Guido Lang
As colônias alemãs, sobretudo do Vale do
Taquari, foram abaladas pela Revolução Federalista (1893-1895). Os maragatos e
pica-paus continuamente incursionavam pelas picadas, e ambos adonavam-se de
víveres e roubavam casas comerciais.
Os colonos, em diversas
oportunidades, viram suas criações e plantações pilhadas. As tropas, sem
mantimentos, abasteciam-se nas pacatas propriedades rurais, que cediam aves,
bovinos e suínos, assim como montarias. Os moradores, com vistas a não sofrer
maiores represálias, cediam os bens. Os dividendos monetários acumulados com
muita economia e trabalho também necessitaram de esconderijos seguros, pois
atiçavam a cobiça humana.
Um morador colonial, perseguido
pelos maragatos (por ser simpatizante dos castilhistas), precisou esconder-se
no interior dos matos da sua propriedade, pois recebia, constantemente, visitas
de inimigos. Estes, a todo momento, procuravam-no com o intuito de degolá-lo,
era tido como informante de republicanos. Necessitou também esconder seu numerário
financeiro, que consistia de alguns quilos de moedas de ouro e prata (do período
imperial). Ele, como refugiado, resolveu armazená-lo no interior de um orifício
oco do tronco da tradicional figueira centenária. O colono, com convicção,
confiou na segurança daquela guarda, pois o período revolucionário certamente
seria breve.
A instabilidade política e a
perseguição estenderam-se por meses. O cidadão, num belo dia, veio a adoecer e
a morte súbita ceifou-lhe a existência. O dinheiro, durante décadas, ficou
guardado no interior da exuberante figueira, que mantinha-se como símbolo de
perenidade. As gerações de familiares, vinham e iam, e nada de desfazer o mistério
das moedas. Ele, inclusive, tinha dado origem a histórias familiares, que eram
narradas de pais para filhos. Os forasteiros e moradores, em diversas ocasiões,
chegavam a abrigar-se nas sombras da formosa árvore que não parecia ostentar
maiores segredos.
Um agricultor, com vistas a fazer
espaçosa roça, resolveu derrubar a árvore, que, com advento da mecanização agrícola,
representava um estorvo. A motosserra, em poucos minutos, foi ceifando e
retalhando a planta, quando, numa certa altura, escutou-se um estranho ruído. O
barulho denunciou a presença de metais, e vieram à tona as extraviadas moedas. Uma
alegria tomou conta do pacato trabalhador rural que, casualmente, deparou-se
com a fortuna.
A vida, em escassas oportunidades,
defronta-nos com dádivas e surpresas.
(Texto extraído de “Contos do Cotidiano Colonial”, página
16, de Guido Lang).
Crédito da imagem: https://pixabay.com/pt/photos/bitcoin-moedas-ouro-dinheiro-moeda-282798/
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