O camarada, na real do cotidiano dos
dias, nunca sabe as alegrias, infortúnios e realizações no compasso de espera
da existência. A sabedoria, das abelhas e formigas, manda acumular reservas
para resguardar-se das dificuldades e imprevistos do tempo. O esperto aprende
os melhores exemplos e lições com a experiência e vivência alheia. O indivíduo
acata o sábio e arquiva/descarta o inútil.
Entenda o raciocínio dos próximos? Um
certo camarada conviveu como família abastada e conceituada. Os avós mantiveram
bela propriedade e grandes áreas de terras. Estas, com a progressiva
urbanização, foram sendo divididas e vendidas. Quadras inteiras foram
comercializadas e “passadas no troco” (pelos filhos). A despreocupação ocorreu
com a formação intelectual e profissional assim como a manutenção de capitais e
reinvestimentos. O dinheiro entrava fácil e grosso, porém era gasto em
abundância e facilidade (como se nunca terminasse).
Umas décadas transcorreram e só sobrou
uma diminuta e exclusiva área de terreno. Um descendente, como neto,
acabou como herdeiro e morador do espaço. A cidade, com a progressiva
urbanização, tomou conta das antigas terras. Algumas vilas,
como periferia urbana, formaram-se nas outroras lavouras. A roça, das
tradicionais culturas, viram-se ocupadas com conjuntos de prédios e ruas.
O morador, herdeiro da antiga rica e
tradicional clã, deparou-se com dificuldades financeiras. Este, em
meio a carência e penúria, lamentou o descanso dos pais (com a herança dos
avós). A festança foi grande no contexto da bonança e fartura. A mansa vida foi
uma alegria e realização (na proporção de ter durado o dinheiro e patrimônios).
O trabalho, no ínterim dos anos, foi pouco e criou-se o hábito do desapego e
desleixo. A preocupação, com colégios (próximos a porta) e cursos (variados),
manteve-se igualmente desatenta e escassa. A descendência, com
princípios/valores novos em contrante aos avós, “deixou passar o cavalo
encilhado” da abundância e riqueza.
Os anos transcorreram antes do
imaginado e adveio o peso da idade. O trabalho, agora como improvisado
pedreiro, rendeu pouco e sobrou viver com o mínimo da aposentadoria. A solução,
para uma dignidade e qualidade de vida, consistiu em reivindicar
benefícios e direitos sociais (próprios a terceira idade). Uma realidade social
dura no desfecho duma existência (outrora abonada e floucha). O trabalho
ocasional/pico, como complemento de renda, não cobriu as reais necessidades de
consumo (na velhice).
O cidadão, em bens econômicos, consumiu
mais do que o produzido na vida útil. Outros/estranhos, com sua contribuição
social, precisaram complementar os encargos da sobrevivência. O exemplo
demonstra o quadro melancólico de certos ensinamentos familiares. Os pais
abstiveram-se de ensinar a importância de poupar e trabalhar. Cortar a carne,
até o osso, na proporção das necessidades. Produzir sobras, na aurora da
existência, com razão de guardar (às intempéries do tempo) fora uma
despreocupação.
Os desperdícios e desqualificações
levam a penúria e pobreza. O maior pecado dos genitores consiste em ensinar mal
os filhos. A frieza de ensinar e o rigor das cobranças, nos momentos próprios
das atitudes e atos, doem e ferem o coração dos pais, porém revelam-se uma
alegria e bênção no porvir dos rebentos.
Guido Lang
“Singelas Histórias no Cotidiano da Vida”
Crédito da imagem: http://www.cpcon.eng.br
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