Fonte: Guido Lang, com base
no relato de Elton Klepker (primeiro prefeito de Teutônia/RS)
Em 1983,
logo que assumiu o primeiro mandato, Klepker criou e orientou a Cooperativa de
Calçadistas Autônomos de Teutônia (COCATE). Esta foi a decisão de Klepker para
tirar da miséria os desempregados da falida empresa de Calçados Schaefer Ltda.
do Bairro Canabarro, que, de uma hora para outra, não tinham mais como ganhar o
seu pão. Assim, Klepker, com seu ideal cooperativista, acabou fundando mais uma
cooperativa, a COCATE, cujos associados eram os desempregados da empresa
falida. Os desempregados passaram a trabalhar no ramo calçadista e escolheram
entre eles seus administradores. A cooperativa, inicialmente, foi muito bem até
que um dia o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) entendeu que os
associados deveriam pagar contribuição previdenciária como empregados. Até então,
a cooperativa pagava sua parte como empregadora e os associados contribuíam com
a taxa de autônomos, como eram considerados, e não como empregados, como o
INSS, queria passar a tratá-los. O resultado, depois de uma longa disputa
judicial, foi o fechamento da cooperativa.
Quando
idealizou o Centro Administrativo, Klepker inspirou-se em Brasília, que considera
a oitava maravilha do mundo. Publicou então uma licitação para os técnicos,
engenheiros e/ou arquitetos apresentarem um projeto de obra. Aos participantes
foram apresentados aspectos básicos que deveriam reger a construção, como, por
exemplo: primeiro, o prédio não poderia ter madeira (somente tijolos, cimento, ferro
e outros materiais não inflamáveis), isso para não ser necessário gastar com
seguro contra incêndio; segundo, todo prédio deveria ser plano e térreo, sem
escadarias ou andares; terceiro, o formato deveria ser em forma de cruz;
quarto, seu estilo deveria ser o “enxaimel”. Todas as propostas apresentadas
foram desclassificadas por não atenderem aos requisitos básicos. Klepker gastou
alguns quilos de papel e rascunhou o projeto que havia idealizado, entregando-o
ao engenheiro para transcrevê-lo nas linhas profissionais e foi daí que
resultou a construção do tão admirado e conceituado Centro Administrativo, que
se tornou o ponto turístico número um do município e da região e já foi
visitado por teutonienses, gaúchos, brasileiros e estrangeiros (afluindo de
algumas dezenas de países do mundo). Todos admiram a obra e classificam-na como
inédita no seu gênero (obra municipal); não se tendo notícia de existir uma
outra idêntica a nível nacional.
Nos quatro
ângulos, ao redor da obra central, há o relógio das flores – simbolizando a
pontualidade do povo germânico (nossos ancestrais); o museu Henrique Uebel, que
guarda uma peça única no mundo, criada pelo gênio musical teutoniense, que deu
seu nome ao museu – ele tocava simultaneamente sete instrumentos, tornando-se
conhecido como “homem orquestra”; o Lago, que tem formato geográfico do
município e que tem ao centro uma miniatura do Centro Administrativo sobre cuja
plataforma foi esculpido um casal de pequenos colonos cujos antepassados
colonizaram esta terra; e, por fim, há o engenho de cana de açúcar, totalmente
em madeira, que era utilizado para a extração do caldo de cana com o qual os
colonizadores fabricavam seu açúcar. Junto à réplica do engenho há um poço,
cavado na terra, que simboliza a fonte de água potável para as pessoas e os
animais. A água era retirada do poço por meio de um balde que era baixado e
levantado por um cipó enrolado num cilindro de madeira, movimentado por uma
manivela. Próximo ao poço, encontra-se um forno feito de barro, semelhante ao
que era utilizado pelos colonizadores e ainda o é hoje em muitos lugares no
interior do município para assar pães, cucas, biscoitos, entre outros
alimentos. Para completar a homenagem, destaca-se um par de sapatos de pau,
lembrando os primeiros colonizadores imigrantes germânicos que vieram da
Westfália – uma região muito fria e úmida que exigia o uso de calçados feitos
de madeira forrada com palha ou com meios de lã. O projeto global do centro
administrativo, tal como idealizado por Klepker, preserva doze quadras, com dez
terrenos cada, ao redor do mesmo. Esta área é destinada exclusivamente para
serem construídos os órgãos, repartições e/ou entidades que prestem serviços de
interesse público assim como o Centro Administrativo de Teutônia, que deverá
sempre oferecer condições para que todos sejam atendidos praticamente sob o
mesmo telhado. Toda pessoa encontra lá o atendimento que procura, sem precisar
locomover-se para maiores distâncias (entre uma e outra repartição).
Entre
outras obras, além do Centro Administrativo, Klepker reconstruiu todas as
estradas municipais, que haviam sido deixadas em péssimo estado, durante
aqueles dois anos que decorreram desde a emancipação até a posse do primeiro
prefeito eleito. Em virtude da prorrogação de mandatos, Teutônia ficou ao
completo abandono administrativo, pois ainda era de responsabilidade do município
mãe, que não fez mais nada – instalando-se um verdadeiro caos. Quem mais sofreu
com este miserável estado das estradas foram os transportadores de leite, ou
melhor, os caminhoneiros que traziam o produto das propriedades produtoras até
a usina. No inverno, com chuvas frequentes, era difícil ocorrer uma madrugada
em que não vinha um pedido de socorro para ajudá-los a sair das valetas para
dentro das quais haviam escorregado. A primeira medida tomada, logo após a
posse, foi a pavimentação com paralelepípedos das subidas e descidas mais
íngremes, dando segurança aos motoristas que recolhiam o leite diariamente,
fizesse chuva ou sol.
A construção
de escolas, creches e pavilhões sociais era prioridade do governo Klepker. Logo
que começou a administrar Teutônia, em 31 de janeiro de 1983, muitas pontes e
bueiros, que impediam a passagem de veículos pesados, foram reconstruídos e
novos foram edificados. Muitas estradas novas foram abertas, tanto na zona
urbana como na rural. Muitas dessas obras já caíram no esquecimento,
principalmente, porque Klepker tinha o hábito de nunca inaugurar uma obra,
porque só gostava de construí-las. Para exemplificar bem essa afirmação, cabe
fazer esta pergunta: Quem lembra qual foi a obra pública municipal que gerou a
maior expansão e integração do Bairro de Canabarro? Foi a ponte em nível com a
rua D. Pedro II, sobre os trilhos da Rede Ferroviária Federal, construída por
Klepker em seu 1° mandato. Essa importante obra para Canabarro Klepker
construiu, mas não inaugurou. Seus companheiros políticos fizeram a inauguração
sem a presença de Klepker que disse preferir pensar numa próxima obra a fazer
dentre as muitas que esperam. Um episódio especial aí ocorreu: O amigo e
companheiro de Klepker, o popular Manoel da Rodoviária, aproveitou a ocasião da
grande passagem de curiosos e simulou uma inauguração da importante obra
pronta. Fez uma faixa com papel higiênico que estendeu ao alto, atravessando a
ponte. Saíram discursos políticos, mas o objetivo do Manoel foi outro: Vendeu
dez caixas de cerveja. Outra particularidade de Klepker, que fez tantas outras
obras mais, foi nunca pedir empréstimos e fazer tudo com recursos próprios do município,
princípio este que sempre foi uma característica sua, tanto que lembra, até
hoje, que seus pais lhe ensinaram a sempre ser econômico e nunca gastar mais do
que ganhava. Embora pudesse estabelecer o seu próprio salário, ele nunca era
muito mais do que o salário mínimo da época. O mesmo valor era pago aos
vereadores e aos próprios funcionários municipais. Assim economizava recursos
que investia nas obras e ainda conseguia aumentar a arrecadação do município que
crescia de ano a ano a olhos vistos. Em todas as suas obras, especialmente no
Centro Administrativo – que foi a de maior vulto – não foram feitos contratos
globais. O próprio prefeito administrou todas as suas obras e a compra de
materiais, evitando a possibilidade de alguém ganhar um “extra” em cima dos
preços que eram rigorosamente controlados. A mão de obra foi administrada pelo
conceituado construtor Antônio Costa, conhecido por mestre Antônio, que já
vinha trabalhando com Klepker nesta função desde as obras da Cooperativa
Languiru.
Por
volta de 1984, no auge da polêmica história da desapropriação, Klepker
desapropriou 95 hectares entre Languiru e Canabarro, pertencentes a quarenta
pequenos agricultores, que era a área mínima necessária para o primeiro
prefeito construir o Centro Administrativo e o restante da infraestrutura, como
escolas, igrejas, indústrias, bancos, lojas, pavilhões, entidades sociais,
áreas de lazer... Ele fez tudo isso para formar o conjunto da nova cidade de
Teutônia – conforme obrigava o Termo de Compromisso – peça básica de todo o
processo emancipacionista. Mas nem todos estavam de acordo com as ideias do
prefeito. Além do “famigerado manifesto” dos onze pastores, a Câmara de
Vereadores tomou partido da questão, chegando ao ponto de pedir a cassação do
prefeito Klepker. A câmara, constituída de nove vereadores, inicialmente, deu
maioria ao prefeito, tendo cinco vereadores votado a favor e quatro contra.
Então, o vereador do partido do prefeito, Willy Ricardo Wolff, que tinha sido a
principal figura na primeira campanha de eleição do prefeito, achou melhor
passar a ser contrário a ele e aderiu aos desapropriados. Assim, o prefeito
ficou com minoria na Câmara. Aí iniciou o processo de instalação da cassação do
mandato, por isso, “os cassadores” apelaram para o vereador Egon Edio Hoerlle,
que, ao aderir ao grupo, formou os dois terços necessários. Hoerlle, assinando
o requerimento pedindo a cassação do prefeito, deu condições para a Câmara
instalar o processo, que passou a tramitar até que um dia a Câmara foi
convocada para votar a cassação. O prefeito, que estava sendo cassado,
participou desta sessão. Estranhou-se a demora para o início dos trabalhos,
quando Klepker viu que o vereador Willy Ricardo Wolff telefonou para o vereador
Egon Hoerlle na Certel. Lá recebeu a resposta de que Hoerlle não estava e que
tinha viajado, deixando os seus parceiros “pendurados no pincel”, como se diz
na gíria. O presidente voltou aborrecido para a mesa diretora da sessão, bateu
na campainha e disse que estava aberta a sessão de cassação do prefeito. Em menos
de um minuto, bateu de novo na campainha e disse que estava encerrada a sessão
por falta de quórum. Este fato carece de uma pequena explicação: o presidente
deveria ter declarado que não havia quórum para a cassação embora houvesse
quórum para funcionar a sessão. O ambiente estava tão pesado que se sabia que
Egon Edio Hoerlle precisava estar presente para formar os dois terços.
Em meados
de 1988, quando ia findando o primeiro mandato de Klepker, ele coordenou a
campanha para eleger o seu vice, Silvério Lüersen, para prefeito. Inicialmente,
a campanha não era pacificadamente aceita pelos eleitores de Teutônia, que
ofereciam certa resistência para votar no candidato indicado por Klepker,
porque o consideravam pouco resistente. Mas quando Klepker falou aos eleitores,
que ficaria por trás do Silvério e lhes assegurou a continuidade da excelente
administração, que conseguiu fazer Teutônia, “partindo do nada”, num município
modelo em progresso e desenvolvimento, conseguiu sua confiança. O município,
invejado por outros, já estava ultrapassando o município mãe, Estrela. Foi o
bastante para os eleitores aderirem e aceitarem a proposta de Klepker, votando
maciçamente no candidato proposto. Silvério Lüersen ganhou as eleições com
larga margem. O adversário nessa eleição, como na primeira, foi o engenheiro
civil Silvio Brune.
Silvério
Lüersen, como prefeito da segunda administração, fez um bom governo: muitas
realizações, obras de toda espécie, tudo isso naturalmente sempre assessorado,
assistido e orientado por Klepker (1989-1992).
*Texto
extraído do livro “AS MEMÓRIAS E
HISTÓRIAS DE ELTON KLEPKER: CRIADOR DO MUNICÍPIO DE TEUTÔNIA/RS” (2008),
páginas 37 até 41, de GUIDO LANG.
* É PROIBIDA A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL
DO TEXTO SEM A MENÇÃO DA REFERIDA FONTE (LEI Nº 9.610, DE 19 DE
FEVEREIRO DE 1998).
* Edição: Júlio César Lang
* Crédito da imagem: https://www.youtube.com/watch?v=6ajBprPpPS8
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