quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O mimo comunitário



       Uma centenária comunidade possuía problemas de frequência na sua assembléia anual. Esta, numa exclusiva oportunidade, sucedia-se no centro comunitário. Os membros, nalgumas centenas, careciam de comparecer. O evento da prestação de contas e acerto de resoluções pouca atenção e interesse despertavam.
Os membros com aquelas desculpas e indiferenças para fazerem-se presentes. Uns poucos nem queriam ouvir falar do assunto (sob o temor de ganhar algum cargo na diretoria). Outros, por tradição, ainda pertenciam como membros (em função da necessidade de bom senso em estar associado nalguma entidade). As assembleias, a cada ano, ajuntavam menos gente. Os participantes resumiam-se a menos de duas dezenas. Estes, “gatos pingados”, costumeiramente ligaram-se a familiares de integrantes das diretorias.
A resolução, numa altura, consistiu numa mudança de rota. Ouviu-se conselho aqui e sugestão acolá! Nada de maiores geniais ideias e de audaciosas inovações. Uns, a título de exemplo, falaram em sorteio de brindes. Algum mais no convite pessoal por famílias. Outro, como sugestão milagrosa, falou no oferecimento dum almoço cortesia. A comunidade, no dia da assembleia geral, custearia os encargos da refeição. Os beneficiados seriam todos os membros em dia com a tesouraria. Uma gratificação por ter honrado os compromissos das mensalidades assim como fazer-se presente ao encontro.
A receita, em forma de decisão de assembleia, foi colocada em prática. Adveio a surpresa. Aquela choça/morna reunião, de escassos membros, ganhou consideração,  entusiasmo e frequência. Inúmeras famílias, na totalidade dos integrantes, “afluíram como formigas em romaria”. Aquela data, num domingo de manhã pré-determinado, ganhou importância e interesse especial. As senhoras ganharam folga dos fogões na cozinha. Os maridos alívio momentâneo das churrasqueiras. Famílias deixaram de gastar em quiosques e restaurantes. Algum pão duro viu o momento próprio de diluir dispêndios com mensalidades...
O curioso e interessante sucedia-se com a real prestação de contas. Muitos, das centenas de participantes, pouco compreendiam ou interrogavam sobre os números expostos. Outros deram a mínima as conversas e polêmicas comunitárias. Alguns, num claro descaso, achegaram após a realização da assembleia. Todos, sem nenhuma exceção, ganharam o mimo. A preocupação era não criar comentários e descontentamentos.
A entidade, com o sucesso da empleitada, instituiu a experiência como norma. Aquela data, na agenda, ganhava reserva à frequência. O interesse, de integrar/participar duma diretoria/gestão, manteve-se naquele empurra-empurra e marasmo. Poucos, como obrigação e vocação, unicamente fizeram a gentileza de abraçar a causa. Estes, como doação de tempo e trabalho, deram sua contribuição.
O espírito humano ostenta-se deveras interesseiro. Este, sem maior gratificação ou recompensa, carece de interessar-se pela coisa comunitária.  Muitos aquela briga para pagar e outros anos sucessivos na inadimplência. Alguns mais simplesmente evadiram da entidade em função de precisar “abrir a mão”. O dinheiro havia para outras diversas necessidades, porém nada de maiores dispêndios com entidades. As cobranças compulsórias ocorriam unicamente nos encargos das coisas públicas. As autoridades, sob o signo duma legislação criada pelas instâncias políticas, instituíram dispêndios e estes eram cobrados/embutidos nos produtos e serviços.
O indivíduo interpreta o gênero humano a partir das necessidades básicas. Os animais matam-se por comida e os homens trucidam-se por dinheiro. Os cara de pau, no contexto das cortesias e mimos, chegam as raias dos abusos e ridículos. Os encargos espantam os indivíduos na proporção dos chamariscos aproximarem os homens.        
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem: http://visitepetropolis.com

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Os comedores de terra



Os moradores, reunidos na tradicional conversa informal, explanaram umas e outras boas e interessantes histórias e relatos. A conversação, numa turma de dezenas de amigos e conhecidos, aborda os assuntos e temas mais profundos e variados. A essência dos diálogos relacionam-se as narrações de experiências e vivências.
O tema terra cedo entrou na pauta. Inúmeras famílias, numas reservas acumuladas por gerações, “viram as posses escorrer entre os dedos”. Uns poucos anos bastaram na sucessão de gerações e as sobras “foram-se ralo abaixo”. Jovens abraçaram a causa da administração e gerenciamento. As estirpes, no ínterim das vivências, partiram na direção dos ancionatos ou derradeiros repousos.
A economia austera e espírito poupador, comum entre as primeiras levas de pioneiros e descendentes, perderam-se como princípios familiares. A ânsia de consumo, em meio a desenfreada propaganda na mídia, tornou-se algo banal e vicioso. Os forasteiros, com as uniões matrimoniais, entraram nos seios das clãs. Estes, com cobranças e sugestões, redimensionaram doutrinas e valores. A importância das terras, no seios familiares, inclui-se nesta preocupação.
Inúmeros coloniais, migrantes do campo a cidade, cercaram-se de companhias das cidades. Estas, em função das experiências e vivências urbanas, nunca deram maior importância/valor às terras das colônias. Estas, cobertas de matos ou lavouras localizadas nas grotas, viram-se relegadas ao abandono ou descaso. A ideia original, de primeira oportunidade, consiste em “em passá-las no troco”. Inúmeros migrantes, no propósito de jamais reinstalar-se nas colônias, acataram a resolução.
As terras, vendidas a antiga vizinhança, angariaram expressivas somas. O dinheiro usufruído, de maneira geral, acabou canalizado às necessidades de consumo. As lojas, mercados e revendas aumentaram sua clientela e lucros. Os recursos, acumulados com tamanha economia, sacrifício e trabalho (de anos ou décadas), cedo “viraram pó”. As companhias, por completo, gastaram-nos nas atividades terciárias (boa parte em luxo). Adveio a expressão correspondente de “comedores de terra”. Os membros, no consumo diário, gastaram um dinheiro valioso e volumoso.
Os patrimônios familiares, fruto de heranças, viram-se consumidos por quem menos batalhou/contribuiu para acumular sobras. Os familiares/parcerias, uns casos as femininas e noutras as masculinas, tornaram-se os consumidores. A prática trouxe a troca de mãos de inúmeras e valiosas reservas. Diversas famílias, apegados a terra por gerações, abandonaram a atividade agrícola e enveredaram pelo caminho da urbanização.
As terras, com as exportações dos produtos do campo, assumiram valores exorbitantes. Os hectares mecanizáveis custam verdadeiras fortunas. Quem comprou, ganhou  dinheiro; quem vendeu, arrependeu-se de perdas. Outros poucos, em prédios e terrenos, reaplicaram os recursos nos ambientes urbanos.
Uma realidade colonial nova significa o aluguel de terras. Diversos colonos, com os potentes tratores, tratam de arrendar áreas/lavouras. O valor do aluguel, em média, dá um salário mínimo por hectare/ano.  A locação permite a extração de três safras anuais: duas de verão e uma de inverno. Os inquilinos  com a massiva adubação, procuram extrair os limites do máximo. As áreas cedidas precisam estar livres de obstáculos (pedras e tocos). A mecanização precisa ser fácil e o solo fértil. Um negócio compensador para quem aluga. Eventuais prejuízos, com estiagens e pragas, recaem sobre os arrendatários.
A terra, num contexto econômico inflacionário, nunca perde seu real valor. Os solos precisam ser trabalhados caso contrário tornam-se encargos. Os rurais, diante das realidades dos fatos e vivências, fazem abordagens e criam histórias.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:http://www.spni.com.br 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O vendedor de porongos

Tamanhos e formatos da cabaça

Um colonial, numa certa ocasião, dirigiu-se à cidade. Este procedeu uma visita aos parentes. Na oportunidade aproveitou para levar alguma encomenda de cuias. Este, pelos porongos escolhidos a dedo, ganhou boa soma. Ele, numa conversa informal, relatou o sucedido ao curioso e necessitado vizinho.
Este, com os tradicionais problemas financeiros, pensou numa forma de comercializar  sua relegada produção. Algumas mudas, numa casualidade, haviam nascido e crescido num amontoado de esterco curtido. Os singelos pés (plantas) produziram algumas centenas de frutos. O produtor, diante da fala, vislumbrou a oportunidade de comercializá-los na cidade. Ele, com a o auxílio dos familiares, colocou mãos a colheita.
O produtor, nos primórdios da colonização (por volta de 1875), encheu uma carroçada de frutos. Ele, num certo dia, partiu pela esburacada estrada geral. Os familiares, com as prováveis vendas, aproveitaram o momento para encomendar uma porção de compras. A família, como pedido, almejava uma porção de quinquilharias (com o dinheiro auferido na venda).
O vendedor de porongos, na estrada de ida, precisou pegar uma barca para atravessar o rio (Taquari). O curso fluvial, nos meses chuvosos do inverno, ostenta acentuados volumes de águas. O camarada, depois de um deslocamento de quilômetros, achegou-se às cidades (principiantes núcleos urbanos de Estrela e Lajeado/RS). Ele, aqui e acolá nas casas dos moradores, ofereceu seu produto colonial.
Os naturais, de maneira geral, mostraram descaso com a mercadoria. Um produto comum, de fácil produção, nas lavouras das colônias. Este, numa profunda decepção, não conseguiu efetuar maiores vendas. Os dispêndios, de manutenção e subsistência, mal viram-se cobertos com vendas. As necessidades levaram a dispender o escasso dinheiro. O desânimo, numa altura, levaram-o a retomar o caminho de casa.  
O cidadão, diante das carências e dificuldades, obrigou-se a poupar e sacrificar-se mais. Ele procurou diluir e diminuir o prejuízo. O raciocínio, em termos gerais, consistia: “- Já que não vendi, não tenho como contratar os serviços de retorna da barca (diante da inexistência de ponte). Procurarei algum passo (passagem rasa no rio). Os animais e carroça, a nado, podem atravessar pelas águas”. Ele, sem maiores floreios e rodeios, procedeu dessa forma.
A junta de bois, conduzido nas rédeas, incursionaram pela passagem. Os porongos, sendo leves, passaram a flutuar nas águas. As peças, com o afundamento da carroça, foram correnteza abaixo (na direção da confluência dos rios). O veículo, noutra margem, viu-se esvaziado e lavado.
O produtor, achegando-se à casa, causou admiração aos familiares. Os gritos dos filhos eram: “- O pai vendeu tudo! O pai comprou nossas encomendas!” A esposa reforçou o barulho com o interrogatório: “- Vendeu todos os porongos? Deu para ganhar o dinheiro?” O marido, não sabendo que dizer ou explicar diante do esdrúxulo resultado, respondeu: “- Procurei mandar tudo para Porto Alegre!” (através da direção dos rios Taquari, Jacuí e Guaíba). A dedicação e o trabalho tinham sido em vão. A penúria monetária manteve-se como sina familiar.
Os produtores continuamente defrontam-se com as carências de mercados. A viabilidade econômica duma propriedade minifundiária de subsistência familiar ostenta-se um tremendo desafio. Inúmeros empreendimentos e negócios exigem  labuta e sacrifício, porém os resultados mostram-se medíocres. Mercadorias de fácil produção costumam conviver com carências de aceitação no mercado.

Observação: História narrada por Romildo Spellmeier/Colinas/RS.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://www.viladoartesao.com.br

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A matemática da vida


Um professor camarada, durante décadas e inúmeros anos letivos, administrou as artimanhas e segredos dos cálculos matemáticos. Ele, para algumas centenas de estudantes, ensinou as habilidades e raciocínio dos números. Somar, dividir, multiplicar e subtrair foram as noções básicas.  Este, em dezenas de noites, chegou a sonhar e ter pesadelos com a agitação e barulho do trabalho letivo. Uma gama de indivíduos ganhava noções básicas e treinava a habilidade das operações.
O cidadão, transcorridos uns bons anos, queria saber o resultado desde ensino/estudo. Inúmeros alunos ostentavam-se bons matemáticos (em função do raciocínio lógico desenvolvido). Outros mais, ligado ao conhecimento humanístico, davam menor importância ao conhecimento das exatas. O cidadão, na suas idas e vindas como aposentado, falava esporadicamente com uma porção de ex-alunos. Este, de forma sutil, interrogava sobre a aplicação e uso cotidiano dos conhecimentos dos números. O pessoal valia-se do uso ou indiferença do conjunto de cálculos (complexos ou simples) no dia a dia dos afazeres.
A surpresa mostrou-se grande com o desempenho humano. Muitos, como estudantes da periferia urbana, “nem estavam aí para coisa”. Vários elementos, “metidos com porcaria”, envolveram-se na ideia do dinheiro fácil e rápido. Estes esqueceram-se das dificuldades de batalhar e labutar para satisfazer as necessidades básicas. As conquistas grandiosas exigem dedicação, tempo e trabalho. Outros camaradas mantiveram a pacata vida de cidadão. Eles preocuparam-se de conseguir algum trabalho, constituir família, melhorar as condições econômicas...  A matemática restringia-se ao básico do uso diário. O primeiro cálculo, diante da necessidade, ganhava o auxílio duma calculadora.
Uns poucos, ambiciosos e ousados, queriam compreender e valer-se unicamente da matemática. Aquela financeira e prática: ligada ao conhecimento do mercado, interpretação dos dados estatísticos, conclusões sobre as oscilações da economia... Eles assimilaram a habilidade dos números, com razão de angariar dinheiro e beneficiar-se do “sangue do capitalismo”. Estes desconfiavam dos descontos e promoções anunciadas na mídia (pelos fáceis e muito serviços). Os espertos conheciam artimanhas dos ágios embutidos, dados estatísticos manipulados, juros simples e compostos... O resultado acabou em cidadões bem sucedidos e excepcionais empresários/investidores.
A matemática tinha extrema importância e valia. Ela era o esteio do sucesso ou insucesso financeiro. Eles, como princípio básico, não faziam nenhum negócio sem maiores cálculos e estimativas. A matemática financeira era a base do emprego, enquanto os cálculos, nas escolas, não passavam de meros treinos mentais. A regra de três, simples e composta, constituia-se comumente na conta mais empregada e útil.
A melhor escola da vida revela-se a prática. Os professores transmitem muitos dados e poucos aplicam as informações no seu exercício cotidiano. A credibilidade profissional encontra-se na coerência dos atos com a teoria. O educador, no contexto duma sala, ostenta uma diversidade de interesses e vocações. Os reais conteúdos assimilados são aqueles utilizados nos afazeres diários.
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem: http://www.brasilescola.com

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A lorota das melancias



Os colonos, como prática agrícola, tiveram o princípio da diversificação produtiva. Uma filosofia de não depender dum exclusivo e único produto. Alguma dezena de culturas, ao longo dos lotes, espalharam-se no contexto das lavouras. O fato incluía as tradicionais abóboras, melancias, melões... Elas visavam o auto-abastecimento e mimo familiar.
Um certo morador, próximo a estrada geral (duma vila), cultivara o tradicional aipim. Um produto, junto ao arroz, feijão e alguma carne, ostentava-se a alimentação básica dos cardápios familiares. Os agricultores, sem maiores exceções, trataram de plantá-lo nas localidades afora. Duas centenas de pés, numa família, davam produção suficiente para o consumo anual.
A mandioca, no interior da roça, ganharia a companhia dos “pés” (plantas) de melancia. Esta, com a sombra alheia, adorava a consorciação. As volumosas frutas, numa aparente brincadeira de esconde-esconde, puderam proteger-se da excessiva insolação. O plantador, em intervalos de tempo, percorria o interior da lavoura. Este dava-se a alegria e satisfação de apreciar as belas e excepcionais frutas.
O colonial, com a massiva adubação (do solo arenoso), viu a recompensa do esforço e trabalho. As plantas agradaram-se do mimo e correspondiam as expectativas. A vizinhança, como sua ousada gurizada, deparou-se com as intenções da cobiça e pilhagem. Os malandros, com o amadurecimento das frutas, planejaram incursões noturnas ao local. Estes, a semelhança do proprietário, almejaram degustar uma e outras boas melancias. As volumosas frutas constituiam-se num convite a transgressão.
O roubo de melancias, no círculo colonial, era uma brincadeira e prática costumeira. Os plantadores, na proporção de não danificar/estragar, davam a mínima (com o sumiço de algumas). A abundância e fartura, de maneira geral, nem denunciava a falta de umas e outras. Alguns apreciadores, de boas distâncias, advinham na surdina para incursionar nas lavouras alheias. A prática, no primeiro conchilo do plantadores, acontecia nas caladas do dia e, de preferência, nos finais de semana.
O proprietário, da beira da estrada geral, resolveu assustar e inovar na criatividade e proteção. Este, próximo ao amadurecimento das graúdas frutas, resolveu instalar uma placa. Esta, como aviso geral aos pedestres, continha/dizia: “- O local tem duas frutas envenadas!” Os larápios, em potencial, depararam-se surpresos com o inesperado alerta. Estes, num pré-combinado de semanas, viram-se afrontados e desafiados nas pretenções. A dúvida crucial: Quais seriam as envenadas? A desconfiança certamente recaia sobre as esbeltas e graúdas. 
As dúvidas e opiniões, sobre o pré-estabelecido, mantinham-se acirradas e variadas. Um participante, numa altura, sugeriu dar a contrapartida. A turma, numa cortesia/gentileza inoportuna, confecionaram seu aviso. Esta continha o seguinte alerta: “- Agora tem seis envenadas!” O dono/plantador certamente assustou-se com a informação. Quais seriam essas? Algum produto impróprio injetado no interior das frutas.
Os dois avisos, como alerta geral, permaneceram afixadas umas boas semanas. As melancias, de dar água na boca (no sabor dos dias quentes de verão), eram um chamarisco ao apetite e consumo. O pessoal, de maneira geral, temeu a inconveniência. O tempo transcorreu no cenário de boa produção. As frutas, no entanto, apodreceram literalmente no local. Nenhum consumidor ousou arriscar a incorrer numa excepcional indisposição (estomagal e diarreia).
O curioso, no cruzamento posterior das informações, relacionou-se a realidade dos fatos. Os autores descobriram que nenhuma fruta tinha sido contaminada. As partes, numa ingenuidade mútua, ousaram pregar-se uma peça. Uma lástima, de dar dó, o desperdício daquela majestosa dádiva agrícola.
A ganância de uns atrapalha seu próprio bem estar. Quaisquer peças, cedo ou tarde, revertem em auto-prejuízos. As melancias, nas colônias, deram origem a inúmeras histórias e relatos pitorescos. Os doadores, para darem algum bem, devem fazê-lo com carinho e satisfação.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://ahortadocouto.blogspot.com.br

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Um desleixo urbano


Uma área, no lado duma empresa, cedo conheceu uma inconveniência. Aquele incômodo, comum nas periferias urbanas, da desova de lixo. Os moradores, na surdina, “tratavam de descarregar suas porcarias”. Um punhadinho no começo, em questão de semanas, tornou-se um amontoado/espalhado de imundícies. O proprietário, morador doutra cidade e num eventual cuidado, fazia descaso da situação da desova.
Uma empresa, como vizinhança, funcionava no lugar. O dono, diante do alheio, mantinha o desinteresse. A despreocupação era comum com o criatório de aranhas, moscas, roedores... O cheiro impróprio, nos dias de intenso calor, faziam-lhe indiferença no ambiente. Um conhecido, no seu entender inconveniente, até cobrou-lhe alguma providência (diante do descaso com o depósito clandestino). Ele, como contribuinte, pensou no município dar um jeito nesse material.  O pagador de impostos, nada baixos, mantinha desobrigação com relação a realidade imprópria.
Os dias quentes e secos achegaram-se no sabor do verão. Outro domingo ensolarado e tranquilo sucedeu-se em meio a sucessão de dias. A vontade familiar foi de “colocar os pés na estrada”. A preocupação foi de curtir a convivência e desligar-se das obrigações de rotina. Algum pedestre, neste ínterim, passou certamente pelo local do depósito. Este, com aquele cheiro e visual inoportuno, atirou (na discrição) algum  pitoco de cigarro. Este, como camarada inconsequente, “foi-se ao mundo”. A ação foi criando e espalhando fumaça negra. As labaredas, numa hora, tomaram vulto e o lixo ia sendo consumido.
Algum amigo, ao dono da empresa, cedo telefonou. Este relatou o fato e o perigo iminente. As ameaças eram veementes do fogo alastrar-se na direção do prédio da empresa. O proprietário, de longa distância, “adveio correndo a mil” para acompanhar o quadro. Os bombeiros foram acionados e debruçaram-se para evitar maiores consequências. Um incêndio generalizado poderia tomar vulto em função dum simples descaso. O lixo: todos produzem-o e ninguém deseja tê-lo próximo. O susto e o temor foram grandes com perdas maiores. A sorte ainda ajudou para evitar algum desastre maior.
Uns aprenderam a dura lição da destinação própria. Os donos não podem permitir macegas próximo as redondezas dos prédios. O patrimônio, angariado com tamanho suor e trabalho, poderia ter ido pelos ares num piscar de olhos. Um simples relapso poderia ter causado danos incontáveis. Qualquer morador, no lugar do seu habitat, é um dos responsáveis pelo espaço. O ente público não dá conta de abraçar todas as necessidades. Os terrenos desabitados, no contexto urbano, cedo tornam-se um “problemão” (como criatórios e depósitos clandestinos).
As pessoas criam-se problemas onde inúmeras vezes inexistem. Os lixos e plásticos, como problemática, acabarão suavizados na proporção do emprego exclusivo de materiais biodegradável. Os cuidados dados as imundícies, em quaisquer ambientes, retratam o real nível cultural dos ocupantes do espaço. O cidadão, em qualquer ambiente e contexto, precisa fazer sua parte (mesmo que os outros relegam sua porção). O ente público, diante das muitas e variadas necessidades e obrigações, carece de poder atender a gama de exigências.

Guido Lang
”Singelas Histórias do Cotidiano Urbano”

                                                    Crédito da imagem: http://tribunadonorte.com.br  

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A pilhagem alheia


Moedas de Ouro Wallpaper

         As agruras e carestias exigem precaução caso contrário a fome e o frio ceifam a vida. Inúmeras espécies, como ensinamento e sabedoria, seguem a sina de acumular. As abelhas ostentam-se um belo exemplo do estoque de reservas ao infortúnio. Os indivíduos, da astúcia dos insetos, podem extrair excepcionais lições de vida.
Uma comunidade de abelhas, no interior da colmeia, seguiu sua rotineira sina. Ela, na primavera-verão,  começou a precaver-se das dificuldades do inverno. A espécie, pelos milhões de anos de existência no planeta Terra, sabe da tradicional achegada, na época própria, da chuva e do frio. Os imprudentes, como comunidades singelas, perecem diante da falta de reservas alimentares. A inexistência de flores e descuidos de apicultores levam a tragédia de inúmeras comunidades.
Cada inverno, apesar do conhecimento generalizado sobre a situação do porvir, leva muitos ao perecimento. Uns sempre pensam: “- Isto não vai acontecer comigo e somente com os outros”. Estes, na proporção da achegada das desgraças, cedo recorrem a mendicância e a pobreza.
As colmeias, conhecedores da realidade própria do habitat, antecipam-se a desgraça. As comunidades, nas estações quentes, começam a avolumar mel. Um trabalho incessante, de vôos e sobrevoos de milhares de membros, dedicados a explorar as variadas florações. As caixas e sobrecaixas, em poucas semanas, precisam mostrar-se abarrotados de favos e mel. Um aroma ímpar, com o calor de verão, passam a exalar nas redondezas das instalações de comunidades carregadas. Inúmeras ostentavam-se serenas e tranquilas com a tarefa precocemente concluída do acúmulo das reservas.
Os perigos dos muitos aventureiros, com o aroma,  rondeavam os patrimônios apícolas. As abelhas, em meio as desconfianças dos inimigos, ostentavam-se deveras agressivas e precavidas. Um conjunto de oportunistas, em função do doce, ameaça as comunidades com a história do mel. O fatídico aconteceu com os esfomeados apicultores. Estes sentem os cheiros das reservas. Eles, na primeira oportunidade, avançam sobre os favos.
A agressividade e ferroadas, em meio a indumentária dos profissionais, surtem escassos efeitos. As pilhagens costumam atingir as sobrecaixas. As abelhas, para safar-se do infortúnio dos dias impróprios do inverno,  obrigam-se a retomar a onerosa labuta. O ódio e a raiva certamente não faltam por ter colocado a sobrevivência das muitas comunidade em perigo.
Inúmeras famílias, ao longo da existência, seguem uma assemelhada sina. Elas, com extremo espírito econômico e trabalho, acumularam reservas (durante décadas e gerações). O temor da miséria mostrara-se contínuo nos dias do vigor da vida. Poupanças, prédios e terras viram-se adquiridas e acumuladas para  gerar dividendos. Estas divisas, com os investimentos, multiplicaram-se na proporção da achegada da velhice. As ideias e os olhos alheios, na tradicional cobiça e inveja humana, cresceram com a existência dos patrimônios familiares.
Os anos transcorreram rápidos. Os filhos casaram e forasteiros aconchegaram-se nos seios familiares. Estes, como aventureiros/oportunistas de prontidão, cedo vislumbraram as possibilidades de ganhos fáceis. As   preocupações dos intrusos, com o perecimento de algum ancião, relacionara-se aos inventários. As perguntas básicas foram: Como serão divididos os espólios? Quais os direitos dos herdeiros? As  brigas e desavenças tomaram vulto entre os irmãos (“cada qual querendo puxar o assado para o seu lado”).
As heranças familiares, como os favos de mel, acabam esfacelados e nas mãos daqueles que menos labutaram. A pilhagem, infelizmente, toma sentido e o “cheiro da fartura incentiva a usufruir, como boas vidas, daquilo pelo qual não batalharam e trabalharam para angariar”. Conflitos homéricos esfaleceram antigas clãs e a desconfiança instalou-se pela vida afora entre manos.
Conflitos familiares, na hora das divisões dos espólios, tornaram-se uma sina comum na maioria das clãs. Certos indivíduos sentem-se grandes e poderosos com o suor alheio (o próprio, em geral, ostenta-se uma caricatura). As pessoas preocupam-se deveras com o ter em vez do ser. O dinheiro, no contexto da convivência, deixou de ser fator de facilidades de  troca e sim causa de acirradas disputas.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem: http://www.downloadswallpapers.com/papel-de-parede/moedas-de-ouro-18768.htm

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A improvisação caseira


       Uns moradores, das encostas dos morros na direção das baixadas, canalizaram fontes/nascentes. A água escorre, com a declividade, de forma automática e rápida na direção de caixas e reservatórios. Um líquido natural ímpar, dádiva divina, abastece animais e humanos. Um produto cristalino, nos períodos da ausência de chuvas e avermelhada na proporção das precipitações (muito recentes), revela-se uma água mineral.
          Alguma dificuldade sucede-se na proporção das trompas d’água. Elas, de soberbão  abatem-se esporadicamente sobre o cenário rural. A força/violência costuma aterrar e trazer terra. Esta, em situações, podem atrapalhar ou entupir canalizações. A vasão começa a ter problemas e daí a necessidade de percorrer o trajeto. Cada chuva ímpar e aquela inconveniência de canos entupidos e sem água no pátio! Um desperdício de tempo e trabalho percorrer todo o trajeto da canalização. A água torna-se necessária e daí a urgência de tomar  alguma providência.
          Algum esperto, diante do dilema, cedo inventou um atalho/paliativo. O pensamento direcionado a encontrar alguma solução fácil e rápida. Experiências aqui e acolá! Improvisações lá e cá! A estratégia, numa inovação, consiste de bombear de baixo para cima alguma água da rede comunitária. O proprietário emenda/liga os canos e verifica-se a possibilidade de desentupir  Outra forma ousada, de compressor, consiste em colocar ar dentro da canalização. Qualquer barro ou sujeira voa fora diante da violência. Isto se emendas não se romperem ao longo do percurso. O paliativo pode abreviar uma porção de caminhadas e percalços.
          Singelos problemas, a título de exemplo (como esse no cotidiano das propriedades), exigem esperteza às modestas soluções. A experiência, com o conhecimento empírico, vão aprimorando práticas e ensinando lições de vida. Alguém inventa alguma artimanha dessas e outros cedo valem-se da prática às suas necessidades. Resultado: cria-se, ao longo dos anos de colonização, todo um conhecimento e trabalho rural. Este, de maneira geral, encontra-se alheio a maiores registros literários e, através do exemplo prático e da tradição oral, vê-se postergado aos sucessores.
Os coloniais possuem um conhecimento privado as suas necessidades. Estes, nas suas lidas e tarefas, são extremamente astutos e inteligentes. Eles ostentam-se descobridores/inventores diante de seus dilemas e necessidades. Possuem, na prática cotidiana, dificuldades de conviver e raciocinar na  vida urbana. Esta, de maneira geral, pouco lhes interessa em função do impróprio da agitação, barulho, improvisação, mazelas...
Inúmeros citadinos criaram aquela falsa  imagem, de  burro e retrógrado, ao redor do homem das colônias. Este ostenta-se feliz e realizado na proporção das suas vivências rurais. A sabedoria aponta: cada elemento ostenta-se astuto e esperto no habitat próprio. O rural mostra-se um conhecedor extremo na seu ambiente e sina.
O problema com os seus artefatos específicos e soluções próprios. Inúmeros cidadões, como néscios, dão-se o direito de avaliar e julgar o desconhecido e ignorado. A conversa de uns nem sempre confere com a realidade dos fatos.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: www.avina.net

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A carteira abonada


Um camarada, muito ambicioso e individualista, achava que levaria algum patrimônio dessa vida. Este possuía um excepcional apego e paixão pelo dinheiro. Os volumes, por sua ganância e obsessão  nunca pareciam-lhe o suficiente. Quaisquer trocados cedo revertiam nalguma compra de terras ou depósitos em cadernetas. Uma dupla de adoidados e logrados combinaram uma peripécia. Esta, em forma de afronta e lição, vira-se aplicado como sabedoria.
Os dois elementos, conhecidos deste como vizinhos, alimentavam nojo e raiva. Um negócio, mal acertado, tinha-lhes causado prejuízos monetários. Esta perda, por semanas e meses, incucava-lhes as ideias e pensamentos. A astúcia e esperteza consistia em criar e perpetuar. Os camaradas, em determinado horário e dia, sabiam do cidadão dirigir-se na direção do núcleo colonial. Aquela costumeira tarde da quarta-feira era o momento propício. O espaço próprio ao baralho/cadeado na sociedade comunitária. O local da reunião dos moradores da comuna. O ambiente ideal dos comentários e fofocalhadas sucedidas na localidade. O ancião, na tradicional montaria, monta no saino e toma a direção da estrada geral.
O chão batido da estrada, entre contornos e curvas (como cobra estendida numa visão panorâmica das elevações maiores na direção dos vales), estendia se no cenário rural. O trajeto, das encostas na direção das baixadas, via-se íngreme e de difícil deslocamento. As lavouras de aipim, cana, forragens, milho estendiam-se pelas margens. As propriedades,  minifundiários de subsistência familiar, valiam-se da massiva exploração econômica. Estas, com o aumento populacional, pareciam não dar conta das necessidades de subsistência de inúmeras famílias.
Os espertalhões, no papel de malandros, confeccionam uma polpuda carteira (forrada de papel com alguma nota de menor expressão caída para fora). Esta, numa primeira visão, mostrara-se abonada e recheada de dinheiro. Ela, entre uma lavoura de cana e mandioca, vira-se colocada, como extraviada, em meio ao caminho da estrada geral. Esta, como ardil, escondia um discreto fio de nylon (amarrado), com razão de arrastá-la/puxá-la, na proporção do interesse. O senhor, no percurso, aconchega-se e vê estirado o artefato. Procura, num ato repentino, certificar-se de ser uma carteira.
O cavalheiro, apesar da avançada idade e dificuldade de locomoção, desce de supetão do exuberante animal. Este, de imediato, tenta ajuntar a peça. Esta, arrastada/puxada, “parece sair caminhando diante do  cidadão”. A dupla escondida, no interior da vegetação, diverti-se com o assombro e reclamo alheio. Estes, na surdina, relegaram o artefato numa altura e saem na disparada (agachados  lavoura afora).
O ancião, com a chacota, sentiu-se muito agredido e irritado. Este desconheceu os elementos, porém suspeitou do fulano e sicrano. O xingado, em bom dom, tomou vulto. As gargalhadas, diante do esdrúxulo comportamento (em meio as plantações), tornaram-se exaustivas. O impróprio, como lorota, difundiu-se cedo pela comuna. A correção e seriedade, dentro do espírito estoico, reforçaram a irritações, raivas e xingamentos.
A dificuldade maior, por falta de barranco/elevação melhor, consistiu em querer voltar a montar o exuberante animal. O vigor físico, com avançada idade, ainda pouco colaborou para pisar no estribo e erguer-se em cima da montaria. O jeito foi caminhar e conduzir o animal. O camarada, naquele dia, absteve-se de jogar seu bife e canastra. A solução foi deixar seus parceiros na mão e passar como tratante junto aos companheiros  (diante do combinado). A afronta e chacota alteraram os ânimos e disposições (“estragaram-lhe a tarde”). O sucedido poderia ser perdoado, porém jamais esquecido.
Um passatempo predileto de uns, no seio colonial, consistia em importunar os deveras corretos e pontuais. O ser humano, com alguma inconveniência, adora tirar chacota e passar lorotas aos próximos (com razão de conhecer as atitudes e procedimentos). A monotonia rural, com o excesso de tranquilidade e falta de acontecimentos, via-se rompido com alguma afronta e peça anômala.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://luziafelizidade.blogspot.com.br 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A fábula das pedras


Um conjunto de pedras, extraídas duma pedreira, foi levada ao local duma construção. O pedreiro, então, perguntou as peças qual função cada uma desejava exercer. Uma laje queria ser alicerce para ser sustentáculo das demais; outro pilar queria assegurar o conjunto da obra; alguma parede mais desejava proteger os moradores da chuva e do sol... A disputa maior ocorreu para ser o pilar de entrada, quando a maioria almejava o posto. Escolhido a beneficiada, esta alegrou-se muito porém cedo queixou-se do entra e saí dos ocupantes. Estes, no cotidiano, chegaram a desgastar a pedra grês, que daí desabafou os encargos do ofício. Esta mantinha-se na vitrine todavia pagava um ônus deveras oneroso. 
A situação iguala-se a certos cargos públicos, que oferecem fama mas levam pedradas em meio ao exercício. A vida, como profissão, oferece-nos a escolha do discreto ou majestoso: cada qual escolha o mais conveniente para si.

Crédito da imagem: http://viveremorartribem.blogspot.com.br/2009_10_01_archive.html


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Um conselho paterno


Um certo camarada, como estudante, passou vinte três anos nos bancos escolares. Escutou, nestes longos anos de formação e instrução, “umas e outras muito boas e interessantes”. Inúmeros professores deram-lhe uma gama de conhecimentos, conselhos e conteúdos  Pouco desse muito, na vida real, conseguiu colocar em prática. Este, com relação as dezenas de profissionais da educação, descobriu cedo uma realidade. Os discursos e teorias pouco fechavam com as práticas. Os professores, como quaisquer outros humanos, gostavam e interessavam-se demais pelo dinheiro.
O trabalho, como profissional da educação, levou outros vinte e cinco anos. Algumas centenas de alunos passaram-lhe pelas mãos. Precisou, para manter-se no posto, acompanhar e obedecer os inúmeros modismos educacionais e resoluções. Sai administração e entra governo: alternância de resoluções e mudanças de rotas. Muito discurso e propaganda em quaisquer gestões. Índices incoerentes com a eficiência e qualidade educacional. Os alunos, para quem quer, tem todos as chances e oportunidades de aprimorar e desenvolver os dons e habilidades. Obrigou-se, como qualquer assalariado da educação, a vender o serviço do conhecimento (na sua área e disciplina de formação). Uma lição assimilada nos anos: muita compreensão e paciência com os filhos alheios. Priorizar e procurar a amizade  e o diálogo na convivência educacional. Os conselhos consistem em falar com amor. A prática cotidiana particular necessita fechar com o ensino das teorias. Os atos e gestos do educador refletem-se na credibilidade dos conteúdos. O profissional, no sim ou no não, tem a necessidade de detalhar e exemplificar as respostas.
O cidadão, como pai de família, obrigou-se a dar conselhos aos filhos. Eles, como recomendação, deveriam continuar a formação familiar e priorizar os estudos. O conhecimento e o trabalho realizam maravilhas, portanto, a necessidade de desenvolver o amor e a paixão por estes. A necessidade de conciliar o gosto e a vocação profissional com razão de ganhar o “pão de cada dia” (com a maior facilidade). A recomendação de não insistir em empreendimentos do seu desinteresse. Ouvir para assimilar o básico nisso. Procurar  em seguir a “própria estrela/norte” em vez de querer imitar outros. Aproveitar as chances e oportunidades, pois “o cavalo encilhado nem sempre passa pela vida”. Viajar muito para aprimorar a escola prática, pois é sempre melhor ver do que meramente ouvir. Aprender a conviver com todo tipo de gente, do cidadão mais humilde ao mais graduado, com razão de extrair lições da sua experiência e verdade. Confiar, desconfiando das pessoas e apreciar as entre-linhas das conversações/o dito e o não dito das conversas.
O pais-professor, aos rebentos, externou: “- Peguem os conteúdos interessantes e válidos. Esqueçam de perder espaço e tempo com o inútil. Dos professores, observam bem as  práticas e pouco ouvidos deem aos discursos. Estes, como a maioria dos próximos, sofrem dos idênticos problemas: carência monetária. O maior segredo, de toda essa história, consiste em bem gerenciar e multiplicar os recursos. Eles movem toda a engrenagem e, a maioria, falha neste item. As mãos milagrosas multiplicam os dividendos, enquanto as imprudentes desperdiçam o angariado. Gastem o necessário no bem estar, porém jamais desperdicem. O desperdício aumenta nossas necessidades de trabalho. As pessoas, entre elas, tem uma única diferença: ter ou não ter o monetário. Todas, com nenhuma exceção, adoram um bom cardápio e dinheiro fácil. A vida é nossa única real propriedade, portanto valorizam-a como pérola divina. Abstenham-se dos vícios, pois eles nos escravizam e matam. Sejamos senhores do próprio corpo e Deus tem propósitos maiores com nossa passagem terrena. Jamais lamentem acontecimentos! Estes também tem uma razão de nos conduzir e orientar”.
Os filhos ouviram e refletiram sobre os conselhos duma existência. O seguir ou não o receituário cabe a cada qual. Uns aceitam e outros rejeitam o proposto, porém cada qual tinha a chance de encurtar caminhos e experiências. Uma boa conversa e bom conselho é uma dádiva divina. Poucos encorajam-se a dizer a realidade dos fatos. Filhos, para uma boa criação, precisam ser bons amigos e parceiros. Nada de submissão e temores paternos. Os exemplos, na família, norteiam os seus passos da existência.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem: conscienciadeviver.blogspot.com

domingo, 17 de fevereiro de 2013

As excepcionais carnes


Um churrasco, no passado, era sempre um acontecimento especial. Os moradores, nos eventos comunitários, afluíam dos cantos e recantos da localidade (com razão de degustar  boa carne). Inúmeros já faziam caso duma excelente galinhada e imagina então duma churrasqueada. Esta, regada a bebidas e saladas, costumeiramente era de origem bovina ou suína. Os assados, na atualidade, tornaram-se uma prática domingueira (nos seios familiares). Assar alguma carne ostenta-se um alívio às senhoras na cozinha e a incumbência dos maridos em fazê-lo nas churrasqueiras.
Um certo cidadão, nas colônias, começou a namorar determinada moça. Os apaixonados, de famílias tradicionais, conheciam-se desde a infância. O namoro, nas idas e vindas, tinha tido a duração de algumas poucas semanas. Os pais, da moça, primeiro necessitaram dar o aval do relacionamento. O jovem, dali em diante, pôde passar a frequentar a casa. Este, a cada final de semana, encontrava-se no lar da enamorada. A família, do genro em potencial, pode conhecer facetas das manhas e virtudes. O rapaz, entre as várias vocações, salientava-se na habilidade de exímio caçador.
Um certo dia, depois duma boa convivência,  adveio o convite de degustar um churrasco (na casa do rapaz). Os pais da moça, em alta consideração e estima, procuraram dedicar um momento especial à visita. As duas famílias reforçariam vínculos com a excepcional refeição. O prato, num domingo, não poderia ser outro: o tradicional churrasco. As residências, em quaisquer moradias, improvisam ou possuem um lugar próprio aos assados. Aquele lar, com churrasqueira ou forninho, não podia ser diverso. A preocupação, com a visita inicial, estaria numa boa convivência e conversação. O aperitivo, no ínterim do preparo do assado, atiçava o estômago ao apetite.
O rapaz, como não poderia deixar de ser, procurou caprichar nas carnes e temperos. Uma abundância e diversidade para o escasso número de pessoas. Algum carvão especial, a base da acácia ou angico, constituiu boa brasa. Alguma caipira, com cachaça de alambique e limão taiti, para agradar convidados. As brincadeiras e conversas, com camaradagem e gargalhadas, rolavam soltas. Os homens, no ínterim, assentaram-se na beira da churrasqueira. O objetivo consistia em fazer assar as carnes. As mulheres, no interior da cozinha, tinham preparado as saladas e sobremesas. Afinal, numa visita dessas,  nada poderia faltar! A animação, acrescida da fofoquinha, piada e risada, rompia a rotina da calma e silêncio (tão comum nos dias da semana). Os espetos, estendidas sobre as brasas e repletos de cheirosas carnes, “traziam o aroma ao nariz e convite ao paladar”.
O cheiro exalava pela propriedade e vizinhanças. A cachorrada, lá adiante, prescindia a oportunidade de degustar alguns bons ossos. Os gatos, comis diversos cheiros, mantinham-se abusados e irrequietos. Alguns restos, nalguns pratos, certamente sobrariam. A dificuldade, com tamanha fome, era aguardar o momento oportuno. Alguma gordura respingada ou migalha descartada via-se cheirada e lambida. Alguma ousada galinha (caipira) achegava-se para querer tirar algum naco. Esta atiçava seus instintos carnívoros dos outrora dinossauros.
O tempo transcorreu e adveio o aviso. A carne pronta e adveio o assento a mesa posta.  A ceia, precedida de alguma oração rápida de agradecimento, levou o pessoal avançar sobre o cardápio. Um alimento dos deuses! Uma ceia de Kerb! Os elogios, do sabor das diversas carnes, não faltaram por parte dos hóspedes. O desafio era experimentar um naco de cada parte. Todos, em meia hora, viram-se fartados e satisfeitos. Uns tiveram a inconveniência de exagerar nas quantidades. Ceia concluída, adveio o momento da caminhada e posterior cesta. Uma forma complementar a digestão e revigorar os ânimos.
O visitante, neste passeio, interroga sobre a gama de carnes. O agrado, como curiosidade, merecia uma boa referência. Este pediu o nome daquele e desse pedaço. O provável genro, de bom grado, disse-lhe: “ - Aquela branca era de rã; outra mais avermelhada de tatu; alguma mais mole de rabo de lagarto; estas de aves incluía araquã, pombo, saracura... Uma diversidade exótica, típica da fauna regional, para reforçar o vigor dos instintos. O pessoal fala muito dessa variedade de carnes deixar o camarada ativo às intimidades sexuais”. O sogrão, diante do exótico, “deixou cair o queixo”. Este almejaria ter vomitado aquele cardápio. Algo impensável, para sua compreensão dos padrões coloniais, “ degustar bicharedo peçonhento”.
O indivíduo, que espera o excepcional, acaba surpreendido pelo esdrúxulo. Elogios antecipados incorrem em equívocos posteriores. O deleitoso da gente não é necessariamente o saboroso do alheio. Certas realidades, uma vez concretizadas, inconvém comentar.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: paranaagronegocio.blogspot.com

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O apego da terra


Um ancião, com a vida dedicada a agricultura de subsistência, mantinha um profundo  amor a terra. A propriedade, num capricho e dedicação ímpar, fornecia os ganhos e o sustento familiar. Este, desde o momento de conceber-se como gente, assimilou o amor ao lugar e a tradição  do trabalho. O gosto e a vocação nunca permitiu desvencilhar-se do manejo da terra.
A propriedade, localizada numa encosta de morro, dificultava a locomoção e mecanização. O trabalho maior era a base da tração animal e braçal. O solo, de maneira geral, viam-se ocupado com uma diversidade de culturas. O agricultor, de várias plantas domesticadas, procurou cultivar  um pouco (com vistas ao auto-sustento). Exemplos, entre as várias culturas, foram o aipim, amendoim, arroz, feijão, frutífera, fumo, hortaliça, milho, verdura... As criações principais envolviam aves, gado (tambo), porcos...
Os anos e décadas transcorreram em meio as judiadas e penosas jornadas. A idade trouxe o peso dos anos/velhice. O trabalho braçal, nas encostas das elevações, tornou-se impróprio e  inviável. Algum rebento, sem maior interesse e vocação, precisou assumir a propriedade. A solução, em função do descaso, foi comercializar parte do lote e outra reservar a silvicultura. O ancião, na porporção dos anos, obrigou-se a morar na cidade. Algum filho assumiu a incumbência de ampará-lo (nos dias finais e penosos). A labuta tornou-se uma completa inviabilidade e sobraram lembranças dos tempos do vigor físico.
O cidadão, no desfecho da existência, efetuou um último pedido (num dia desses). Este, numa certa oportunidade, queria refazer a visita a velha propriedade. O desejo ardente de rever a antiga moradia e terras. O ancião, na proporção da presença, apreciou as lavouras de cereais, olhou as diversas frutíferas,  reparou matos (nativos e reflorestados), viu as colmeias encaixotadas... O desfecho, num último olhar, consistiu numa visão panorâmica sobre o lugarejo. A localidade, na amplidão e formossura, entendia como dádiva divina. Deus, Todo Poderoso, tinha-lhe sido generoso pela oportunidade de passar anos tão bons neste explêndido lugar foi seu comentário.
Um filho, num domingo ensolarado, tinha-lhe feito a gentileza do passeio colonial. O senhor comentou e narrou algumas reminiscências. Inúmeras experiências e histórias pitorescas do passado rural ainda foram narrados e relatados. Os familiares e moradores, em diversas momentos das conversas informais, tinham ouvido falar de acontecimentos e fatos. Uns  poucos dias transcorreram da visita. O filho das colônias baixou a sepultura para o seu repouso derradeiro. Este, sem antes rever sua antiga paragem (numa última ocasião), não pôde fechar os olhos e o livro da existência. O apego a terrinha, apesar das dificuldades de toda ordem foi necessária (com razão do descanso sereno e a paz de espírito).
O colono, em função das criações e plantações, mostra-se um cidadão aficcionado e apegado a terra. A propriedade, no item qualidade de solo e presença de fontes, revela seu maior patrimônio. Uns coloniais, no seio dos solares, tiveram o privilégio de nascer, crescer, viver e perecer no torrão familiar (na idêntica casa, pátio e propriedade). O cenário de moradia ostenta-se um reflexo do espírito dos seus ocupantes. A dignidade e qualidade de vida consiste em conciliar os confortos da cidade com a natureza das colônias.
Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:   parasalvarvidas.blogspot.com

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A crença nos gatos


A presença de roedores, no cotidiano das propriedades, obriga os coloniais a adotarem gatos. Estes, junto a cachorrada, são uma presença nos seios familiares. Os felinos, de maneira geral, são os únicos animais domésticos com acesso ao interior das moradias. Eles, em função de hábitos e mimos, assemelham-se a membros familiares. Eles, nos horários determinados/próprios, querem a devida atenção, carinho e trato.
As moradias, na ausência de gatos, cedo vêem-se infestados de ratos. Estes, dos brejos, lavouras e matos, afluem em direção do interior das instalações. A proliferação ostenta-se geométrica/meteórica. Algumas ninhadas, em dias e semanas, infestam ambientes inteiros. Uns moradores insistem nas diversidades de venenos. Eles gastam fortunas e nada de extinguir a indecência/praga. Uns poucos roedores morrem e outros “tiram a lição da abstinência/perigo”.
A esperteza da espécie revela-se acentuada e há alguns membros parece faltar somente a fala. Os proprietários, nos lugares menos imaginados e próximos, encontram as ninhadas. Pode-se, em curtas palavras, dizer: “- debaixo dos próprios pés ou nariz”.
A solução, como economia e eficiência, consiste em adotar alguns poucos gatos. Estes, com sua mera presença, impõem o controle da população e ensinam o devido respeito aos ratos. O simples miar serve de pretexto para procurar outros ambientes e espaços. Os donos precisam optar entre a inconveniência dos ratos ou a ousadia dos gatos. Estes, em quaisquer espaços, costumam afiar as unhas e largar pêlos.
A espécie felina cedo multiplica-se em vários membros e os donos não conseguem criar todos os filhotes. As brigas dos machos, nas caladas das noites, tiram o sono de quaisquer viventes. Estes estabelecem brigas homéricas em função das fêmeas. Os proprietários resolvem-se um problema e cedo criaram outro (como mostra-se comum nos diversos afazeres em geral da vida).
Os felinos possuem uma astúcia e ousadia ímpar. Estes, como animais domésticos e pacíficos (na aparência), podem em segundos tornarem-se feras. Quaisquer ameaças e perigos transformam-nos em animais agressivos e violentos. Estes, em função de comida, tornaram-se adversários ferozes da cachorrada. As duas espécies, na convivência dos seios familiares, cedo entram em conflitos e desentendimentos. As espécies suportam-se, porém não se amam.
Uma crendice formou-se em relação aos criadores e gatos. As pessoas, de boa formação e índole, costumam adorar e mimar os felinos. As partes vivem numa afinidade espiritual muito grande. Os elementos, de espírito deturbado/impróprios, conforme a versão da experiência colonial, teriam extremas dificuldades de estabelecer bons relacionamentos e vivências. “Os falcatruas” testariam os animais (sobretudo no interior das moradias e pátios). A agilidade e astúcia felina incomodaria assim como os animais pressentiriam o mau gênio. A extrema sensibilidade animal detectaria os maus presságios.
Outra concepção colonial, na tradicional convivência, estaria ligada a sorte. Esta crença consiste: “Quem maltrata os gatos, pouca sorte ostentaria nos empreendimentos e negócios”. Um fato, “na observação dos bastidores das famílias”, repara-se nos inúmeros lares do meio colonial. Quaisquer animais domésticos, a grosso modo, são o perfeito retrato do espírito dos seus donos. As dificuldades e a pobreza, na tradição oral, costuma instalar-se em quem desgosta e maltrata os bichos. Estes, não por mera casualidade, foram considerados, numa época, como deuses no Antigo Egito.
O indivíduo, em harmonia com os espíritos menos evoluídos, ganha facilidades em sintonia com os mais instruídos. Gatos, para os aficionados criadores, inspiram lições de agilidade e esperteza. Os felinos, na proporção de habitarem certos ambientes, costumeiramente apegam-se as casas.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: noticias.r7.com

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A anomalia genética


Inúmeras localidades, muito modestas e singelas, localizam-se no interior. Elas, nas décadas de colonização, ostentam uma particular e rica história.  A comunidade escolar e religiosa, de acordo aos acessos, definem suas divisas. Algumas mostram-se tão discretas que mal aparecem nos mapas/referências municipais.
Outras colônias abrigam um punhado de moradores tradicionais e as casas somam mal algumas dezenas. O núcleo comunitário concentra-se nalguma baixada central (onde instalou-se o comércio, escola e templo). O centro comunitário é o local próprio aos encontros e reencontros dos naturais.
Uma certa comunidade, numa década inteira, conheceu uma anomalia. Esta, na sua entidade religiosa, mantinha um quadro de devoção ímpar. Algum encontro religioso via afluir os membros dos cantos e recantos do lugarejo. Uns entendiam a ausência, nos cultos/missas, como aparente pecado. Cada família, pela recomendação da tradição, mandava no mínimo algum representante.
O local, pela história, tinha sido o espaço do surgimento de diversas vocações. Os jovens, nalgum momento, tomavam o rumo da direção das escolas de formação teológica. Cada vocação era compreendida como benção/graça divina.
O fato curioso relacionava-se a uma certa distorção genética. A última década tinha conhecido o nascimento de inúmeras crianças de cabelo ruivo. Uma situação anômala no contexto das comunidades circunvizinhas e população de predominância de origem europeia. O comum era nascer uma e outra criança ruiva, porém não em tamanho número de representantes.
Os coloniais, de outras entidades co-irmãs, passaram a reparar e comentar a particularidade. O falatório difundiu-se no contexto regional e perguntas foram surgindo sobre o tema. As lideranças comunitárias, na proporção da chegada do assunto aos seus ouvidos, passaram a importar-se com a sucessão de acontecimentos.
Uns falaram de terem tido algum antepassado de cabelos assemelhados na família. Outros em mudanças genéticas, em função do trabalho massivo ao relento das roças, com o excesso de exposição à insolação (na proporção de ostentarem pele branca). Alguns mais, na questão da mistura de povos, em decorrência das procedências variadas da velha Europa...
Os comentários arrastaram-se por umas boas semanas e meses. O assunto, numa certa ocasião, viu-se comentado no seio duma reunião do presbitério. Vários integrantes da diretoria ficaram surpresos e careceram de respostas (à anomalia). Um certo “boca grande”, como sempre tem aquela peça, sugeriu numa altura das conversas trocar de religioso. Este, idem com cabelo ruivo, precisaria dar um tempo ao trabalho pastoral. A comunidade deveria conhecer novas bênçãos e ousadas renovações. Os moradores, neste ínterim, tinham concebido uma dezena de crianças (com cabelo avermelhado em inúmeros lares).
A troca do religioso, com a concordância de uns e discordância de outros, acabou concretizada. Outro jovem profissional advenho à pratica do serviço de cura d’almas. Um sucedido ímpar aconteceu: meninas/os deixaram de nascer com essa escassa coloração no couro cabeludo. A distorção, através da extrema fé e rezas dos membros, tinha sido corrigida como deficiência e distorção. A devoção realizara outra inexplicável maravilha/milagre. Os religiosos, através das atitudes e colocações verbais, exercem uma enorme influência nos pacatos moradores do interior.
Inúmeras suspeitas acabam comentadas unicamente nos círculos íntimos das conversas familiares. Determinadas distorções e incoerências, na hipocrisia humana, costumam ser varridas nos cantos e recantos dos pátios coloniais. As anomalias possuem suas explicações e o problema reside na descoberta das reais origens. Inúmeras histórias e relatos pitorescos carecem de maiores apontamentos e registros literários. O incoerente, entre a prática e teoria, custa a angariar maior confiança e credibilidade.  
                                                                                 
   Guido Lang
                                                             “Singelas Histórias do Cotidiano Colonial”

Crédito da imagem: www.umadguar.com.br