Fonte: Guido Lang, com base
no relato de Elton Klepker (primeiro prefeito de Teutônia/RS)
Logo
que Klepker assumiu o cartório, instalou em Languiru o primeiro Escritório
Contábil. Líder na região, foi nomeado agente correspondente do Banco
Industrial e Comercial do Sul S/A. O gerente, em Estrela/RS, era seu grande
amigo André Marcolino Mallmann, um dos do triunvirato. O escritório dava
assessoria a doze empresas da região. Essa assessoria, mais o vínculo com o
banco, foi motivo para os colonos o procurarem também para pedirem ajuda para a
constituição das cooperativas mistas, que eclodiram na época. Assim, Klepker,
como contabilista, orientou a fundação e a organização dessas cooperativas,
que, a partir de 1950, eram: Cooperativa Agrícola Mista Linha Wink Ltda.,
Cooperativa Agrícola Mista Pontes Filho Ltda., Cooperativa Agrícola Mista Linha
Geraldo Ltda., Cooperativa Agrícola Mista Boa Vista Ltda., Cooperativa Agrícola
Mista Canabarrense Ltda., Cooperativa Mista Glória Ltda., Cooperativa Agrícola
Mista Beija Flor Ltda., Cooperativa dos Suinocultores Estrela Ltda. (sede em
Languiru). Esta última teve pouca duração, pois enfrentou a luta da legislação
IVC (Imposto de Vendas e Consignações), que chegou a cobrar 17% sobre o valor
da venda. Klepker resolveu liquidar a Cooperativa dos Suinocultores e, no dia
13 de novembro de 1955, fundou a Cooperativa Agrícola Mista Languiru Ltda. Nela
aplicou todos os seus primeiros conhecimentos práticos adquiridos durante os
cinco anos em que orientara as outras cooperativas mencionadas. Um dos
principais conhecimentos adquiridos e aplicados na Languiru foi o do capital
que cada associado tinha que integralizar, valor índice simbólico da unidade
monetária, para impedir que os associados se atribuíssem o direito de mandar
mais nos negócios que o próprio gerente, impedindo, dessa forma, que, ao ter um
pedido negado, o associado pudesse pedir sua demissão, levando o dinheiro que havia
colocado na Cooperativa. Fato que ocorria nas outras cooperativas com
associados que participavam com valores mais elevados. A cooperativa recebia
todo produto disponível do associado e lhe fornecia, em troca, todos os artigos
de consumo.
O
objetivo principal era não usar a isenção do IVC, que somava cifras
consideráveis, para não fomentar a concorrência desleal com os comerciantes que
tinham de pagar o tributo na íntegra. Mas a cooperativa, constituída de
pequenos agricultores, usufruía dessa isenção, o que era considerado
discriminação entre cooperativas e comerciantes. Resumindo: o capital que
Klepker não recebia dos associados para formar recursos na cooperativa, recebia
em escala bem maior por meio da retenção do IVC, que levava para o Fundo de
Desenvolvimento da Cooperativa.
Ainda
falando do fundo, que recebia os valores do imposto IVC, as cooperativas de
pequenos agricultores eram isentas, mas gastavam esse dinheiro pagando maior
preço aos associados. Este pagamento maior gerava luta entre cooperativas e
comerciantes das localidades. A única cooperativa que não fazia uso desse
dinheiro e o levava a seu Fundo de Desenvolvimento Econômico era a “Cooperativa
de Klepker”, como era conhecida e tradicionalmente chamada na época. Muitos
associados questionavam Klepker por que não pagava o valor do IVC para os
produtos em vez de levá-lo ao Fundo de Desenvolvimento Econômico. Klepker lhes
explicou que esse valor, distribuído entre todos os agricultores associados,
não produziria tanto como se ficasse “num bolo só” e que era aplicado para a
cooperativa fazer capital de giro e, principalmente, para a aquisição de
imóveis, maquinários, instalações e demais bens de que a cooperativa
necessitava para beneficiar os próprios associados. Se não dispusesse dos
recursos de retenção do IVC, os custos teriam que ser subsidiados pelos
próprios associados, principalmente em reuniões de fofocas nas bodegas
(vendas), de onde o Klepker tinha dinheiro para pagar todos os produtos à
vista. Alguns até diziam que ganhava dinheiro da Alemanha, pois ele tinha
viajado para lá. A concorrência entre cooperativas, especialmente entre a
Languiru e os comerciantes, chegou ao ponto de surgirem os mais diversos
comentários negativos e os comerciantes procuravam sua defesa. Alguns
agricultores, talvez menos esclarecidos, acreditavam nas alegações dos
adversários, mas a maioria, que era esclarecida, contra-argumentava dizendo
“como pode, as outras cooperativas agrícolas todas sucumbiram (faliram) e a do
Klepker cada vez cresce mais, chegando até a encampar as outras, que andavam
mal das pernas, transformando-as em filiais da Languiru”. Os comentários
fomentados pelos contrários, porque não dizer “adversários de Klepker” ou da
“Cooperativa de Klepker” aconteciam por ocasião da grande festa anual da
Assembleia da Cooperativa, quando Klepker sempre oferecia aos sócios um “grande
churrasco de confraternização”. Esse acontecimento tradicional que trazia
milhares de agricultores, que, na sua maioria, vinham em cima de carrocerias de
caminhões de carga de todos os quadrantes, para a “festa do churrasco”, como já
era conhecida. Ela foi realizada até o último mandato de Klepker como
presidente da Cooperativa (1980) no Potreiro dos Beckmann (onde hoje existe a
sede social da Associação dos Funcionários da Cooperativa Languiru). Os
adversários ferrenhos de Klepker, demonstrando “sua dor de cotovelo”, diziam
que o “Klepker estava tratando os seus bois com sal”. Os colonos, por outro
lado, externavam sua alegria aos gritos, abandando os chapéus, alguns até
chegavam a perder o chapéu. As churrasqueiras atingiam mais de um quilômetro de
comprimento para assar de sete a oito toneladas de carne. Os espetos eram
confeccionados pelos próprios associados e por funcionários que, meses antes,
já os providenciavam, feitos de varas de angico colhido nos matos que eram
devassados. Os assadores eram formados por funcionários e por associados
voluntários.
Na
década de setenta, quando o General Ernesto Geisel era Presidente da República
(1974-1979), Klepker foi diversas vezes a Brasília, mas nunca foi ao Palácio do
Planalto, pois ia direto ao Riacho Fundo (residência oficial do Presidente da
República). Lá morava o sogro do Presidente, o Coronel Augusto Markus e sua
esposa, para serem melhor cuidados pela filha Lucy (esposa de Ernesto Geisel).
Numa dessas andanças, por volta de setembro de 1975, Klepker, conversando com
dona Lucy, pediu-lhe que convidasse o Presidente Geisel para visitá-lo por
ocasião da Festa dos vinte anos da fundação da Cooperativa Languiru. Dona Lucy
prometeu a Klepker que falaria com o Ernesto. Klepker voltou de Brasília para
Languiru e transmitiu aos seus companheiros de direção que deixara um convite
para o Presidente Geisel participar da festa. Demorou umas semanas e o susto
foi muito grande quando Dona Lucy telefonou para Klepker confirmando a presença
do Presidente da República na festa dos vinte anos, que iria acontecer no dia
13 de novembro de 1975. Como de costume, a presença do Destacamento Precursor
veio coordenar os detalhes da visita. A presença foi festejada com um almoço no
Pavilhão Social da Cooperativa, ainda não totalmente acabado. O precursor
escalou o lugar para cada um dos participantes da mesa ocuparem, quando Klepker
notou que faltava o nome do Prefeito Municipal de Estrela Gabriel Aloísio
Mallmann. Klepker alertou o General, chefe do destacamento precursor, que havia
omitido o nome do Prefeito, mas recebeu uma resposta curta: era ordem expressa
do Presidente da República, que o prefeito Mallmann não seria convidado para
participar da mesa. O prefeito, que exerceu o mandato por duas vezes, mais
tarde, foi condenado e preso, morrendo no presídio de Lajeado com a firme convicção
de que o culpado de não lhe ter sido permitido sentar à mesa oficial tinha sido
Klepker, quando, na verdade, ele ainda lembrara o chefe de que teriam esquecido
o prefeito do município. Klepker e Mallmann, embora fossem adversários
políticos ferrenhos, eram amigos íntimos.
Em
1968, Klepker foi eleito vereador por Languiru, em Estrela/RS. Ele recebeu 763
votos e foi o segundo mais votado. Na segunda legislatura, cuja campanha foi em
1972, insistiram, até convencer Klepker, a ser candidato a vice-prefeito na
chapa do candidato a prefeito de Estrela Gustavo Simon. Nessa ocasião eram
permitidas as sublegendas e a ARENA (Aliança Renovadora Nacional), usando esta
faculdade, colocou três sublegendas. O adversário era Gabriel Aloísio Mallmann
que concorreu sozinho pelo MDB e que ganhou a eleição com larga margem contra
os três outros candidatos somados. Por essa adversidade política, advinda dessa
eleição, Mallmann estava convicto de que fora Klepker que sugerira ao
Presidente Ernesto Geisel deixá-lo fora da mesa oficial por ocasião da visita
do Presidente. O prefeito Mallmann, mesmo não tendo sido convidado a compor a
mesa oficial junto a Geisel, com a “maior cara de pau”, compareceu à cerimônia,
mantendo-se junto ao público.
O
pastor evangélico luterano, Edgar Hummes, da mesma confessionalidade de
Klepker, havia sido convidado para pertencer ao Conselho de Administração da
Cooperativa, o que já era uma tradição de muitos anos. O clero participava do
conselho de administração e, como havia muitos sócios católicos, Klepker
convidou também o Cônego Hugo Volkmann para fazer parte deste conselho. O
cônego era bem mais prestativo do que o pastor nas sugestões que ajudaram
Klepker na administração. Por isso, o diálogo entre o cônego e Klepker era bem
mais frequente do que sua interlocução com o pastor. O fato originou aparentes
ciúmes. Um dia, numa reunião do conselho, o pastor disse que Klepker sempre
queria saber o que os associados tinham a reclamar ou perguntar à direção da
cooperativa, por isso, indagaria o que todos queriam saber: “o que iria ser dos
inúmeros bens que constituíam o patrimônio da Cooperativa se um dia ela
quebrasse ou desaparecesse?” No mesmo momento, o Conselheiro Lauro Dickel, num
tom irônico, respondeu: “Aconteceria à mesma coisa se a Comunidade Evangélica
de Teutônia quebrasse, a Igreja pertenceria ao pastor. Aqui, no caso da
Cooperativa, os bens passariam a pertencer ao Klepker”. Seguiu-se uma gostosa
risada por parte dos presentes. O pastor, profundamente magoado, aguardou uma
oportunidade para dar o troco.
No
começo do ano de 1956, a luz elétrica para Vila de Teutônia era fornecida por
um pequeno gerador movido por uma turbina e auxiliado por uma caldeira a vapor.
O progresso da vila, no entanto, cada vez exigia mais potência para abastecer
os usuários. O equipamento pertencia a Reinoldo Aschebrock, que era cunhado de
Klepker. E Klepker, que, pouco anos antes, tinha fundado uma série de
cooperativas, embora agrícolas mistas, não deixou de recomendar a seu cunhado
que transformasse a sua pequena usina, considerada hidráulica, na Cooperativa
de Eletrificação Rural Teutônia Ltda. (hoje Certel). A fundação e a organização
Klepker sabia orientar muito bem. Aschebrock havia comprado uma área de terras
que continha um banhado (Sumpf) – hoje Lagoa da Harmonia. Aschebrock aparentava
ser um colono muito acanhado, mas, por dentro, era um “verdadeiro gênio”: tanto
que ele lá instalou uma usina hidrelétrica, aproveitando a enorme queda d’água,
e a transformou numa potente geradora de energia, considerando a necessidade de
Teutônia para a época. Este novo investimento foi feito em nome da citada
Cooperativa, orientada por Klepker. Quem diria que, cinquenta anos depois, esse
empreendimento originaria a atual Certel (Cooperativa Regional de Eletrificação
Teutônia Ltda.). Além de pioneira, esta é a maior cooperativa de eletrificação
do Brasil.
Em
1960, Klepker fundou e dirigiu a Cooperativa de Eletricidade e Água Languiru
Ltda., que foi um tipo de sucessora da antiga fornecedora de luz de Afonso
Wallauer, de Linha Boa Vista, que abastecia as localidades de Boa Vista Fundos,
Boa Vista do Meio, Boa Vista, Capivara e Languiru, mas, com absoluta
deficiência, tendo em vista as necessidades de energia que só a vila de
Languiru consumia. Esta era uma usina hidráulica que era alimentada por uma
barragem construída no Arroio Boa Vista na Linha Boa Vista (hoje ainda
existente). Esta cooperativa de eletricidade e água, criada por Klepker, teve
como principal objetivo o suprimento de eletricidade para a então vila de
Languiru e, paralelamente, ainda encarregou-se da distribuição de água potável
proveniente de poços artesianos. Ocorreu aí a proeza de Klepker que, em sete
dias, construiu uma linha de alta tensão de sete quilômetros para interligar a
Cooperativa de Eletricidade e Água Languiru Ltda. à alta tensão da CEEE
(Companhia Estadual de Energia Elétrica), cuja rede estava na linha Wink, onde
abastecia a Indústria de Laticínios Scaldat, comandada pelo então comerciante
de Linha Schmidt, Alfredo Driemeyer. Encontram-se hoje também as sobras da
fábrica de Manteiga Dahmer, de Boa Vista, pertencente ao comerciante Reinoldo
Dahmer, que morava em Linha Schmidt (hoje Westfália/RS), onde também morava
Driemeyer. Tanto da Indústria Scaldat, de Linha Wink, como da Fábrica de
Manteiga Dahmer, de Boa Vista, hoje só sobraram as duas chaminés e os prédios
que estão em estado de abandono.
Dahmer
e Driemeyer eram considerados, na época, exímios comerciantes e fervorosos
concorrentes. Voltando à proeza de Klepker com relação à construção da linha de
alta tensão de sete quilômetros em sete dias, que conseguiu interligar a
Cooperativa Eletricidade e Água Languiru Ltda. com a CEEE. Esta interligação
proporcionou uma abundância de energia à vila de Languiru, que conheceu um
fabuloso desenvolvimento. O prazo dos sete dias para construção da rede deu-se
em função da eleição do governo estadual, que ocorreria por esses dias e o
Governador Leonel Brizola havia prometido a Klepker ligar a rede ainda antes da
eleição em troca da certeza de que ganharia a eleição em Languiru. Como esta
certeza não era garantida, foi preciso ter a interligação antes do resultado do
pleito. Klepker só conseguiu realizar esta proeza graças a sua liderança junto
aos agricultores, que não mediram sacrifícios em ajudá-lo a alcançar o
objetivo. Houve dias em que mais de cinquenta agricultores o acompanharam na
obra, que consistia na marcação da linha que acompanhava a estrada pública, na
derrubada de árvores de eucalipto para postes, no levantamento dos postes, na
colocação das travessas no alto da fixação de isoladores e na extensão da linha
propriamente dita. Os técnicos da CEEE limitaram-se meramente a fazer a ligação
nos dois extremos da linha.
A
parte relativa à energia elétrica da Cooperativa de Eletricidade e Água
Languiru Ltda., mais tarde, foi anexada à Certel e a parte da água foi
aproveitada para fundar a Associação Pró-Desenvolvimento de Languiru, que hoje
distribui água potável a mais de dois mil e quinhentos consumidores.
Em
1970, Klepker fundou, organizou e dirigiu a Associação Beneficente Ouro Branco
(Mantenedora do Hospital Ouro Branco). Como presidente da Cooperativa Languiru,
havia comprado o Hospital Ouro Branco dos herdeiros de João Basílio Lavrinenco,
médico de origem russa. Este havia construído o Hospital Ouro Branco. Alguns
anos antes de falecer, ele já havia alugado a clínica ao seu colega Dr. Hércio
Pegas que, desde então até sua morte, foi o médico e grande amigo de Klepker. O
Dr. Lavrinenco ocupava uma parte do piso do subsolo do Hospital, onde morava
sozinho, pois os familiares, a esposa, um filho e uma filha moravam em Buenos
Aires – Argentina. O Dr. Lavrinenco continuava com a farmácia e com a parte
hospitalar, que explorava economicamente. Os familiares lhe exigiam cada vez
mais dinheiro ao ponto de cair no desespero e tornar-se alcoólatra, vindo a
falecer tempos depois. As exigências da viúva e dos filhos cresciam cada vez
mais e o Décio Michel, dedicado encarregado da farmácia, não sabia mais de onde
tirar o dinheiro para satisfazer os herdeiros. Klepker então resolveu comprar o
patrimônio do Hospital Ouro Branco. Essa compra já foi uma grande luta, imagina
pagá-la! Para tanto, Klepker inventou um plano “mirabolante”: pediu cinco
milhões aos associados que quisessem aderir espontaneamente ao negócio. Esses
cinco milhões, a unidade monetária não vem ao caso, seriam devolvidos com 50%
de custos hospitalares em caso de internação.
Um
fato pitoresco sucedeu-se: um dos subscritores e contribuinte veio, um dia,
pedir ao Klepker que pretendia sair do plano hospitalar, pedindo seus cinco
milhões de volta. O motivo da sua decisão foi que ele não tinha ficado doente e
que, portanto, não tinha precisado gastar nada no hospital, enquanto seu
vizinho vivia doente e já tinha gastado tudo que podia. Klepker, prontamente,
mandou devolver os cinco milhões, porque, para ele, não era preciso pedir duas
vezes, era atendido na primeira. Conclusão: cada louco com sua mania. Imagina
se o descontente tivesse ficado doente logo após ter saído do plano! A maior
fortuna da pessoa não é a saúde como é comum ouvir-se, mas saber estar
satisfeito com aquilo que se tem.
A
realização do plano foi muito bem recebida pelos associados da Cooperativa
Languiru, que, na sua grande maioria, eram pequenos agricultores, e que, num
curto prazo de tempo, reuniram o valor suficiente para fazer o pagamento do
hospital. O plano foi fechado por não haver mais necessidade de dinheiro,
embora ainda houvesse colonos interessados em contribuir com os cinco milhões.
Que tempo bom era esse, em que o colono tinha dinheiro até debaixo do colchão!
O fato provou que Klepker usufruía de uma confiança ilimitada por parte dos
cooperativados. Os passos sucessivos na administração do Hospital, sob a
presidência de Klepker, nos primeiros anos, foram algo notável, tanto que a
parte comprada não representa 10% do que hoje está lá. Para esse
desenvolvimento substancial, a olhos vistos, Klepker nunca deixou de ser grato
a seu melhor colaborador neste empreendimento: Milton Schneider. Este se
dedicou de corpo e alma. Ele também foi auxiliado por outro colaborador incansável,
Décio Michel. Contudo, o profundo reconhecimento que Milton Schneider sempre
teve e ainda tem de Klepker não lhe foi reconhecido pelos administradores
subsequentes, que, no seu entender, deviam ter mantido Schneider, senão como
mandatário superior, mas como um exímio colaborador, pela sua ilimitada
experiência e pela sua grande dedicação.
Outro
fato marcante que o povo precisa saber é que Klepker foi condenado a prestar
serviço comunitário por ter construído duas salas de aula em Canabarro nos tempos
em que foi prefeito, sem licitação global. Ele pediu à justiça que lhe
impusesse a prestação desse serviço comunitário, que era uma pena alternativa,
na Associação Beneficente Ouro Branco, que não o aceitou, alegando estarem procedendo
a uma profunda reestruturação na organização do hospital e, por isso, não poderiam
aceitar Klepker para prestar sua pena alternativa na associação. Klepker,
diante disso, só lhes perguntou: - “Quem melhor que eu, que organizei a
instituição e já lhe prestei alguns anos de serviços ao hospital, poderia
ajudar nesta reestruturação?”
O
problema visivelmente girava em torno de política! Klepker era contrário aos
que lideravam a administração do hospital, principalmente, ao prefeito e aos
candidatos à sucessão.
Em
1981, liderou a instalação da CCGL (Cooperativa Central Gaúcha de Leite), que
hoje é a AVIPAL (Aviário Porto Alegre Ltda.). Esta indústria foi uma ordem
provinda do Presidente Ernesto Geisel, que pedira a seu Ministro da Agricultura
que instalasse uma cooperativa central para industrializar o leite no Estado do
Rio Grande do Sul onde se situavam diversos pequenos laticínios que passavam
por dificuldades, alguns até estavam quebrando. Nessa época, Klepker havia
viajado para Europa onde, na Alemanha, conhecera o Projeto do Terneiro
Estabulado: os terneiros machos ou fêmeas falhadas, sobretudo da raça
holandesa, assim que nasciam, eram estabulados em pequenas repartições que não
lhes permitia muito movimento e, nos primeiros dias de vida, recebiam o
indispensável colostro, depois da ração que os levava até 150 quilos de peso em
quatro a cinco meses. Eles então eram abatidos e produziam uma carne muito
macia. Podia-se dizer “que até a carne de pescoço era igual a filé mignon”.
Klepker visitou a família Goelmann’s Hof onde conheceu o projeto em que cerca
de cem animais de raça holandesa, por ser corpulentos, estavam estabulados.
Klepker
levou o projeto do terneiro ao Ministro da Agricultura em Brasília que o achou
muito importante e chamou seu chefe do Setor Veterinário, que era um japonês de
nome Ikiero Ikeda.
Este
pediu assessoria do economista gaúcho José Antônio de Oliveira Coimbra. A estes
dois, Klepker explanou o referido projeto trazido da Alemanha e lhes pediu para
instalá-lo em Languiru, então distrito do município de Estrela/RS, junto à
Cooperativa Languiru. Os dois técnicos demonstraram o máximo de interesse pela
instalação do projeto determinado pelo Ministro: a implantação de uma central
de leite nesta região. O economista Coimbra, logo a seguir, veio a Languiru e, vendo
o Projeto do Terneiro Estabulado já funcionando, interessou-se também em micro
regionalizar a indústria central do leite nesta região. As prefeituras que
ficaram sabendo desta importante indústria a ser construída com incentivo do
Ministério da Agricultura, interessaram-se em trazer esta vantagem ao seu
município, enviando cartas ao Ministro oferecendo participação no
empreendimento. Indistintamente todas ofereciam áreas grandes e adequadas,
serviço de terraplanagem, isenção de impostos e demais benefícios. Klepker
levou vantagem e conseguiu trazer a indústria para Languiru em função de sua
amizade com o Presidente Geisel, que certamente, pediu a seu Ministro, Ângelo
Amauri Stábile, para dar preferência para a localização do laticínio junto à
“Cooperativa de Klepker”.
Klepker
também queria oferecer colaborações do seu município, na época Estrela, por
isso foi procurar o prefeito Hélio Musskopf, que prontamente, lhe disse que
daria a área necessária para instalação, porém, em Arroio do Ouro ou Santa Rita,
mas nunca em Languiru, pois Languiru já estava ensaiando sua emancipação.
Klepker, voltando com esta resposta negativa do prefeito, reuniu o conselho da
Cooperativa Languiru e, relatando-lhes o acontecido, pediu autorização aos
conselheiros para comprar uma área de terras de quatro hectares, espaço mínimo
necessário para instalar o empreendimento. Junto com seu companheiro e
colaborador Ruben Wolf foram vistoriar uma área adequada, pertencente a
Raymundo Ahlert, que lhes fez o preço por braça quadrada (como era costume da
época). O negócio logo foi fechado, só que, na hora de fixar a quantidade de
terras a ser comprada, Ahlert não concordou em vender somente os quatro
hectares, alegando “não vender o nariz da sua cara” (significa não vender
somente à frente). Argumentou que não daria os quatro hectares e venderia
somente toda área de dez hectares. Diante das exigências do vendedor, não houve
outra alternativa a não ser comprar a área toda, da qual quatro hectares da
frente foram destinados para construção da indústria; os quatro hectares
seguidos, Klepker ficou para sua empresa Turismo Alesgut Ltda. e o saldo dos
fundos ficou para a Cooperativa Languiru. Na área do meio, de quatro hectares,
criou um loteamento, com cerca de duzentos terrenos, o que gerou o atual Bairro
Alesgut da cidade de Teutônia.
Comprada
e escriturada a área, foi imediatamente iniciada a construção desta enorme
indústria, que foi “concluída a passos largos”. Os colonos e outros
interessados, avaliando o que significava esta indústria – próxima ao
loteamento Alesgut – vieram comprar os terrenos apressadamente. Assim, a venda
dos duzentos terrenos concretizou-se em menos de meio ano e Klepker impôs aos
compradores a obrigação de construir um prédio de alvenaria, no mínimo de
cinquenta metros quadrados num prazo de um ano. Esse foi o principal fator de
evolução do Bairro Alesgut; que trouxe muitos migrantes para trabalharem em
Teutônia. Na inauguração da CCGL, veio o Ministro da Agricultura Ângelo Amauri
Stábile, que veio de avião até o Aeroporto de Venâncio Aires, onde Klepker foi
buscá-lo com seu automóvel. A primeira matéria-prima, para a nova indústria,
veio dos produtores da Cooperativa Languiru, que cedeu os seus cem mil litros
diários de leite. Depois foi trazida a produção de leite de todo o Estado como
acontece até hoje, atingindo a mais de três milhões de litros diariamente.
Os
cem mil litros da Cooperativa Languiru eram recolhidos em latões de cinquenta
litros por caminhões de carroceria aberta. Sobre esta modalidade antiguíssima
de coleta de leite existe um fato pitoresco, pois o leite era medido em
diversos dias indeterminados no mês. Certa vez, um produtor, que trazia seu
leite em um vasilhame para derramá-lo nos latões, ao chegar perto do caminhão,
notou que era dia de medição para apurar o grau de gordura do leite e verificar
a eventual adição de água ao produto. O produtor, diante disso, tropeçou,
disfarçadamente, derramando todo leite no chão, escapando assim do vexame da
medição, pois havia adulterado seu produto com bastante água. Outros fatos
similares aconteciam, pois vários produtores procuravam falsificar o produto.
Aconteceu, em um outro momento, o fato de encontrarem lambaris nos latões de
leite, pois o produtor, por descuido, pegara junto com a água que tirava do
arroio para adicionar ao leite, alguns pequenos peixinhos. Este hábito era conhecido
como “batizado do leite”.
O
laticínio, que foi construído pela Cooperativa Languiru, encontra-se defronte
ao Supermercado. Esse prédio foi o primeiro a ser financiado com recursos do
famoso Plano Mundial “Aliança para o Progresso”, onde obteve o contrato número um de todo Brasil, graças a
amizade de Klepker com Nestor Jost (Presidente do Banco do Brasil – gestor
daqueles recursos). Para inauguração do prédio do laticínio, Jost foi convidado
e, na hora de serem todos chamados a ocuparem a mesa do tradicional churrasco,
anunciou-se também o costumeiro aperitivo. Quando todos os convidados tomaram
seus lugares, perceberam que, sobre a mesa, para o brinde, havia um copo de
leite para cada participante. Entre surpresas e risadas, Klepker explicou que
todos tinham sido convidados para inaugurar um laticínio e não um alambique
(fábrica de cachaça). A imprensa, no outro dia, anunciou que Klepker inaugurara
um laticínio oferecendo como aperitivo um copo de leite em vez de cachaça.
Outro
fato inusitado com relação ao leite aconteceu logo no início, quando Klepker
havia construído o laticínio para a Cooperativa. A Empresa Manteiga Dahmer, de
Linha Boa Vista, comprava o leite pagando por grau de gordura que o produto
mostrava nas suas quatro ou cinco medições por mês. O que também era adotado
pelo laticínio da Cooperativa, mas com uma diferença: a Cooperativa pagava o
leite pelo grau de gordura que apresentava nas médias mensais, enquanto a
Fábrica Dahmer pagava pela média dos diferentes graus de gordura de todos os
fornecedores. Por exemplo, o produtor que tinha oito graus de gordura, acabava
perdendo alguns graus em função de produtores cujo leite apresentava um teor de
gordura inferior. Já aquele que tinha um grau inferior acabava sendo
beneficiado pelo produtor que tinha um leite com mais gordura. Quando Reinaldo
Dahmer ficou sabendo que Klepker pagava o leite dos seus produtores pela
gordura que a medição acusava, procurou convencê-lo de que isto não daria certo
e que devia saber tirar um pouco de quem tinha muito e dar para quem tinha
pouco. Klepker discordou dizendo que não concordaria em pagar preço diferente
do que a medição acusava. Dahmer afirmou que “então a Cooperativa iria
quebrar”. O que aconteceu, contudo, foi o contrário: a fábrica Dahmer continuou
recebendo leite dos que tinham um grau maior de gordura e o resultado foi que a
Fábrica Dahmer só não “quebrou” (faliu) porque a Cooperativa Languiru a salvou
da falência, comprando o negócio.
A
cooperativa também foi pioneira com relação ao envasamento do leite em sacos
plásticos. Quando Klepker esteve na Europa, visitou a maior feira de embalagens
do mundo, na Alemanha, e lá viu funcionar uma máquina que embalava o leite em
sacos plásticos. Até então só se conhecia um único sistema de embalar o leite
no Brasil: em garrafas de vidro. Klepker conseguiu comprar aquela máquina na
exposição que, antes de vir a Languiru, teve de ficar exposta, por quinze dias,
numa feira de Buenos Aires (Argentina). Esta negociata garantiu à Cooperativa
Languiru ser a pioneira de todo o Brasil nesta nova forma de embalagem do
leite. Este pioneirismo foi muito invejado pelos paulistas, que sempre queriam
ser os primeiros a lançarem novidades. Este pioneirismo custou muito caro à
Cooperativa Languiru, que foi a única a fornecer leite ensacado. Por duas
vezes, Klepker e seu motorista tiveram que ir a São Paulo para buscar o filme
que formava os sacos plásticos nos quais era embalado o leite automaticamente
com a nova máquina comprada. Este filme era fornecido pela única fabricante,
que era a Tetrapack de São Paulo. Klepker tinha de substituir o filme que ainda
era fornecido com pequenos defeitos. Pode-se imaginar a ansiedade que se
passava quando ocorria à quebra da continuidade no fornecimento do leite para o
cliente, que já estava habituado com a comodidade que lhe proporcionava o leite
em saco (em substituição à garrafa, que lhe causava aborrecimento até na
devolução do vasilhame, que não existia mais na nova modalidade).
Em
1981, Klepker fundou e presidiu, por diversos anos, a Cooperativa de Crédito
Rural Ouro Branco Ltda. – Crediouro, hoje conhecida como SICREDI – Sistema de
Crédito Rural. O nome Sicredi provém do órgão governamental para regulamentar
todas as cooperativas de crédito rural. A Crediouro ou Sicredi de Teutônia foi
constituída mais por uma imposição de Klepker, que, presidindo a Cooperativa
Languiru, viu que era preciso organizar uma Cooperativa separada que se
encarregasse do setor de crédito rural, que funcionava misturado com as demais
operações estatutárias, até porque a legislação já previa que as Cooperativas
comuns não deviam manter operações de crédito paralelamente. Mas isso não foi
aceito pacificamente pelos demais companheiros de administração da Languiru.
Por isso se disse que a Crediouro foi imposta por Klepker, que via a
necessidade de organizar o setor de crédito rural numa cooperativa própria, da
qual ele era o presidente e, ao mesmo tempo, ocupou também os demais cargos por
algum tempo, até que conseguiu convencer os seus colaboradores de que era
realmente necessária a criação do sistema. É importante dizer que, enquanto
Klepker foi presidente da Crediouro, ele e todos os seus auxiliares
administrativos tiveram que trabalhar de graça, não havendo salário para
ninguém. A implantação de Klepker frutificou não tão imediatamente, mas o
resultado pode ser visto hoje na Cooperativa de Crédito Ouro Branco – Crediouro
ou Sicredi de Teutônia, que tem sua agência central em um prédio vistoso
defronte ao prédio da Cooperativa Regional Agropecuária Languiru Ltda.
trabalhando ambas de mãos dadas pelo progresso e desenvolvimento do produtor
rural.
*Texto
extraído do livro “AS MEMÓRIAS E
HISTÓRIAS DE ELTON KLEPKER: CRIADOR DO MUNICÍPIO DE TEUTÔNIA/RS” (2008),
páginas 16 até 26, de GUIDO LANG.
* Edição: Júlio César Lang
* Crédito da imagem: http://jornalng.com.br/news/supermercado-languiru-abre-as-portas-nesta-sexta-feira