentinas, mudam o cenário paisagístico. Prédios, em espaços desnudos, parecem brotar do chão/surgir do nada. O cidadão, numa ausência de semanas ou meses, parece depara-se num ambiente diverso (com conjunto de edificações). Admira-se das mudanças e parece desconhecer os originais lugarejos. As paisagens, com a interferência humana, assumiram outras formas e olhares. O particular, de cada qual (em forma de um pouco), faz a diferença no geral.
Os esforçados e inovadores, em cada situação e realidade, cedo vislumbram oportunidades e sonhos. Ganhos extras mostram-se gratificações pelo espírito arrojado e quadro de riscos. Quem alimenta esperanças e sonhos esquece-se de preocupar com problemas de existência. Os atrevidos tem o sublime dom de “extrair água de pedra”. O tino empresarial de uns permite enriquecer vendendo “pedras brutas como nobres peças”.

                                                                        Guido Lang
                                                 “Singelas Histórias do Cotidiano das Existência” 

Crédito da imagem: http://www.skyscraperlife.com

sexta-feira, 15 de março de 2013

Umas singelas peças


Convento São Boaventura - Imigrante/RS, construído todo em pedra-grês.

As pedras, por milênios, jaziam adormecidas nas brutas e cobertas minas. Os materiais, na profundidade do tempo, achavam-se numa aparência de eternas (nas inércias e reservas).
Uns forasteiros, no contexto dos primórdios da colonização e ocupação colonial, achegaram-se numa certa ocasião. Estes senhores, com habilidade finita e paciência ímpar, passaram a destacar e rachar lascas (em forma de variadas peças e tamanhos). Umas escassas ferramentas (a base do aço e ferro maciço), manipuladas por milagrosas e práticas mãos, extraiam estranhos e variados quadrados. Estas peças, conforme as finalidades de uso, mantinham dimensões e formatos diversificados (de algumas dezenas de centímetros em altura, comprimento e largura). Os objetivos das extrações consistiam numas nobres funções e missões nas construções.
Os conjuntos de milhares de peças, em dias, semanas, meses, anos e décadas de extrações, viam-se destacados e selecionados (conforme as necessidades próprias). Os pedaços das lascas, umas caricaturas e miniaturas comparadas as minas de pedras grês, foram sendo arrastados e carregados. O trabalho animal e humano, na direção dos espaços das obras, conheceram dedicação, habilidade e inteligência. Os locais, costumeiramente um pouco distantes das estradas gerais e no interior das propriedades, ganharam dimensões de instalações diversas. Alguma visão panorâmica, como encostas das colinas (na proporção de haver água), tinham preferência nos locais de montagem.
Algumas centenas de milhares de unidades,  destacados do conjunto, foram sendo amontoados e empilhados cuidadosamente e pacientemente nas muitas picadas (localidades). Algumas peças, as mais robustas e volumosas, tiveram as funções de alicerces. Elas, no contexto geral, precisaram comportar as mais leves. As mais leves ganharam a dimensão de paredes. Umas quatro, com subdivisões no centro, tomaram sentido das moradias. Edificações sólidas, desafiadoras do tempo, fizeram-se em função da dureza dos materiais. Os calores, chuvas, frios e  ventos viam-se suavizadas no contexto dos abrigos (edificados nas matas subtropicais). Umas três a quatro gerações abrigaram-se e criaram-se nas construções (durante um período de muitas décadas).
As construções obsoletas, em função das peças, foram desmontadas e remontadas. A modernidade adveio para enterrar modelos de vida do passado. Os materiais, de modo paciencioso, foram novamente desmontados. Umas mãos, agora da descendência, trataram de carregá-las em potentes veículos. Elas, em lugarejos variados, foram descarregados e reconstruídos. Estas, como no passado, mantiveram suas funções.
Outros humanos, como velhas cozinhas e salas, adquiriram-os por míseros trocados. Alguns enamorados, como jovens casamenteiro, continuaram a epopeia humana (de edificar casas e constituir famílias). Estes, com ajuda de auxiliares e pedreiros, refizeram a metódica labuta da montagem e reconstrução. As preocupações, como na origem, consistiam em fazer mais com o menos dos recursos (com razão de fazer render o dinheiro). Outras semanas e meses, de esforço e suor, foram necessários para fazer brotar habitações em novos moldes.
As pedras, legados dos ancestrais, continuaram sua nobre e  sublime missão de abrigar das intempéries do tempo. As moradias, noutras três a quatro gerações, certamente tem a função de cuidar e guardar humanos. Estes materiais vêem-se encaixados e readaptadas as necessidade da modernidade. Algum reboco, para esconder o cru, escondem as muitas e variadas peças. As pesadas e sólidas rochas, no contexto dos manejos das construções, mostraram-se judiadas e penosas.
As pedras reformuladas, umas vez empilhadas, formaram um conjunto ímpar. Umas robustas edificações desafiam o tempo e dão conforto e segurança aos proprietários. Os quebradores, no processo da colonização, passaram no silêncio do anonimato (na proporção da ausência ou carência de registros). A tradição oral, nas décadas sucessivas de sucessão das gerações, iriam esquecendo nomes e práticas dos autores das façanhas.
Se as peças, num conjunto de roda viva, pudessem falar da história. A grandiosidade do gênio humano, no seus muitos anonimatos, seriam dignos de admirações e registros. Como ocorreram as extrações? Quais as ideias e filosofias das pessoas envolvidas? Que modo de vida ostentavam? Quem eram os reais construtores? Algumas funções, nos sucessivos futuros, continuarão sendo dadas às pedras. Estas, umas vez destacadas e selecionadas, ganharam uma serventia ímpar. Estudiosos, nas posterioridades, elaborarão teorias e tratados sobre técnicas de construção.
Uma realidade, comum nas colônias, consiste em desmontar antigas construções e remontar os materiais em novas edificações. As pedras, no tempo, desafiam as gerações  na proporção de servirem a muitas humanos. As peças, talhadas com habilidade e paciência, tem uma continua serventia nas propriedades coloniais.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:http://www.turismo.rs.gov.br 

quinta-feira, 14 de março de 2013

O conhecimento da legislação


Uma pacata senhora, advinda do interior, bateu numa fábrica de calçados. Ela pediu emprego na linha de produção. A empresa, com baixos salários, precisava de gente em função da alta rotatividade. A oportunidade de trabalho foi dada ao pedido. Os ganhos, apesar de baixos (em função dos muitos descontos de encargos), era melhor do que estar desempregado/parado. A inatividade consumia eventuais sobras familiares.
Umas boas semanas transcorreram a título de estágio e experiência. O trabalho, a princípio, parecia agradar as duas partes. O negócio, de contrante e contratado, tomou o rumo da efetivação no cargo/posto. As partes pareciam estar a contento com os mútuos resultados.
A funcionária, numa altura, ausentou-se por três dias seguidos do emprego. A empresa, através da gerência, preocupou-se com a ausência (em função de nalgum sucedido ímpar). Alguma anomalia familiar certamente tinha motivado o fato. A fulana, contrastando com a prática da empresa, absteve-se de dar a tradicional explicação/justificativa. A norma, nestes casos imprevistos, era de falar com a chefia e “sanar eventuais arestas”. A cidadã, num descaso e petulância, deu a mínima aos interesses e necessidades da empresa.
A gerência, num momento, foi ao encontro da fulana para uma conversa/diálogo. Os chefes queria entender as repentinas ausências. A funcionária, de forma categórica e grosseira, externou: “- Conheço bem as leis trabalhistas! Sou também formada em advogacia!” A decepção e surpresa foram ainda maiores. A gerência desconhecia esse singelo detalhe (na hora da efetivação). O sigilo profissional havia sido escamoteado!
O estudo, em ambientes de ar condicionado e computadores, não consegue atender a todas as demandas do mercado trabalhista. Uns muitos, apesar da parafernália de máquinas (de todos as funções e tipos), precisam continuar firmes na linha de produção (ocupados com tarefas braçais). A formação universitária, após a conclusão de curso, deixa o estudante de mãos abanando e a necessidade obriga a trabalhar (começando por baixo). Inúmeros trabalhadores procuram emprego em vez de trabalho (o certo seria trabalho para ter emprego).

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Urbano”

Crédito da imagem: http://www.melhoradvogado.com.br