Inúmeras localidades,
muito modestas e singelas, localizam-se no interior. Elas, nas décadas de
colonização, ostentam uma particular e rica história. A comunidade escolar e religiosa, de acordo aos
acessos, definem suas divisas. Algumas mostram-se tão discretas que mal
aparecem nos mapas/referências municipais.
Outras colônias abrigam
um punhado de moradores tradicionais e as casas somam mal algumas dezenas. O
núcleo comunitário concentra-se nalguma baixada central (onde instalou-se o
comércio, escola e templo). O centro comunitário é o local próprio aos
encontros e reencontros dos naturais.
Uma certa comunidade,
numa década inteira, conheceu uma anomalia. Esta, na sua entidade religiosa,
mantinha um quadro de devoção ímpar. Algum encontro religioso via afluir os
membros dos cantos e recantos do lugarejo. Uns entendiam a ausência, nos
cultos/missas, como aparente pecado. Cada família, pela recomendação da
tradição, mandava no mínimo algum representante.
O local, pela
história, tinha sido o espaço do surgimento de diversas vocações. Os jovens,
nalgum momento, tomavam o rumo da direção das escolas de formação teológica.
Cada vocação era compreendida como benção/graça divina.
O fato curioso
relacionava-se a uma certa distorção genética. A última década tinha conhecido
o nascimento de inúmeras crianças de cabelo ruivo. Uma situação anômala no
contexto das comunidades circunvizinhas e população de predominância de origem
europeia. O comum era nascer uma e outra criança ruiva, porém não em tamanho
número de representantes.
Os coloniais, de
outras entidades co-irmãs, passaram a reparar e comentar a particularidade. O
falatório difundiu-se no contexto regional e perguntas foram surgindo sobre o
tema. As lideranças comunitárias, na proporção da chegada do assunto aos seus
ouvidos, passaram a importar-se com a sucessão de acontecimentos.
Uns falaram de terem
tido algum antepassado de cabelos assemelhados na família. Outros em mudanças genéticas,
em função do trabalho massivo ao relento das roças, com o excesso de exposição à
insolação (na proporção de ostentarem pele branca). Alguns mais, na questão da
mistura de povos, em decorrência das procedências variadas da velha Europa...
Os comentários
arrastaram-se por umas boas semanas e meses. O assunto, numa certa ocasião, viu-se
comentado no seio duma reunião do presbitério. Vários integrantes da diretoria
ficaram surpresos e careceram de respostas (à anomalia). Um certo “boca grande”,
como sempre tem aquela peça, sugeriu numa altura das conversas trocar de
religioso. Este, idem com cabelo ruivo, precisaria dar um tempo ao trabalho
pastoral. A comunidade deveria conhecer novas bênçãos e ousadas renovações. Os
moradores, neste ínterim, tinham concebido uma dezena de crianças (com cabelo
avermelhado em inúmeros lares).
A troca do religioso,
com a concordância de uns e discordância de outros, acabou concretizada. Outro
jovem profissional advenho à pratica do serviço de cura d’almas. Um sucedido
ímpar aconteceu: meninas/os deixaram de nascer com essa escassa coloração no
couro cabeludo. A distorção, através da extrema fé e rezas dos membros, tinha
sido corrigida como deficiência e distorção. A devoção realizara outra inexplicável
maravilha/milagre. Os religiosos, através das atitudes e colocações verbais,
exercem uma enorme influência nos pacatos moradores do interior.
Inúmeras suspeitas acabam comentadas unicamente nos círculos
íntimos das conversas familiares. Determinadas distorções e incoerências, na
hipocrisia humana, costumam ser varridas nos cantos e recantos dos pátios
coloniais. As anomalias possuem suas explicações e o problema reside na
descoberta das reais origens. Inúmeras histórias e relatos pitorescos carecem
de maiores apontamentos e registros literários. O incoerente, entre a prática e
teoria, custa a angariar maior confiança e credibilidade.
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Colonial”
Crédito da imagem: www.umadguar.com.br
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