Uma pacata senhora,
advinda do interior, bateu numa fábrica de calçados. Ela pediu emprego na linha
de produção. A empresa, com baixos salários, precisava de gente em função da
alta rotatividade. A oportunidade de trabalho foi dada ao pedido. Os ganhos,
apesar de baixos (em função dos muitos descontos de encargos), era melhor do
que estar desempregado/parado. A inatividade consumia eventuais sobras
familiares.
Umas boas semanas
transcorreram a título de estágio e experiência. O trabalho, a princípio,
parecia agradar as duas partes. O negócio, de contrante e contratado, tomou o
rumo da efetivação no cargo/posto. As partes pareciam estar a contento com os
mútuos resultados.
A funcionária, numa altura,
ausentou-se por três dias seguidos do emprego. A empresa, através da gerência,
preocupou-se com a ausência (em função de nalgum sucedido ímpar). Alguma anomalia
familiar certamente tinha motivado o fato. A fulana, contrastando com a prática
da empresa, absteve-se de dar a tradicional explicação/justificativa. A norma,
nestes casos imprevistos, era de falar com a chefia e “sanar eventuais arestas”.
A cidadã, num descaso e petulância, deu a mínima aos interesses e necessidades
da empresa.
A gerência, num
momento, foi ao encontro da fulana para uma conversa/diálogo. Os chefes queria
entender as repentinas ausências. A funcionária, de forma categórica e
grosseira, externou: “- Conheço bem as leis trabalhistas! Sou também formada em
advogacia!” A decepção e surpresa foram ainda maiores. A gerência desconhecia esse
singelo detalhe (na hora da efetivação). O sigilo profissional havia sido
escamoteado!
O estudo, em ambientes de ar condicionado e computadores,
não consegue atender a todas as demandas do mercado trabalhista. Uns muitos,
apesar da parafernália de máquinas (de todos as funções e tipos), precisam continuar
firmes na linha de produção (ocupados com tarefas braçais). A formação
universitária, após a conclusão de curso, deixa o estudante de mãos abanando e
a necessidade obriga a trabalhar (começando por baixo). Inúmeros trabalhadores
procuram emprego em vez de trabalho (o certo seria trabalho para ter emprego).
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano Urbano”
Crédito da imagem: http://www.melhoradvogado.com.br
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