Guido Lang
A
vida costuma inspirar-se na natureza, quando águas, animais e plantas
descortinam belos cenários geográficos aos olhos humanos. O Rio dos Sinos,
berço de muitas histórias e lendas, continua fascinando os moradores
circunvizinhos, quando, apesar das massivas agressões ambientais, ostenta-se
como excepcional paisagem natural. Inúmeros enamorados e poetas contagiam-se
com sua formosura e maravilha, quando, em meio a agitação e correria urbana,
dão-se um instante de percorrer suas cercanias. Estes, em momentos, refugiam-se
nos últimos resquícios dos santuários ecológicos, que, no nosso contexto, sobrevivem
no curso pluvial e encostas do planalto. As histórias e lendas, frutos da
imaginação e sonho, criam-se ao longo das vivências, quando somam-se ao
conjunto das crendices e superstições populares.
Uma recente
versão adveio de um jovem casal enamorado, que, como amantes da natureza,
resolveram conhecer e refugiar-se na harmonia e na tranquilidade das águas e
vegetações dos Sinos. Estes serviram-se de um pacato caíque, que esparsamente
ainda corta as singelas águas. Os apaixonados tomaram a embarcação no Porto
Blos/outrora Passo de Campo Bom, quando tomaram o rumo do curso superior do
rio. Estes, depois de depararem inúmeras agressões, puderam também conhecer
facetas da diversidade biológica. Várias espécies de aves sobrevivem
corajosamente “aos avanços do progresso”, quando lutam desesperadamente diante
dos progressivos aterros, dragagens, dejetos, habitações... Outros exemplares
da vida silvestre, distante dos olhos, deve haver nos refúgios, quando ousa subsistir a cobiça e incursões humanas.
Os visitantes, em meio às clareiras dos
banhados e matos, puderam apreciar, a centena de quilômetros quadrados de áreas
inundáveis, a situação existencial das margens. Diversos lugares chegam a
confundir os desavisados forasteiros, quando estranhas crateras misturaram-se
ao ambiente de campos, clareiras, maricás... Os buracos são os grandes
barreiros, que foram escavados pela centenária atividade oleira. O extrativismo
mineral, em vários exemplos, criou a fisionomia de açudes, no qual proliferam
marrecos, mosquitos, muçuns, nutrias, sapos, traíras... Esporádicas iniciativas
agrícolas sucedem-se ao longo do curso, quando basicamente relacionam-se ao
pastoreio. As plantações são uma raridade, pois o barro preto e visguento
praticamente ostenta-se infértil. Os raios solares, nos verões quentes,
deixam-no duro como pedra, quando o solo fica rendilhado em mil canais. Os pioneiros,
nos primórdios da colonização, já frustraram-se com safras, quando partiram à
atividade oleira e criação de gado.
Os
jovens aventureiros, próximo ao outrora Passo da Cruz (divisas de Campo Bom,
Novo Hamburgo e Sapiranga), tiveram a sensação de terem escutado estranhos
ruídos, que, conhecedores da "Lenda dos Sinos", pareceu-lhes de algum artefato
metálico. Estes, de imediato, ligaram os fatos do ruído aos desaparecidos
sinos, que, há séculos, estariam fundiados nas profundezas do rio. A sonoridade
aguda, escutada por navegantes e pescadores nas caladas das noites chuvosas e
escuras assim como claras e de lua cheia, tomou-lhes os ouvidos. Os estranhos
barulhos e ruídos, de imediato, foram interpretados como um aviso dos
espíritos, que aguçaram seus instintos com vistas de estabelecer uma
aliança e união duradoura. As suas relações acabariam seladas num matrimônio,
que resistiria às agruras da monotonia e problemas do cotidiano.
O fato
vivenciado criou nova versão aos enamorados, que, tendo o privilégio de ouvir o
ruído dos sinos fundiados, terão a certeza da indissolubilidade do matrimônio e
um relacionamento inquebrável. Uma bela e majestosa união familiar tomaria
vulto para aqueles privilegiados, que tem a alegria e o privilégio de escutar
os discretos e singelos ruídos. Uma leva de encantados, em função do
conhecimento da mais nova lenda, toma o caminho do rio, quando almeja
beneficiar-se da bênção e dádiva dos sinos. Narra a lenda que a fé é imprescindível
na versão, caso contrário o som metálico seria inaudível aos ouvidos humanos.
Amigos
enamorados! Alimentem o segredo e o sonho da "Lenda do Rio dos Sinos", quando por
ventura serão beneficiados e presenteados com a sólida união.
Autor: Guido Lang
Fonte: Jornal O Fato, número 1182, dia 21/10/1997, página
06.
Crédito da imagem: https://medium.com/ouro-preto/6-coisas-que-voc%C3%AA-s%C3%B3-ir%C3%A1-fazer-em-ouro-preto-575f285eba41
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