Guido Lang
A
cidade de Campo Bom mantém uma esdrúxula construção, que salta aos olhos dos
forasteiros. Estes, nas suas passagens de carro ou linhas de ônibus, costumam
interrogar sobre a razão daquela edificação. Esta trata-se do atual prédio da Biblioteca
Pública Municipal Dr. Liberato, que ostenta, junto as construções da Antiga
Igreja Evangélica e a Sociedade 15 de Novembro, uma riquíssima trajetória. Os antigos
unicamente ainda memorizam fatos notáveis, que, desde 1935, foram sucedendo-se
na notável obra.
A
Antiga Estação Ferroviária de Campo Bom, a partir de 1934, tomou corpo, quando
mobilizou a elite econômica e monetária da então pacata vila distrital. O lugarejo,
num acelerado processo de industrialização, necessitava de uma nova estação ferroviária,
na qual haveria espaço para a circulação de mercadorias e pessoas. A casinha do
trem existente era muitíssimo pequeno para atender as novas necessidades,
quando moradores e produtos, em meio à espera dos comboios ferroviários,
poderiam ficar expostos a ação das intempéries do tempo. Os empresários,
liderados por Alfredo Blos, Arno Kunz e Emílio Vetter, tomaram a dianteira com
a razão de edificar um novo prédio.
Os órgãos
públicos, como de práxis, mantiveram carências de verbas, que pudesse custear
as despesas do empreendimento. Os empresários, sobretudo o industrialista
Emílio Vetter, abraçaram partes da obra comunitária, quando doaram terreno e
tijolos. Pode-se dessa forma, edificar um prédio inovador que contrastava no
contexto das fábricas e residências da vila camponense. Ele também foi o
primeiro prédio comunitário, que ostentava dois pisos e, à distância, mantinha
uma magnitude e opulência. A construção, no contexto da ferrovia, foi
considerado um protótipo, que inspirou outras semelhantes edificações. As vantagens
decorriam do conforto oferecido assim como a existência de uma moradia “ao ecônomo
ferroviário”, obediência aos requisitos de higiene e a presença de um poço
artesiano.
A inauguração
transcorreu no dia 11 de abril de 1935, quando autoridades e moradores afluíam
ao grandioso acontecimento. A vila parou em função da festa, quando não
faltavam discursos, música e confraternizações. O cidadão Emílio Vetter, para
marcar a conquista comunitária, mandou abater três cabeças de gado, quando
comeram um churrasco, de forma gratuita, todos os moradores do distrito. Estes,
na sua totalidade, foram beneficiados com a concretização da velha aspiração da
comunidade, que, a muito, tinha sido reivindicada pelos moradores. Um cartão de visitas, portanto, criou-se no
lugarejo, que, nos finais de semana, reunia inúmeros campobonenses. Estes afluíram
à Estação Ferroviária com a finalidade de inteirar-se do movimento de passageiros,
quando não havia maiores opções de lazer.
A
desativação da Linha Férrea, em 1963, veio sepultar um capítulo épico, gerando
nova função econômica e social ao prédio. Este, depois de algumas adaptações,
tornou-se a sede da Prefeitura Municipal de Campo Bom/RS. O afluxo de
contribuintes veio trazer-lhe uma gama de indivíduos, que vinham satisfazer exigências
burocráticas. As tradicionais sacadas, no lado sul e norte, foram transformadas
em salas, quando ampliou-se as reais funções de uso. Alguns prefeitos, como
Evaldo Dreger, Osmar Alfredo Ermel, Werner Ricardo Bohrer, Nestor Fips
Schneider, Élio Erivaldo Martin e Karl Heinz Kopittke, dirigiram os destinos
municipais a partir do local. O espaço, a partir do aumento dos serviços
públicos em função da acelerada urbanização, tornou-se pequeno, quando, em
1988, mudou-se o local da administração municipal.
A construção,
nesta época, ganhou algumas adaptações e esparsas melhorias, quando tornou-se o
espaço da Biblioteca Pública Municipal “Dr. Liberato”. O acervo literário
municipal pode ser abrigado no seu meio, quando manteve sua vocação
comunitária. Um afluxo contínuo, de apaixonados leitores, afluem no seu
interior, quando procuram aprofundar pesquisas, inteirar-se do “cotidiano jornalístico”,
solicitar empréstimos literários... Um punhado de alunos e professores visita
as dependências, quando participam dos diversos projetos culturais oferecidos
pela biblioteca. Umas exclamações ou perguntas comuns e tradicionais costumam
desabrochar na boca da criançada: “Que estranha construção! Olha o prédio
diferente! Veja edificação esquisita!”
Os
funcionários, depois de anos de labuta no espaço, depararam-se com sensações
estranhas, quando, em momentos, desfilam no seu interior. Eles parecem ouvir
barulhos esquisitos, que advém de algumas salas. Eles descrevem acontecimentos
sucedidos com indivíduos, que a muito descansam no repouso eterno. Estes,
talvez espíritos de finados, parecem adorar a histórica construção, que, a cada
quarto de século, ganha novas atribuições comunitárias. Alguns trabalhadores,
em função dos fatos e ruídos, interrogam-se das razões daqueles enigmas e
mistérios, que apavoram supersticiosos e desafiam a lógica da compreensão
humana. Alguns sugeriram a bênção religiosa, enquanto outros a realização de
orações (em favor da paz e sossego dessas almas). Os descrentes materialistas
parecem indiferentes aos sucedidos, quando carecem importunar-se com
imaginações.
O histórico
e tradicional prédio, com presença marcante na realidade comunitária, mantém-se
uma presença marcante, quando impõem-se pelo estranho estilo arquitetônico e salienta-se
pelas múltiplas funções utilitárias.
Antiga
Estação Ferroviária de Campo Bom, portanto, mantém-se significativa, quando
apesar do estado de preservação, escreves uma rica trajetória e marcastes a
vida de uma infinidade de moradores. Segue a tua gloriosa sina, quando “ostentas
atendimentos públicos e preservas histórias dos mistérios da criação”.
Autor: Guido Lang.
Fonte: Jornal O Fato, número 1161, dia 08/08/1997,
página 06.
Crédito da imagem: https://www.guiacampobom.com.br/campo-bom/pontos-turisticos/antiga-estacao-da-linha-ferroviaria