Guido Lang
Uma
localidade interiorana foi cenário de um fato financeiro marcante, que retrata
facetas do espírito econômico e poupador da descendência teuto-brasileira.
Dois solteirões, moradores do
interior de uma pacata comunidade rural, viveram uma experiência essencialmente
modesta. Eles, durante anos de labuta, foram acumulando divisas monetárias,
pois mantinham a filosofia germânica do poupar nas farturas, com intuito de ter
recursos nos infortúnios. Os rapazes conseguiram sobreviver essencialmente com
o mínimo, em que, um certo conforto e bem-estar era compreendido como luxo. Os
frutos do trabalho, continuamente, sobravam.
Um certo dia, um dos moços veio a
perecer, quando o sobrevivente, com vista a não cair no desleixo e solidão, foi
acolhido por um parente próximo. A solidariedade cristã e familiar era
cultivada comumente, no meio colonial. A mudança, depois de décadas de vida,
naquela casa e terra (herdada dos ancestrais), tornou-se necessária. Alguns moradores,
amigos e vizinhos auxiliaram na tarefa da escassa mudança de bens, que restringiam-se
a meia dúzia de pertences. Os ajudantes, depois de alguns minutos de labuta,
depararam-se com dois enormes sacos, que pareciam tomados de papéis. O solteirão
recomendou cuidado especial e por isso, atiçou a curiosidade do pessoal.
Os curiosos, de imediato, resolveram
conferir o conteúdo dos invólucros, e ficaram admiradíssimos com as imagens. Os
papéis consistiam de notas de dinheiro que, durante duas vidas inteiras, foram
guardados naqueles espaços. As notas, sobretudo em cruzeiros, encontravam-se
com seu valor vencido. As estimativas dão conta que, pelos valores da época,
daria para comprar uma boa extensão de terra ou na atualidade, adquirir
diversos veículos. Os ajudantes lamentaram profundamente o “leite derramado”.
Os poupadores, centavo por centavo,
foram juntando os ganhos na sua rígida mentalidade econômica. As pessoas
abstinham-se de investir na lavoura, privavam-se de melhorias alimentares,
renunciavam ao conforto... Um sacrifício em vão em função do desconhecimento da
escalada inflacionária brasileira. O exemplo mostra o espírito poupador germânico,
gosto acentuado pelo dinheiro, temores com o porvir... Eles sobreviviam com o mínimo,
com vistas a economizar o máximo.
A vida, em momentos, prega-nos peças
esdrúxulas e interessantes.
(Texto
extraído de “Contos do Cotidiano
Colonial”, página 15, de Guido Lang).
Crédito da imagem: http://descubracastelo.com.br/cedulas-do-brasil/
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