sábado, 9 de março de 2013

O compasso da vida



O camarada, na real do cotidiano dos dias, nunca sabe as alegrias, infortúnios e realizações no compasso de espera da existência. A sabedoria, das abelhas e formigas, manda acumular reservas para resguardar-se das dificuldades e imprevistos do tempo. O esperto aprende os melhores exemplos e lições com a experiência e vivência alheia. O indivíduo acata o sábio e arquiva/descarta o inútil.
Entenda o raciocínio dos próximos? Um certo camarada conviveu como família abastada e conceituada. Os avós mantiveram bela propriedade e grandes áreas de terras. Estas, com a progressiva urbanização, foram sendo divididas e vendidas. Quadras inteiras foram comercializadas e “passadas no troco” (pelos filhos). A despreocupação ocorreu com a formação intelectual e profissional assim como a manutenção de capitais e reinvestimentos. O dinheiro entrava fácil e grosso, porém era gasto em abundância e facilidade (como se nunca terminasse).
Umas décadas transcorreram e só sobrou uma diminuta e exclusiva área de terreno. Um descendente, como neto, acabou como herdeiro e morador do espaço. A cidade, com a progressiva urbanização, tomou conta das antigas terras. Algumas vilas, como periferia urbana, formaram-se nas outroras lavouras. A roça, das tradicionais culturas, viram-se ocupadas com conjuntos de prédios e ruas.
O morador, herdeiro da antiga rica e tradicional clã, deparou-se com dificuldades financeiras.  Este, em meio a carência e penúria, lamentou o descanso dos pais (com a herança dos avós). A festança foi grande no contexto da bonança e fartura. A mansa vida foi uma alegria e realização (na proporção de ter durado o dinheiro e patrimônios). O trabalho, no ínterim dos anos, foi pouco e criou-se o hábito do desapego e desleixo. A preocupação, com colégios (próximos a porta) e cursos (variados), manteve-se igualmente desatenta e escassa. A descendência, com princípios/valores novos em contrante aos avós, “deixou passar o cavalo encilhado” da abundância e riqueza.
Os anos transcorreram antes do imaginado e adveio o peso da idade. O trabalho, agora como improvisado pedreiro, rendeu pouco e sobrou viver com o mínimo da aposentadoria. A solução, para uma dignidade e qualidade de vida,  consistiu em reivindicar benefícios e direitos sociais (próprios a terceira idade). Uma realidade social dura no desfecho duma existência (outrora abonada e floucha). O trabalho ocasional/pico, como complemento de renda, não cobriu as reais necessidades de consumo (na velhice).
O cidadão, em bens econômicos, consumiu mais do que o produzido na vida útil. Outros/estranhos, com sua contribuição social, precisaram complementar os encargos da sobrevivência. O exemplo demonstra o quadro melancólico de certos ensinamentos familiares. Os pais abstiveram-se de ensinar a importância de poupar e trabalhar. Cortar a carne, até o osso, na proporção das necessidades. Produzir sobras, na aurora da existência, com razão de guardar (às intempéries do tempo) fora uma despreocupação.
Os desperdícios e desqualificações levam a penúria e pobreza. O maior pecado dos genitores consiste em ensinar mal os filhos. A frieza de ensinar e o rigor das cobranças, nos momentos próprios das atitudes e atos, doem e ferem o coração dos pais, porém revelam-se uma alegria e bênção no porvir dos rebentos.

Guido Lang
“Singelas Histórias no Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem: http://www.cpcon.eng.br

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